Médicos de gêneros diferentes, apesar de seguirem a mesma jornada de trabalho, têm rendimentos divergentes
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A diferença salarial entre os profissionais de medicina foi alvo de um estudo para a quarta edição da Pesquisa Demografia Médica no Brasil, em 2018. A análise foi dirigida pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e teve apoio do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Em um questionário com 30 perguntas que foram respondidas pelo telefone, o estudo contou com dados de 2,4 mil médicos distribuídos por todo o Brasil. Foram coletadas informações sociodemográficas (local, gênero, idade) e relacionadas à profissão, incluindo quantidade de plantões realizados, jornada de trabalho por semana, anos de experiência e especialidade em que atuam.
Os resultados mostraram que, além de estarem longe de alcançar o topo da pirâmide salarial, as profissionais do sexo feminino recebem salários menores do que os do sexo masculino. O cálculo dos pesquisadores indicou que 80% das mulheres da área ocupam as três classes de renda inferiores; enquanto 51% dos homens estão nas três faixas mais elevadas de rendimento.
Ainda que as jornadas de trabalho diferentes pudessem influenciar na renda mais baixa delas, os pesquisadores resolveram fazer um ajuste mais detalhado dos dados. A nova comparação entre profissionais com jornadas parecidas ainda indicava que as mulheres recebem menos do que os homens. Não foi encontrado um fator que explicasse o abismo salarial entre os profissionais de medicina a não ser a diferença de gênero.
Entre os médicos que trabalham entre 20 horas e 40 horas semanais, 2,7% são mulheres e recebem cerca de US$ 10.762 (equivalente a R$ 42.780), enquanto os outros 13% que recebem o mesmo valor são do sexo masculino. Em relação a níveis salariais mais elevados, 17% são direcionados aos homens e apenas 4% para as mulheres. Os pesquisadores informaram que os valores foram autodeclarados, portanto podem existir informações subestimadas.
De acordo com a primeira autora do estudo, Giulia Mainardi, até mesmo nas especialidades dominadas pelas profissionais e com pior remuneração (clínica geral, ginecologia e pediatria) não há explicações para a diferença salarial. “As características relacionadas ao trabalho não influenciam, não estão associadas a essa diferença.
Isso sugere que existem outras variáveis que podem estar influenciando e precisam ser estudadas’, afirma Mainardi. Ela ainda reforça que a profissão está caminhando para a feminização.
Dados apresentados pela Demografia Médica do CFM e publicados em 2018 revelam que a área médica tem 189.281 profissionais femininas e 225.550 de gênero masculino em atuação. As mulheres correspondem a 45,6%, enquanto 54,4% referem-se ao sexo masculino.
Porém, desde 2010, a população feminina vem se tornando maior que a masculina no Brasil. A cada ano, a feminização na profissão se torna mais forte e real: em 2009, a presença feminina passou a ser ainda maior entre os médicos registrados no País.
Entre os profissionais de até 29 anos de idade, 57,4% eram do sexo feminino, em comparação com 53,7% entre a faixa dos 30 anos aos 34 anos. Com isso, o número de mulheres presentes nas universidades brasileiras de medicina tem se tornado cada vez mais elevado, gerando uma tendência futura de grandes mudanças.
Fontes: Portal Pebmed, Jornal da USP.