Nova descoberta pode melhorar tratamento do autismo

22 de outubro de 2020 4 mins. de leitura
Cientistas conseguiram mapear movimento ocular para entender as dificuldades sensório-motoras de pessoas com autismo

Um novo estudo sobre as causas das deficiências sensório-motoras prevalentes no autismo pode abrir caminho para um tratamento melhor. Em uma publicação no Journal Brain, cientistas das universidades de Exeter e Bath apresentam novas evidências sobre uma série de processos neurobiológicos complexos presentes em pessoas autistas.

O autismo é uma condição de neurodesenvolvimento que se manifesta de maneira grave por toda a vida e aparece, geralmente, nos três primeiros anos de vida. A doença não tem uma causa óbvia, mas pode estar relacionada a fatores genéticos ou infecções virais. 

A doença é diagnosticada em até 2% de toda a população e é quatro vezes mais frequente no sexo masculino do que no feminino. A condição atinge pessoas em todo o mundo, independente de raça, etnia ou condições sociais.

Dificuldades dos pacientes autistas

A condição normalmente gera dificuldades persistentes na comunicação e interação social, como também provoca padrões restritos e repetitivos de comportamento, atividades ou interesses. Além disso, as deficiências sensório-motoras são consideradas características centrais do autismo.

As características desse transtorno podem incluir sobrecarga sensorial, coordenação mão-olho prejudicada e falta de jeito em geral. Além dos desafios bem documentados tradicionalmente associados ao autismo, essas deficiências representam um grande obstáculo para os indivíduos e normalmente duram toda a vida.

Apesar disso, “há atualmente uma falta real de conhecimento científico sobre essas características e uma ausência de intervenções baseadas em evidências para gerenciar essas dificuldades da vida diária”, afirmou Dr. Gavin Buckingham, um dos autores da publicação e professor do Departamento de Ciências do Esporte e da Saúde da Universidade de Exeter em comunicado à imprensa.

Descobertas sobre autismo

Cientistas concluíram que autistas também realizam movimentos previsíveis ao manipular objetos. (Fonte: Universidade de Bath)
Cientistas concluíram que autistas também realizam movimentos previsíveis ao manipular objetos. (Fonte: Universidade de Bath)

Os pesquisadores usaram tecnologia de ponta de rastreamento ocular e captura de movimento móvel para entender mais sobre as causas dessas dificuldades e como elas podem ser mais bem gerenciadas. Eles testaram uma série de processos e mecanismos associados a dificuldades sensório-motoras em mais de 150 pessoas com e sem autismo.

Os resultados do estudo mostraram que pessoas autistas levantam novos objetos de uma maneira tão previsível quanto pessoas não autistas. Isso é importante porque muitas habilidades e comportamentos da vida diária dependem da capacidade do indivíduo de prever o mundo e agir de acordo com suas expectativas anteriores.

O professor Mark Brosnan, diretor do Centro de Pesquisa Aplicada ao Autismo da Universidade de Bath, ressalta a importância da descoberta: “Ao avançar nossa compreensão dos desafios que as pessoas autistas enfrentam ao tentar prever um mundo imprevisível, essa pesquisa terá grandes implicações para a prática. A equipe já está explorando as implicações práticas dessa pesquisa em ambientes de realidade virtual”.

Diagnóstico e tratamento

Crianças autistas devem ser acompanhadas por uma equipe multidisciplinar em seu tratamento. (Fonte: Shutterstock)
Crianças autistas devem ser acompanhadas por uma equipe multidisciplinar em seu tratamento. (Fonte: Shutterstock)

O diagnóstico do autismo é realizado através de entrevista e histórico do paciente. Normalmente, os pais são os primeiros a notar algo diferente nos filhos autistas. Entretanto, há famílias que levam anos para perceber algo anormal na criança, o que pode atrasar o início de uma educação especial. 

A observação é importante, pois quanto antes se inicia o tratamento, melhor é o resultado. As famílias devem observar se o bebê mostra-se indiferente à estimulação por pessoas ou de brinquedos, focando sua atenção por longos períodos em determinados itens. 

O tratamento deve ser feito por uma equipe interdisciplinar, formada por médico, psicólogo, fonoaudiólogo, pedagogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta e orientador familiar. O envolvimento da família é fundamental para o sucesso da terapia. Alguns pacientes necessitam de medicação.

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Fontes: Universidade de Bath, Journal Brain, Universidade de Exeter, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

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