A falta de serviços, profissionais e conhecimento são alguns dos empecilhos sofridos por transexuais na hora de receber cuidados médicos
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O Brasil é uma referência em várias questões de saúde pública. Graças ao Sistema Único de Saúde (SUS), consegue disponibilizar vacinas, transplantes, atendimento médico e várias outras ações de forma gratuita para as pessoas, auxiliando no cuidado de brasileiros e brasileiras.
Entretanto, uma parcela da população vem sofrendo há anos com o despreparo e a falta de serviço quando precisa recorrer à Medicina. Essa é a realidade de transexuais, pessoas que têm uma identidade de gênero oposta ao sexo que foi designado. No mundo trans, ir ao médico em busca de conquistar o corpo com o qual se identifica é uma jornada cheia de desafios e que normalmente custa bem caro.
O histórico de direitos das pessoas transexuais é bastante negativo. Até 1997, era proibida por lei a cirurgia de redesignação sexual, que é a adequação dos genitais ao sexo com o qual a pessoa se identifica.
Mesmo autorizada, durante muito tempo ela só aconteceu em estabelecimentos privados e ainda assim em pouquíssimos locais do Brasil. Depois de mais de 10 anos, em 2008, o SUS finalmente começou a oferecer um tratamento chamado processo transexualizador.
Quando uma pessoa trans decide adequar o corpo ao gênero com o qual se identifica, é necessário passar por um longo e trabalhoso processo. O certo seria, durante toda essa atividade, contar com o acompanhamento de profissionais da saúde especializados no assunto.
O processo transexualizador reúne todo o atendimento necessário para pessoas em processo de redesignação sexual, oferecendo atendimento psicológico, hormonioterapia e cirurgia.
Infelizmente, a oferta não é muito ampla. O programa passa por um crescimento extremamente lento, com apenas 11 ambulatórios especializados em todo o Brasil. A distribuição desses locais que fazem o tratamento gratuito também é ruim. Só no estado de São Paulo há três desses postos. Para fechar a conta, os seguintes estados têm um ambulatório especializado: Pará, Ceará, Paraíba, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Isso deixa bem claro que existe uma altíssima concentração de tratamento gratuito nas regiões mais centralizadas do país. Para piorar as contas, segundo a revista The Lancet, existem entre 750 mil e 2,4 milhões de pessoas trans no Brasil, que contam com apenas com os 11 postos de atendimento gratuito para fazer a transição de forma segura.
Se a pessoa transexual decide fazer o processo de transição em um clínica particular, já que não tem um atendimento especializado do SUS na região ou não confia no programa oferecido pelo Governo, ela com certeza terá que arcar com valores exorbitantes. Além disso, podem acabar encontrando médicos que não tenham o conhecimento necessário para o tratamento.
Atualmente, estima-se que todo o processo de redesignação sexual, com atendimentos psicológicos, hormonioterapia e a cirurgia, custe em torno de R$ 40 mil. Dessa forma, um atendimento de confiança no privado pode custar cerca de 39 salários mínimos. Toda essa situação acaba levando pessoas trans a usar redes clandestinas para o processo.
Por conta de todos esses problemas, decidir pelas clínicas clandestinas acaba sendo a única opção para a maioria das pessoas, e as consequências dessa escolha podem ser muito perigosas. O uso errado dos hormônios pode oferecer riscos à saúde das pessoas transexuais, e a falta de acompanhamento psicológico pode acabar levando ao suicídio.
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Fontes: Portal da CFM, SBMFC, USP.