Brasil é um dos países que menos realiza testes para detectar o coronavírus
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Enquanto o crescimento do número de casos de covid-19 torna o Brasil o epicentro mundial da pandemia, muitas atividades econômicas são autorizadas a voltar a funcionar no País. Isso reacende o debate sobre a imunização de grupo, uma das estratégias para criar uma proteção na população e evitar o avanço da crise sanitária.
Dados sobre o avanço da doença e evidências científicas, entretanto, mostram que é preciso aprofundar mais o entendimento dessa realidade. A subnotificação, principalmente em locais com poucos testes, como no Brasil, dificulta a tomada de decisões mais seguras para anunciar o fim da quarentena.
Para suprir essa deficiência, modelos matemáticos e estudos como Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19 no Brasil: Estudo de Base Populacional (Epicovid19-BR) tentam apresentar um retrato mais próximo da realidade. Os números ajudam a esclarecer a viabilidade da imunidade de rebanho como estratégia segura.
O conceito de imunização de rebanho é bastante difundido para controlar doenças por meio de vacinação, entretanto, sem uma vacina para o novo coronavírus, alguns líderes chegaram a defender uma abertura para alcançar a imunidade de rebanho. Para chegar a esse nível, especialistas apontam que 60% a 80% da população devem ser expostos à covid-19. Cientistas questionam a eficácia da estratégia.
A dinâmica do Sars-Cov-2 não é totalmente conhecida, em especial em relação a como funciona a imunidade do organismo. Uma intensa mutação genética do vírus e casos de possíveis reinfecções foram registrados. Também não há consenso científico de quando uma pessoa curada deixa de ser uma fonte de disseminação do vírus.
Ainda virtualmente eficaz, a proporção de infectados pela covid-19 no mundo é baixa. Segundo a Universidade John Hopkins, 6,7 milhões de pessoas contraíram o novo coronavírus no mundo, o equivalente a menos de 1% da população. No Brasil, os 615 mil casos confirmados não alcançam nem 0,5% dos 212 milhões de cidadãos.
Dessa forma, a imunidade de grupo ainda está muito longe de ser alcançada. Para chegar ao nível possível sem a vacinação, o custo humano seria muito alto. Até o momento, 400 mil óbitos foram registrados no mundo, e uma imunização por exposição ao vírus poderia causar mais 24 milhões de mortes globalmente.
Uma das características conhecidas pela comunidade científica sobre a covid-19 que contribui para a subnotificação é o grande número de pacientes sem sintomas. Segundo estudos científicos consolidados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo menos metade dos infectados pelo coronavírus é assintomática.
A proporção de pessoas com sintomas leves, que conseguem se recuperar sem tratamento hospitalar, também é alta. De cada cinco infectados, apenas um desenvolve sintomas graves como dificuldade de respirar, e os casos leves tendem a não serem testados nem contabilizados nos números oficiais.
Para cada paciente de covid-19 registrado oficialmente existem setes casos reais de infecção por coronavírus nos principais centros urbanos brasileiros. Essa informação é da Epicovid19-BR, primeira pesquisa sobre a pandemia no País. O estudo foi realizado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) com o apoio do Ministério da Saúde.
Os pesquisadores alertam que os números reais no Brasil não podem ser calculados a partir do estudo. Para o levantamento, 25 mil pessoas em 133 cidades selecionadas foram testadas e entrevistadas, no entanto, foram utilizados apenas dados de 90 cidades, que representam 54 milhões de habitantes ou cerca de 25% da população nacional. Nesses locais, foi possível examinar pelo menos 200 indivíduos, tornando a amostra representativa.
A Epicovid19-BR evidencia que as diferenças epidemiológicas nas regiões e nos municípios brasileiros é marcante. Das 15 cidades com maior prevalência de infectados, 11 estão na Região Norte, duas no Nordeste (Fortaleza e Recife) e duas no Sudeste (São Paulo e Rio de Janeiro). A cidade de Breves, no Pará, registrou a maior proporção de doentes, estimada em 25%, em cerca de 25 mil dos 103 mil habitantes da cidade.
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Fonte: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Agência Brasil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Universidade John Hopkins, Organização das Nações Unidas (ONU) e Pebmed.