Evento promovido pela Faculdade de Medicina da USP discutiu as aplicações e as limitações do ChatGPT na área de Saúde
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A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) realizou um simpósio dedicado ao ChatGPT na área de Saúde na noite desta segunda-feira (20). Logo no início do evento, Luciano Ramalho, consultor da Thoughtworks Brasil, demonstrou um experimento com as principais potencialidades e limitações da inteligência artificial (IA).
Ao chatbot, Ramalho perguntou “Quem foi dr. Arnaldo, homenageado pela avenida em São Paulo?”. A ferramenta elaborou um texto com três parágrafos, ressaltando a importância do médico para o desenvolvimento da saúde pública no Brasil, mas cometeu um erro em relação à data de falecimento do profissional.
“Você não pode usar a ferramenta sem saber qual é a finalidade dela e quais parâmetros ela utiliza para escrever um texto”, alertou Carlos Gilberto Carlotti Júnior, reitor da Universidade de São Paulo (USP). Porém, ele considera que, se a lógica for compreendida, a tecnologia pode colaborar com a Medicina em diversas áreas, como diagnóstico e realização de consultas.
O ChatGPT é um modelo de linguagem natural que utiliza uma base gigantesca de dados para construir textos coerentes e plausíveis. Para criar conteúdo, a ferramenta calcula a probabilidade de uma palavra aparecer em uma frase a partir de um algoritmo desenvolvido pela empresa OpenAI.
“Há muita complexidade por trás, mas com uma apresentação surpreendentemente simples”, analisou Ramalho. Ao lado das supermáquinas, uma grande equipe de colaboradores humanos atua como um filtro da plataforma. As pessoas são responsáveis por classificar as frases que podem ser definidas como respostas inadequadas.
Em dois meses, a ferramenta alcançou mais de 100 milhões de usuários. “Estamos vivendo um momento de hype, de promessas exageradas em relação ao estado atual”, avaliou o consultor. A tecnologia pode ser usada para resumir e até elaborar textos, mas desconhece o significado do conteúdo e necessita de controle para corrigir erros e validar informações.
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O ChatGPT tem grande potencial na Saúde, pois estabelece um nível de conversa mais avançado. “Pode servir como uma unidade de front na interação de pacientes de forma mais natural”, disse Chao Lung Wen, presidente da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde (ABTMS).
A tecnologia pode aumentar a capacidade de telemonitoramento, como a gestão de pessoas em domicílio, além de realizar orientações básicas sobre medicamentos e efeitos colaterais. No entanto, a ferramenta precisa ser alimentada com bases mais específicas e sólidas e monitorada constantemente por profissionais de Saúde.
O ChatGPT é apenas um tipo de inteligência artificial. “Ele fundamentalmente não é o suprassumo da tecnologia”, considerou Wen. Outras ferramentas, como cirurgias robóticas e análise de imagens para pré-diagnóstico, estão em estágios mais avançados com aplicações práticas e seguras na Medicina.
O ChatGPT pode ajudar a pesquisa e o ensino da Medicina ao contribuir com o debate sobre validação de informações na área de Saúde, que enfrenta o desafio de lidar com fake news. A tecnologia estimula o desenvolvimento de novos formatos de avaliação na sala de aula com mais discussões colaborativas em grupo e menos produção textual individual.
A ferramenta pode ser usada para conhecer os limites e os potenciais usos dos algoritmos na Saúde. “Ensinar estudantes a lidar com inteligência artificial desde o início da formação na graduação ajuda a trabalhar melhor com outras ferramentas”, avaliou Patricia Tempski, coordenadora do Centro de Desenvolvimento de Educação Médica (Cedem/FMUSP).
Apesar da moda do modelo de linguagem, a tecnologia ainda é incipiente e está em constante evolução. “Entre o potencial e a realidade, é um longo caminho, e parece que o ChatGPT ainda está distante do que seria uma utilização para produzir textos científicos de qualidade”, refletiu Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Fonte: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)