Covid-19: número de casos pode ser 80 vezes maior

19 de julho de 2020 4 mins. de leitura
Epidemiologistas acreditavam que os casos nos EUA estavam subnotificados; novo estudo mostra a real dimensão do surto inicial

Um novo estudo, realizado pela Universidade Estadual da Pensilvânia (Estados Unidos), analisou estatísticas de saúde e fez modelos matemáticos para reforçar algo que muitos profissionais de saúde já observavam na prática: os casos de covid-19 estavam subnotificados, em especial no início do surto. De acordo com a pesquisa, o número de infectados pode ser até 80 vezes maior do que o reportado, e a velocidade com que esse valor aumentou foi o dobro do que se imaginava.

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O trabalho se concentrou em dados divulgados no começo da crise pelas 50 unidades federativas dos Estados Unidos. Os números indicam que, quando o país tinha 100 mil casos de covid-19 registrados de forma oficial, a quantidade real estava perto de 8,7 milhões.

“Em um primeiro momento, nós não conseguíamos acreditar que as nossas estimativas estavam corretas. Mas percebemos que as mortes, em todo o país, estavam dobrando a cada três dias, e que nossa estimativa da taxa de infecção era consistente com essa duplicação desde que o primeiro caso foi reportado”, explicou o professor da Penn State e coordenador do estudo, Justin Silverman.

Covid-19 pode ter se alastrado ainda mais rápido pelos EUA (Fonte: Pexels)
Covid-19 pode ter se alastrado ainda mais rápido pelos EUA. (Fonte: Pexels)

Como foi feito o estudo?

O registro de casos de covid-19 como se fossem outras doenças foi um dos principais fatores que levaram à subnotificação. Em vista disso, os pesquisadores da universidade reuniram os dados do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) em busca de casos de “enfermidades semelhantes à gripe” em três semanas de março de 2020, quando a covid-19 estava se alastrando pelo país.

Foi estimado o número de casos que não poderiam ser atribuídos ao vírus influenza nem às variações sazonais típicas de outros problemas respiratórios. Dessa maneira, os pesquisadores chegaram ao “excesso” de registros similares à gripe comum, apresentando uma correlação quase perfeita com o crescimento do surto de covid-19.

“Isso sugere que os dados de doenças semelhantes à gripe por influenza estão captando casos de covid e que, aparentemente, há uma população não diagnosticada muito maior do que se imaginava”, resumiu Silverman.

Um novo olhar sobre a covid-19

A análise mostra que os casos de gripe atingiram seu pico em meados de março, quando menos pacientes com sintomas leves passaram a procurar os serviços de saúde e medidas de isolamento social foram adotadas em todo o país.

Mesmo assim, os Estados Unidos ainda são considerados o território mais atingido pela covid-19 no mundo, com mais de 2,3 milhões de pacientes confirmados e 122 mil mortes, de acordo com o painel atualizado pela Universidade Johns Hopkins até 25 de junho. Em segundo lugar vem o Brasil, com 1,1 milhão de casos e quase 54 mil óbitos.

Contágio rápido pode ser mais responsável por caos da pandemia (Fonte: Unsplash)
Contágio rápido pode ser o maior responsável pelo caos da pandemia. (Fonte: Unsplash)

Além de mostrar como a doença se alastrou ainda mais rápido do que se pensava, o estudo da Penn State indica um novo olhar para a pandemia de covid-19. “Nossos resultados sugerem que os efeitos descomunais da covid-19 podem ter menos a ver com a letalidade do vírus e mais com a rapidez com que a doença foi capaz de se espalhar pelas comunidades”, ponderou Silverman.

Segundo o coordenador do estudo, a baixa taxa de mortalidade somada ao rápido crescimento da doença em níveis regionais formam uma explicação alternativa para o alto número de mortes e a lotação dos hospitais em algumas regiões.

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Fontes: Universidade Estadual da Pensilvânia, Science Daily e Universidade Johns Hopkins

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