Paradoxo da atenção primária à saúde

5 de julho de 2021 3 mins. de leitura
Atenção Primária à Saúde não pode ser alvo de descaso político

Por Luisa Portugal*

Encontrei uma querida amiga médica de Família e Comunidade, com anos de dedicação à  Atenção Primária à Saúde (APS) e à Saúde Pública, que me disse estar desanimada com o que  está vivenciando dentro da APS e que estava estudando Medicina de Urgência, como um plano B de vida, um escape, uma fuga. Sinceramente, não a recrimino.

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Eu também tenho meus planos  B, C, D e até o E. O que me ocorreu, após esse encontro, foi a reflexão sobre este campo de  atuação: a Atenção Primária à Saúde. Ali, a área que cuida de todas as faixas etárias e ciclos de vida, independente de sexo, deficiência, idioma, religião, posição econômica ou qualquer outra questão.  

Campo de atuação que precisa ser resolutivo e atender até 85% de todos os problemas de saúde, sendo a base do Sistema Único de Saúde (SUS). Foi nele que me repousei como médica, encontrando, dentre os profissionais qualificados para essa  atuação, as pessoas mais felizes e realizadas e ao mesmo tempo as mais tristes e frustradas. Um paradoxo. 

A APS no Brasil, em sua maioria, está dentro do SUS, e este ora é olhado de perto (mesmo que com  uma dificuldade severa, “como uma hipermetropia grave”), ora é ignorado, ora até mesmo violentado. 

Desse modo, os profissionais dessa área passam pelo mesmo ciclo. Hoje, existe incentivo; amanhã, descaso.  Hoje, ganhamos na loteria; amanhã, perdemos tudo apostando. Porém, parece que as apostas do  momento não incluem as APS. O fenômeno é o de sempre: a Atenção Primária à Saúde depende de vontade política, e esta é a própria definição de ciclicidade. 

O representante do momento coloca “energia” para começar a desenvolver algo, mas o próximo eleito entende que não pode dar continuidade a um programa que foi destaque no governo passado, e disso ocorre o retrocesso. Assim, a história segue em um ciclo sem fim. De altos e baixos. De gente feliz e triste. Com saúde ou adoecidas. Até quando?

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*Luisa Portugal é médica formada pela Universidade Católica de Brasília, especialista em Medicina de Família e Comunidade.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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