Baixo nível de poluição pode aumentar risco de paradas cardíacas

16 de março de 2020 4 mins. de leitura
Quase 92% das paradas cardíacas analisadas aconteceram por concentrações de poluentes inferiores ao padrão da OMS

Em um estudo publicado na revista The Lancet, pesquisadores da Universidade de Sydney, na Austrália, apontaram que a exposição à poluição do ar em níveis considerados baixos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) pode gerar um maior risco de parada cardíaca em curto prazo.

Foram analisados mais de 249 mil casos de paradas cardíacas extra-hospitalares entre janeiro de 2014 e dezembro de 2015 no Japão. Os dados foram cruzados com os registros do país sobre poluição do ar envolvendo material particulado nos dias próximos aos ataques.

As informações foram fornecidas pela Agência de Gerenciamento de Incêndios e Desastres do Japão, responsável pelas respostas médicas de emergência, que conta com 752 postos de bombeiros e um centro de expedição de ambulâncias.

Os índices de poluição do ar foram fornecidos pelas 47 prefeituras japonesas. Tóquio e Osaka se destacaram como as principais cidades com poluentes de veículos e Hyogo e Nagasaki, como municípios costeiros com poluentes de navios.

Poluição por material particulado

(Fonte: Shutterstock)

Segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), material particulado é uma denominação geral para um conjunto de poluentes que engloba poeiras, fumaças e todo conteúdo sólido ou líquido que se mantém suspenso na atmosfera por causa de seu pequeno tamanho.

As principais fontes de emissão desse material são veículos automotores, processos industriais, queima de biomassa e poeira suspensa do solo. O particulado também se forma a partir de gases como dióxido de enxofre (SO2), monóxido de carbono (CO) e óxidos de nitrogênio (NOx), além de compostos orgânicos emitidos por atividades de combustão e que se transformam em partículas por reações químicas.

O estudo se concentrou no material particulado com diâmetro inferior a 2,5 microns (PM 2,5), que mede cerca de 3% do diâmetro de um cabelo humano. Esse produto pode penetrar profundamente nos pulmões quando inalado e chegar à corrente sanguínea. A OMS recomenda que a concentração de material particulado com esse tamanho deva ser de, no máximo, 25 microgramas por metro cúbico, enquanto autoridades dos Estados Unidos e do Japão têm como meta a concentração de até 35 microgramas.

A pesquisa indicou que quase 92% das paradas cardíacas analisadas aconteceram quando os índices de poluição do ar estavam abaixo da concentração recomendada pela OMS. Mais de 98% dos casos ocorreram quando o nível estava abaixo dos padrões estadunidenses e japoneses. Cada 10 microgramas por metro cúbico desse tipo de poluição aumenta em 1% a 4% o risco de parada cardíaca.

Apenas para se ter uma ideia, na região do Parque Ibirapuera, em São Paulo, o nível de poluição do ar em janeiro de 2020 chegou a 70, segundo dados da Cetesb. Araraquara (SP), cidade que tem o ar com qualidade considerada boa, teve variação de 3 a 11 no índice no mesmo período.

Pacientes idosos, com mais de 65 anos de idade, tiveram uma associação ainda maior entre a exposição à poluição do ar e o aumento de incidência de parada cardíaca. A pesquisa, porém, não encontrou diferenças significativas entre homens e mulheres.

(Fonte: Shutterstock)

Níveis seguros de poluição do ar

O estudo concluiu que “até o momento, nenhum nível mínimo de PM 2,5 é recomendado como seguro para a população em geral”. Os pesquisadores acrescentaram que “em áreas com baixa qualidade do ar ou mesmo onde o padrão-alvo foi atingindo, os padrões atuais de qualidade do ar precisam ser reavaliados, considerando-se estratégias eficazes para reduzir os poluentes do ar para o nível mais baixo possível”. Além disso, alertaram que os padrões mundiais devem ser mais rígidos.

As conclusões também apontam para a necessidade de fontes de energia mais limpas.

“Como não existe limite na qualidade do ar entre os países, é necessária uma abordagem global para resolver esse problema de saúde crucial para o nosso planeta”, completaram os autores do estudo.

Fontes: CNN, The Lancet, Science Daily, Cetesb, OMS, Universidade de Sydney.

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