Ministra da Saúde atribuiu avanços ao retorno do Zé Gotinha e à aproximação com Estados e municípios; especialista destaca, no entanto, que média de cobertura permanece muito inferior ao esperado para manter certas doenças eliminadas Por Victória Ribeiro – editada por Mariana Collini em 17/07/2024 Os índices de cobertura vacinal contra a poliomielite avançaram no […]
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Ministra da Saúde atribuiu avanços ao retorno do Zé Gotinha e à aproximação com Estados e municípios; especialista destaca, no entanto, que média de cobertura permanece muito inferior ao esperado para manter certas doenças eliminadas
Por Victória Ribeiro – editada por Mariana Collini em 17/07/2024
Os índices de cobertura vacinal contra a poliomielite avançaram no Brasil. Na comparação entre 2022 e 2023, houve uma redução de 37,24% na quantidade de crianças menores de 1 ano que não receberam nenhuma dose do imunizante. Em 2022, 243 mil crianças ficaram sem proteção, enquanto no ano seguinte esse número diminuiu para 152,5 mil. Os dados foram apresentados pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira, 23, na sede do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em Brasília.
Além do avanço na cobertura vacinal da poliomielite, tanto na versão oral quanto inativada, o MS informou que houve aumento na cobertura de outros 11 principais imunizantes presentes no calendário infantil do Programa Nacional de Imunizantes (PNI): febre amarela, hepatite A, meningocócica C (1ª dose e reforço), pentavalente (que protege contra difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenzae b – Hib e hepatite B), rotavírus, febre amarela, pneumocócica 10 (1ª dose e reforço), tríplice viral (1ª e 2ª doses, contra sarampo, caxumba e rubéola) e reforço da tríplice bacteriana (DTP).
O aumento das coberturas vacinais variou, em média, de 4 a 9%. No caso da vacina contra a poliomielite, doença popularmente conhecida como ‘paralisia infantil’, esse aumento foi de 7,5% na primeira dose e 9,2% na segunda. Contudo, o que mais avançou em termos de cobertura foi o reforço da tríplice bacteriana (DTP), passando de 67,4% em 2022 para 76,8% no ano passado.
Segundo a pasta, a melhoria nos índices vacinais pode ser atribuída ao retorno do personagem Zé Gotinha, símbolo da vacinação no Brasil, e à uma comunicação mais ampla. Além disso, a ministra Nísia Trindade também destacou o papel da estratégia de microplanejamento, no qual equipes da Pasta vão aos Estados para participar de ações como análise de dados relacionados à características geográficas, socioeconômicas e demográficas. “O microplanejamento foi fundamental para compreendermos as particularidades de cada localidade e identificarmos a estratégia de vacinação mais adequada”, afirmou a ministra.
O Ministério também divulgou que foram investidos mais de 6,5 bilhões de reais na compra de imunizantes e a previsão é que esses recursos alcancem R$ 10,9 bilhões em 2024.
Durante a apresentação dos dados, Nísia afirmou que os resultados alcançados representam um avanço em direção às metas vacinais, mas ressaltou que ainda há muito a ser feito. Isso porque, segundo a ministra, “o negacionismo do governo anterior ainda persiste, principalmente por meio da disseminação de desinformação”.
Metas vacinais e disparidades
Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca que qualquer aumento na cobertura vacinal é positivo, mas ressalta a importância de considerar as melhorias nos sistemas de informação da saúde pública, que podem ter contribuído para uma maior precisão nos registros de vacinação.
Além disso, ela alerta que, embora tenhamos avançado, a média atual de cobertura vacinal das 13 vacinas infantis que apresentaram aumento é de pouco mais de 70% e, portanto, significativamente abaixo da meta de 95%.
Vale ressaltar também que vacinas como BCG, hepatite B e varicela, caminharam no sentido oposto, com queda significativa dos índices vacinais. “Apesar do progresso, nossa média de cobertura permanece muito inferior ao esperado para manter essas doenças eliminadas”, diz Isabella.
Embora os dados por Estado não tenham sido divulgados pela Pasta, a especialista ressalta também a necessidade de considerar essa disparidade. Ela explica que os índices vacinais variam consideravelmente no País, o que pode criar áreas de risco, onde coberturas vacinais baixas tornam uma região mais suscetível a determinadas doenças.
“Nós vemos com bons olhos e sabemos dos esforços do Ministério da Saúde. A aproximação com os Estados e municípios, por meio do microplanejamento, é um exemplo disso. Entretanto, os dados recentemente divulgados precisam ser olhados levando em consideração as metas vacinais e as disparidades por regiões”, afirma a diretora da SBIm.
Foto: Wilton Junior/Estadão