Entenda como funciona a aplicação clínica da musicalidade
Publicidade
A música, além de ser uma manifestação artística de grande alcance, pode desempenhar papel importante em aspectos cognitivos, emocionais e físicos nos seres humanos. A musicoterapia promove uma abordagem clínica desses benefícios, utilizando som, ritmo, melodia e harmonia para oferecer benefícios individualizados a pessoas de todas as idades.
Filósofos como Aristóteles, Pitágoras e Platão já escreviam sobre os efeitos da música no comportamento e na saúde desde a Grécia Antiga. Em seu livro Política, VIII, Aristóteles pontua sobre o tema: “É o que verificamos na música sagrada, quando alguém, afetado por melodias que arrebatam a alma, recupera a serenidade, como se estivesse sob efeito de um remédio ou de uma purificação”.
A musicoterapia estruturada como método, próxima do modelo que conhecemos hoje, teve início na década de 1960, quando médicos e pesquisadores passaram a apresentar evidências, baseadas em ensaios clínicos, sobre as propriedades curativas da música.
O profissional habilitado a fazer uso terapêutico da música para diversos fins é o musicoterapeuta, que pode atuar em clínicas, escolas, centros de reabilitação, entre outros locais.
Assim como suas aplicações, as metodologias empregadas na musicoterapia são bastante diversas, incluindo jogos com o próprio corpo, cantos, ruídos e instrumentos musicais convencionais. A prática pode ser passiva, quando os pacientes apenas recebem estímulos sonoros, ou ativa, quando os indivíduos são estimulados a produzir, tocando, improvisando, compondo ou cantando conforme as dinâmicas aplicadas.
Para se beneficiar da musicoterapia ativa não é necessário ter conhecimento técnico sobre música nem saber tocar um instrumento. Ao musicoterapeuta interessa utilizar as funções expressivas, criativas e de coordenação inerentes a qualquer ser humano.
De acordo com uma entrevista cedida ao site da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Renato Sampaio, musicoterapeuta e professor da Escola de Música da UFMG, afirma que a musicoterapia pode ser trabalhada de diferentes formas. “Como o trabalho é feito em grupo, os pacientes criam uma relação de apoio entre eles, o que auxilia a diminuir o impacto do problema na vida da pessoa”, explica.
A literatura científica vem mostrando que a música age sobre aspectos do corpo humano de diversas maneiras. Sabe-se, por exemplo, que canções com forte elemento rítmico podem afetar a frequência cardíaca e a respiração, além de promover a liberação de hormônios como a endorfina, relacionada à sensação de prazer e bem-estar, capaz também de reduzir a tensão muscular.
No que diz respeito aos aspectos psíquicos, a música pode ser útil para que o indivíduo libere memórias ou sentimentos reprimidos, o que pode ajudar na melhoria de problemas comportamentais.
Produzir música também pode aprimorar habilidades de comunicação e melhorar a coordenação física. A técnica é recomendada inclusive como tratamento auxiliar no caso de pessoas com autismo, sendo eficaz na melhoria de comportamentos e interação social. Outros exemplos são auxílio a pacientes internados em UTIs, em asilos e em casos de pessoas com deficiências.
Apesar de ser uma atividade oferecida em clínicas, consultórios, escolas e outras entidades privadas, no Brasil a musicoterapia está acessível também na rede pública. Em 2017, foi integrada ao Sistema Único de Saúde (SUS) como uma das 29 Práticas Integrativas Complementares que podem ser aliadas à medicina tradicional na prevenção e no tratamento de doenças.
Segundo a União Brasileira das Associações de Musicoterapia (Ubam), o musicoterapeuta atua tanto na atenção básica, em Unidades Básicas de Saúde e Clínicas da Família, por exemplo, quanto na atenção especializada, para acompanhamento de doenças crônicas, saúde de pessoas idosas, reabilitação neurológica e física.
No âmbito dos hospitais, a musicoterapia está inserida como prática de humanização para internação pediátrica, oncologia e mesmo em situações de pré e pós-operatório.
Fontes: Ministério da Saúde, University of New Hampshire, UBAM, ARISTÓTELES (Política).