Pesquisa relaciona consumo de alimentos ultraprocessados a risco 58% maior de depressão - Summit Saúde

Pesquisa relaciona consumo de alimentos ultraprocessados a risco 58% maior de depressão

8 de março de 2025 4 mins. de leitura

Pesquisadores avaliaram os dados de 13.870 brasileiros de 35 a 74 anos Por Gabriel Damasceno – editada por Mariana Collini em 08/03/2025  O consumo elevado de alimentos ultraprocessados está associado a um risco 58% maior de desenvolver depressão persistente, caracterizada por episódios recorrentes ou contínuos por anos, segundo um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros e […]

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Pesquisadores avaliaram os dados de 13.870 brasileiros de 35 a 74 anos

Por Gabriel Damasceno – editada por Mariana Collini em 08/03/2025 

O consumo elevado de alimentos ultraprocessados está associado a um risco 58% maior de desenvolver depressão persistente, caracterizada por episódios recorrentes ou contínuos por anos, segundo um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros e publicado no Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics.

Uma das possíveis explicações para o impacto dos produtos na saúde mental é a falta de nutrientes essenciais. “O alimento ultraprocessado contém pouca fibra, que faz um trabalho fundamental na digestão. Quando esse equilíbrio é alterado, ocorre um processo chamado disbiose (desequilíbrio na flora intestinal), gerando impactos negativos no nosso corpo”, destaca Naomi Vidal Ferreira, pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e principal autora da pesquisa.

“A disbiose pode desencadear um processo inflamatório, que vai ativar, por exemplo, o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e aumentar a produção de cortisol. O corpo entende a inflamação como uma ameaça e reage com estresse. O aumento do cortisol também pode afetar o nosso humor de forma negativa, principalmente se isso acontecer por um período prolongado”, acrescenta.

Os participantes foram divididos em grupos com base na porcentagem de calorias diárias totais provenientes de produtos ultraprocessados. Um deles consumia de 0% a 19%, o outro variava entre 34% e 72%. “O grupo que consumia a maior quantidade desses produtos teve um aumento de 58% na chance de desenvolver depressão persistente”, diz Naomi.

Para avaliar o quadro de depressão, os participantes foram divididos em outros três grupos: o primeiro incluía aqueles que não receberam nenhum diagnóstico da doença; o segundo, pessoas diagnosticadas uma única vez; e o terceiro, indivíduos com dois ou mais diagnósticos, classificados como casos de depressão persistente.

Mudança na rotina alimentar

O estudo aponta que mudar a rotina alimentar pode resultar em um impacto positivo na saúde mental.

Os pesquisadores fizeram simulações matemáticas para entender o que aconteceria se os participantes deixassem de consumir ultraprocessados. O resultado mostrou que substituir 5% do consumo calórico diário desses produtos por alimentos minimamente processados poderia reduzir o risco de depressão em 6%.

“Uma redução de 10% no consumo resultaria em uma diminuição de 11% no risco, enquanto uma substituição de 20% reduziria o risco em 22%”, destaca Naomi.

A pesquisa foi realizada a partir de dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), um levantamento multicêntrico que acompanha a saúde de servidores públicos de Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória desde 2008. Ao todo, foram analisadas informações de 13.870 participantes de 35 a 74 anos.

Como se trata de um estudo de natureza observacional, ele não estabelece uma relação de causalidade. O que os resultados mostram é uma associação entre dieta e depressão, doença que acomete mais de 300 milhões de pessoas, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), e é a principal causa de incapacidade em todo o mundo.

Taxação dos ultraprocessados

Ultraprocessados são produtos industriais feitos a partir de ingredientes extraídos de alimentos, como óleos, gorduras, açúcares e proteínas, além de substâncias sintetizadas em laboratório, como aromatizantes, corantes e realçadores de sabor. “Um dos objetivos dos alimentos ultraprocessados é que eles sejam palatáveis para que sejam consumidos em grandes quantidades”, lembra Naomi.

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e publicado na revista científica Cadernos de Saúde Pública mostra que apenas 22,5% da população adulta brasileira consome frutas e hortaliças na quantidade recomendada pela OMS. Uma das causas para o baixo consumo é o valor dos produtos. Alimentos in natura costumam ser mais caros do que os industrializados.

“Os alimentos ultraprocessados, por todas as suas características, chegam ao mercado com um preço mais barato. E principalmente as pessoas de baixa renda vão recorrer a esse tipo de alimento porque é palatável e mais acessível financeiramente”, pontua Naomi.

“Uma forma que seria drástica, mas talvez uma das mais eficientes, seria taxar esses alimentos de forma mais elevada. Assim, o valor deles ficaria mais alto e seriam menos consumidos”, avalia, em sintonia com o que defendem outros pesquisadores da área.

https://www.estadao.com.br/saude/estudo-associa-dieta-rica-em-alimentos-ultraprocessados-a-risco-58-maior-de-depressao-nprm/

Foto: gpointstudio/Adobe Stock

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