O número de cirurgias bariátricas no Brasil cresceu 84,73% em 7 anos, totalizando mais de 63 mil cirurgias em 2018
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O número de cirurgias bariátricas quase dobrou no Brasil em menos de uma década. Em 2018, foram mais de 63 mil procedimentos, índice 84,73% maior que há 7 anos. Contudo, observa-se que essa popularização do procedimento representa um primeiro passo no combate à obesidade no País.
Mesmo com o aumento, estima-se que apenas 3% das pessoas com indicação para a cirurgia tenham realizado a operação. No total, cerca de 18,8% dos brasileiros convivem com a obesidade, e o tratamento seria recomendado para cerca de 13,6 milhões de pacientes.
De acordo com dados divulgados pela Agência Brasil, órgão de imprensa ligado ao Governo Federal, 77,4% das cirurgias bariátricas no País foram financiadas por convênios médicos e 17,8% foram realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que disponibiliza esse tipo de operação desde 2008. Os outros 4,8% restantes foram custeados com recursos particulares.
Esses dados dizem muito sobre quem tem acesso à cirurgia bariátrica no Brasil, uma vez que a maioria dos pacientes depende do sistema público de saúde. Segundo números da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), cerca de um quarto dos brasileiros (47,2 milhões de pessoas) é beneficiário de planos de saúde.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), que reúne profissionais da área, tem feito um constante trabalho de informação acerca da cirurgia bariátrica, afinal, além da falta de recursos para realizar a operação, muitas pessoas deixam de realizá-la por acreditar em mitos. O primeiro deles é o temor de que o procedimento seja invasivo e cause complicações. De fato, no passado, o risco de mortalidade chegava a 2% ou 3%; contudo, com os avanços na área, a operação passou a ser feita de forma minimamente invasiva, gerando problemas graves em menos de 0,5% dos casos.
Os especialistas dividem a bariátrica em dois tipos: restritivo, que foca a alteração da quantidade de alimento que o estômago é capaz de receber, e disabsortivo, que trabalha na absorção de alimentos pelo intestino delgado. Em muitos casos, porém, as técnicas são combinadas para alcançar melhores resultados.
Nesse sentido, é interessante desmistificar outra crença: a recuperação não é difícil. Os especialistas afirmam que o período de convalescência não é muito diferente do recomendado em outros tipos de intervenção cirúrgica.
Outro desafio em relação a esse tratamento no Brasil é a forma como as pessoas encaram a obesidade: é necessário reconhecer que é uma doença crônica, não apenas uma questão de vontade de emagrecer. A indicação de uma bariátrica não é feita apenas para a perda de peso, mas sim para tratar todos os problemas de saúde ligados à obesidade, como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares.
Focando apenas a questão da obesidade, a operação é indicada para pacientes que apresentam esse quadro há mais de dois anos e já tentaram outros métodos de emagrecimento, mas não tiveram sucesso. Nesse caso, é necessário reconhecer que existem outros fatores que fazem com que a intervenção cirúrgica seja a única alternativa viável.
Considera-se que uma pessoa tem obesidade mórbida e, portanto, está apta para realizar a bariátrica quando seu índice de massa corporal (IMC) está acima de 40. O IMC é calculado com base no peso e na altura: para uma pessoa que mede 1,70 metro, por exemplo, pesar mais de 116 quilos pode ser o suficiente para enquadrá-la no perfil apto para o procedimento.
Tratar a obesidade como uma doença é essencial não apenas para mostrar ao paciente o caminho adequado mas também para evitar que ele volte a sofrer com ela. Isso porque a intervenção cirúrgica não faz a obesidade desaparecer: ela é uma enfermidade crônica que demanda monitoramento pelo resto da vida.
É essencial que o paciente continue sendo acompanhado por uma equipe multidisciplinar, com profissionais que cuidem de todos os aspectos relacionados à manutenção do peso.
O endocrinologista, naturalmente, deve participar, mas é essencial a assistência de um nutricionista e de um educador físico para que hábitos saudáveis permaneçam na rotina do paciente. Por fim, recomenda-se também acompanhamento psicológico, para ajudar na adequação à nova realidade.
Para que tudo isso aconteça, é necessário voltar ao primeiro passo: reconhecer a obesidade como uma doença crônica, que necessita de tratamento médico e, possivelmente, de intervenção cirúrgica.
Fontes: Agência Brasil, Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.