segundo a OMS, saúde humana está ameaçada por doenças animais geradas a partir do uso inadequado de antibióticos
Publicidade
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), agência responsável por assegurar a melhoria da segurança alimentar e do desenvolvimento agrícola, alerta para os danos à saúde humana quando antibióticos são usados excessivamente na agropecuária.
“Como nós podemos eliminar a fome ou melhorar a sustentabilidade quando não podemos curar animais doentes? Como podemos reduzir a pobreza rural quando as drogas dadas para agricultores doentes e suas famílias não mais têm efeito?”, questionou a vice-diretora da FAO, Helena Semedo.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) também alerta para essa questão; por isso, promoveu a Semana Mundial do Uso Consciente de Antibióticos, a fim de conscientizar sobre os impactos sociais, econômicos e ambientais causados pela resistência a antibióticos.
Quando medicamentos antibióticos são superdosados ao longo do tempo na criação de animais, em vez de auxiliarem a neutralizar agentes de doenças, acabam fortalecendo gradualmente esses micróbios e se tornam inúteis.
A partir dessa resistência adquirida, as doenças começam a se propagar entre os animais criados para o consumo humano e afetam também os seres humanos através do contato dos animais com os trabalhadores responsáveis pela sua produção, transporte e comércio — além, é claro, do consumo de sua carne e de produtos derivados.
Devido a essa crescente proliferação de enfermidades na agropecuária, sete em cada dez doenças humanas descobertas recentemente são de origem animal. O dado aponta emergência referente à saúde global, sendo necessários esforços imediatos no setor mundialmente para reverter a situação. A resistência a antibióticos é um processo natural de adaptação dos agentes infecciosos, porém o ritmo em que isso vem acontecendo não é natural.
É evidente que o problema reside na forma como remédios são administrados na agropecuária; isso porque, em casos de criação intensiva, quando medicamentos são ainda mais necessários, os níveis de resistência a antibióticos dos animais são maiores que a média.
Vários pontos se somam nesse problema complexo da agropecuária. Pequenos agricultores, por exemplo, geralmente não têm meios de optar por métodos de criação livres de antibióticos, não têm acesso à informação de como administrá-los ou mesmo acesso a bons medicamentos. Por mais que o setor agropecuário esteja avançando na luta contra a resistência aos antibióticos, ainda é necessário maior esforço para frear esse processo desequilibrado.
Como consequência de tal resistência, certas doenças humanas que atualmente possuem tratamento, como infecções respiratórias, urinárias e sexualmente transmissíveis, poderão deixar de ser tratáveis com os medicamentos disponíveis. Segundo a OMS, cerca de 700 mil pessoas morrem a cada ano em todo o mundo devido a infecções resistentes aos medicamentos.
Antibióticos na agropecuária devem ser utilizados somente se forem prescritos por um veterinário, adquiridos a partir de fontes confiáveis e distribuidores oficialmente autorizados, usando os medicamentos exatamente como foram prescritos (dosagem e duração designadas pelo veterinário) e associados a práticas de higiene e boa saúde animal.
A conscientização começa pelo método de criação na agropecuária: para que os antibióticos façam efeito, precisam ser raramente necessários. Animais criados em ambientes mais amplos, mais higiênicos, com acompanhamento veterinário contínuo e consumindo alimentos de qualidade apresentam menos doenças. É um investimento do produtor que o compensa economicamente e auxilia na luta contra a disseminação das doenças em animais e humanos.
No Brasil, foi lançado em 2018 o Plano Nacional de Prevenção e Controle de Resistência aos Antimicrobianos, que visa conscientizar a população a respeito da resistência a antimicrobianos e seus riscos, fortalecer a base científica para garantir antimicrobianos eficazes e seguros para prevenir e tratar doenças, analisar a redução da incidência de doenças por meio de saneamento, higiene e prevenção em geral, bem como investir em pesquisas para criar novas terapias, métodos de diagnóstico e vacinas. Mundialmente, outros esforços também estão sendo feitos.
Fontes: Nações Unidas, Governo do Espírito Santo, Fiocruz.