Anticorpos humanos podem ser capazes de eliminar covid-19

8 de julho de 2020 5 mins. de leitura
Nova técnica se mostrou eficaz em ensaios clínicos realizados em ratos de laboratório

A velocidade de disseminação do coronavírus forçou cientistas a buscarem alternativas para o tratamento e a imunização contra a covid-19. De acordo com a Universidade Johns Hopkins, em um semestre de crise sanitária o Sars-Cov-2 infectou mais de 9 milhões de pessoas e causou cerca de meio milhão de óbitos.

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Para encontrar uma solução ágil, os pesquisadores vêm testando contra o coronavírus a eficácia de tratamentos ou vacinas utilizadas no combate a outras patologias. Seguindo esse caminho, uma equipe liderada pelo Instituto de Pesquisa Scripps, nos Estados Unidos, adaptou para a covid-19 uma abordagem que teve êxito contra ebola e o vírus sincicial respiratório (VSR), causador de pneumonia.

A pesquisa, publicada na revista científica Science, oferece base para uma reação veloz contra a pandemia viral mortal e crescente. Além disso, prepara o terreno para ensaios clínicos e testes adicionais com anticorpos, que podem ser aplicados em tratamentos eficientes e preventivos para a covid-19.

Identificação de superanticorpos contra covid-19

Cientistas isolaram mais de mil células B, que se mostraram capazes de produzir respostas imunológicas contra a covid-19. (Fonte: Shutterstock)

A nova abordagem procura identificar, no sangue de pacientes em recuperação, anticorpos que neutralizam a capacidade do vírus de infectar células. Nessa pesquisa, cientistas da Universidade da Califórnia coletaram amostras de 17 pessoas que se curaram de infecções leves e graves provocadas pelo coronavírus.

Os cientistas do Instituto de Pesquisa Scripps e da organização não governamental International AIDS Vaccine Initiative (IAVI), dedicada à produção de anticorpos, desenvolveram células de teste que expressam o ACE2, receptor que o Sars-CoV-2 usa para entrar nas células humanas. Em um conjunto de experimentos iniciais, os pesquisadores testaram se o sangue com anticorpos de pacientes poderia se ligar ao vírus e impedi-lo de infectar as células de teste.

A equipe conseguiu isolar mais de mil células B, que foram capazes de produzir anticorpos com respostas imunes distintas contra o coronavírus. Os especialistas sequenciaram geneticamente os anticorpos produzidos e, ao observarem essas proteínas individualmente, identificaram várias que, mesmo em pequenas quantidades, poderiam bloquear o vírus nas células de teste.

Produção em laboratório

A partir do sequenciamento genético, os anticorpos puderam ser reproduzidos em laboratório com métodos biotecnológicos. As substâncias criadas podem, então, atuar como tratamento no bloqueio ao desenvolvimento da doença ou, ainda, como um preventivo semelhante a uma vacina, que circula no sangue por várias semanas para proteger contra infecções.

Os anticorpos são considerados uma das últimas linhas de defesa no sistema imunológico e podem levar alguns dias para entrar em ação. Anticorpos fabricados em laboratório para imitar os naturais são muito mais rápidos e têm sido utilizados no tratamento de uma enorme variedade de enfermidades, como artrite e doença de Crohn.

Testes em ratos

Anticorpos humanos neutralizaram infecções por coronavírus em ratos de laboratório. (Fonte: Shutterstock)

Entre os anticorpos encontrados na pesquisa, foi definido que um poderia também proteger ratos contra a forte exposição viral. Os pesquisadores usaram o peso dos animais como um indicador da progressão da doença: se eles o mantivessem, isso indicaria que não ficaram tão doentes. Aqueles que receberam uma dose de anticorpos simulados perderam 13% do peso em comparação com os que receberam a dose mais alta do anticorpo superpotente do coronavírus.

Cinco dias após a infecção, aproximadamente dois dias antes de os ratos se recuperarem, os pesquisadores mediram os níveis de carga viral no tecido pulmonar dos animais. Os resultados confirmaram a relação com a perda de peso, mostrando que os indivíduos tratados com os anticorpos contra a covid-19 se saíram melhor.

Possíveis usos do tratamento

O sucesso de anticorpos potentes em ratos abre a possibilidade para estudos clínicos com humanos, de acordo com os autores do artigo. Em princípio, a injeção desses anticorpos em pacientes poderia ser realizada no estágio inicial de infecções por coronavírus, para reduzir o nível do vírus e proteger contra reações mais graves.

As substâncias imunológicas também poderiam fornecer, de forma temporária, algo semelhante a uma vacina contra o Sars-Cov-2 para profissionais de saúde, idosos e outros grupos de risco, além de pessoas com suspeita de exposição ao vírus.

O trabalho, que incluiu o desenvolvimento dos modelos de infecção celular e animal, foi concluído em menos de sete semanas. Se mais testes de segurança em animais e em humanos correrem bem, é possível que os anticorpos possam ser usados em ambientes clínicos já em janeiro de 2021, afirmaram os pesquisadores.

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Fontes: Universidade de Hopkins, Science Magazine e Instituto Scripps de Pesquisa.

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