Reclusão de indivíduos com suspeita de doenças é utilizada para evitar a propagação de vírus
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Desde janeiro deste ano, quando os primeiros casos de infecção pelo novo coronavírus começaram a ser detectados na cidade de Wuhan, região central da China, cada vez mais pessoas em todo o mundo têm se preocupado com a possibilidade de entrar em contato com a doença.
Com isso, duas palavras passaram a ser noticiadas com frequência: quarentena e isolamento. Elas se tornaram mais comuns com os relatos vindos de Wuhan sobre ruas vazias, pessoas entocadas em casa, sem permissão para entrar ou sair da cidade, com o intuito de evitar a propagação do vírus.
Entre o fim de janeiro e início de fevereiro, diversos governos começaram a criar ações para repatriar seus cidadãos que estavam na cidade. Um grupo de 34 brasileiros chegou em dois aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) à Base Aérea de Anápolis (GO) em 9 de fevereiro. Outras 24 pessoas que participaram da repatriação também ficaram em quarentena na própria Base.
A quarentena é um período em que pessoas que podem ter determinada doença infecciosa são observadas, para que se tenha certeza de que não estão realmente doentes. Contudo, esse período de observação é diferente de um isolamento, que acontece quando o indivíduo já está comprovadamente enfermo e tem regras mais rígidas para evitar contaminações.
O Estadão publicou uma série de relatos de um dos brasileiros que foi submetido à quarentena. Entre outras questões, o estudante Caleb Guerra (28), que morava em Wuhan, relata ter sentido saudades da vida que deixou na China, preocupação com os amigos que ainda estão no país e problemas de convivência com os demais cidadãos que estão na Base Aérea.
Quarto da Base Aérea de Anápolis (GO), onde os brasileiros trazidos de Wuhan estão em quarentena. (Fonte: Estadão)
Os repatriados receberam visitas de médicos e psicólogos todos os dias e não puderam sair daquele local, mas conviveram normalmente entre si, mantendo suas atividades diárias entre as consultas e tendo acesso ao mundo exterior por meios eletrônicos.
Apesar do nome, a quarentena não precisa durar, necessariamente, 40 dias: ela tem o tempo de incubação da doença. No caso do novo coronavírus, esse período é de 14 dias, estendido para 18 dias, considerando uma margem de segurança. Depois disso, pode-se ter certeza do estado de saúde e as pessoas podem retornar para o convívio em sociedade.
O termo surgiu na Idade Média, mais especificamente no século XIV, quando a peste negra se espalhou pela Europa. Para evitar que a doença entrasse em Veneza, autoridades da cidade determinaram que todo navio que atracasse em seus portos precisaria esperar 40 dias antes que alguém pudesse desembarcar.
O termo em italiano para essa regra, quarantino, derivado desse período de 40 dias, originou as palavras em outros idiomas para essa prática. A inspiração para a duração da quarentena, acredita-se, seria bíblica: 40 dias e 40 noites foi o tempo que Jesus passou no deserto.
Desde então, quarentenas foram adotadas por governos e órgãos de saúde em várias ocasiões. Como observa o professor de História da Medicina da Universidade de Oxford (Inglaterra), Mark Harrison, em matéria da BBC, essa prática se tornou mais comum depois da epidemia de síndrome respiratória aguda grave (Sars), em 2003.
Durante aquele surto, milhares de chineses foram monitorados, além de cerca de 7 mil canadenses, depois que o vírus atravessou o Oceano Pacífico e foi detectado em Toronto. Coincidentemente, a Sars foi causada por outro tipo de coronavírus.
Harrison analisa que, após o surto da Sars, o objetivo das quarentenas se tornou maior do que evitar o avanço das doenças: elas servem para “atender a expectativas de outros governos e para tranquilizar sua própria população”. Depois do período, os cidadãos que estavam em áreas de risco podem voltar ao convívio social normalmente. Os brasileiros que vieram de Wuhan, inclusive, fizeram testes para o novo coronavírus e nenhum deles teve resultado positivo, de acordo com a Agência Brasil.
Desde o início da epidemia do novo coronavírus, a venda de produtos de proteção cresceu exponencialmente: uma matéria do Estadão mostrou que uma empresa que fabricava cerca de 170 milhões de máscaras por ano precisou produzir mais de 0,5 bilhão delas em 1 semana para dar conta da demanda.
Os especialistas explicam que a principal forma de contágio do novo coronavírus é por gotículas expelidas quando a pessoa infectada espirra ou tosse. Essas partículas ficam em objetos e superfícies e podem entrar no corpo quando levamos as mãos à boca ou aos olhos. Portanto, a forma mais eficiente de se proteger é lavando sempre as mãos e utilizando álcool em gel para manter a higiene.
Além disso, é importante observar que os sintomas do novo coronavírus são semelhantes aos de uma gripe forte. Por isso, se você esteve recentemente em algum dos países com casos confirmados e começou a ter os sinais, procure os serviços de saúde da sua cidade.
Fontes: Agência Brasil, BBC, Estadão.