Médicos e estudantes da área são mais vulneráveis à depressão

2 de outubro de 2020 5 mins. de leitura
Considerado a segunda maior causa de mortes de profissionais de saúde no País, suicídio pode ser uma das consequências da depressão

Escolher uma carreira na área médica sempre foi um grande desafio para os profissionais. Segundo um levantamento recente da Organização das Nações Unidas (ONU), é necessário aumentar com urgência os investimentos em serviços de saúde mental para que essa classe sobreviva a esse mal — muito além da pandemia.

Dentro dos hospitais, a realidade é ainda mais complexa para tratamento e assistência a profissionais da saúde. (Fonte: Pixabay)
Dentro dos hospitais, a realidade é ainda mais complexa para tratamento e assistência a profissionais da saúde. (Fonte: Pixabay)

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Segundo a Fundação Americana para Prevenção do Suicídio, entre 2000 e 2009 o suicídio foi a segunda maior causa de morte de médicos no Brasil, perdendo apenas para acidentes automobilísticos, que, em muitos casos, podem ter a mesma raiz.

A instituição indica que a rotina dedicada muitas vezes exclusivamente ao trabalho, a proximidade com situações de alta vulnerabilidade dos pacientes, os desentendimentos conjugais e a precariedade de recursos de trabalho estão entre os principais motivos que acentuam a depressão e podem levar ao suicídio.

Investimento em saúde mental

Além da latente necessidade de aumentar os investimentos financeiros em programas voltados para a saúde mental de estudantes e médicos, é importante ressaltar o outro lado dessa realidade. O que acontece dentro dos hospitais, segundo relato divulgado pela ONU reforçando a acentuação dos casos de depressão da classe principalmente após o início da pandemia da covid-19, está relacionado a cargas de trabalho cada vez mais pesadas somadas ao inerente risco de contaminação e ao consequente isolamento social.

Segundo a organização, desde o início da crise a taxa de depressão desses trabalhadores chegou a nada menos do que 50% dos profissionais pesquisados na China; ao mesmo tempo em que outros males como o aumento do consumo exagerado de álcool se acentuaram, chegando a 20% dos canadenses entre 15 anos e 49 anos de idade.

Como vencer esse combate?

A falta de entendimento ou aceitação dos sinais clássicos da doença é um dos principais motivos que impedem a busca por ajuda. Entre os mais variados sintomas ou agravantes estão altos níveis de estresse e situações mais severas, como traumas conjugais ou sociais e mudanças bruscas no ambiente de trabalho, como os causados pela pandemia, que podem impulsionar o surgimento desse tipo de quadro.

Médicos em fila aguardando no corredor de hospital
Isolamento e exposição acentuada a situações de vulnerabilidade podem agravar quadros de depressão. (Fonte: Pixabay)

Outro problema desse cenário, segundo a Fundação Americana para Prevenção do Suicídio, é a facilidade que as pessoas da área encontram para a automedicação ou a prescrição solicitada a colegas e a dificuldade de aceitar a necessidade de buscar a ajuda de um especialista, muitas vezes por entender esse ato como uma fraqueza que não deve ser exposta aos parceiros de profissão ou mesmo pela falta de tempo hábil para agendar uma consulta em ambiente adequado.

Engajamento para prevenção

Em virtude dos altos índices de depressão no País e todo o cenário de carência em ações efetivas não somente para a classe médica mas também para toda a sociedade, há seis anos a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) lançaram o movimento Setembro Amarelo com o intuito de reforçar a prevenção ao suicídio.

Segundo a organização, em média 60% das pessoas que cometeram o ato não buscaram auxílio de profissionais especializados em saúde mental em nenhum estágio da doença, o que torna ainda mais necessário manter o estímulo ao engajamento social sobre a questão, educando e direcionando práticas efetivas para reduzir cada vez mais essa realidade. O reconhecimento não somente do indivíduo mas também da família e dos amigos ou colegas de trabalho pode facilitar a busca por tratamento.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, ressalta em comunicado divulgado em maio de 2020 a necessidade de considerar a questão como uma obrigação social: “Essa é uma responsabilidade coletiva dos governos e da sociedade civil, com o apoio de todo o Sistema das Nações Unidas. Uma falha em levar o bem-estar emocional das pessoas a sério levará a custos sociais e econômicos em longo prazo para a sociedade”.

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Fontes: APMTSP – Associação Paulista de Medicina do Trabalho, OPAS/OMS – Organização Panamericana da Saúde e Organização Mundial da Saúde, Ministério da Saúde, Psychiatry online Brasil.

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