Cerca de 600 mil pessoas no mundo estão imunes ao novo coronavírus, mas número precisa ser maior para garantir segurança
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Desde que a pandemia do novo coronavírus tomou o mundo de assalto, nos primeiros meses de 2020, e levou milhões de pessoas em todo o mundo a praticarem medidas de isolamento, a pergunta a que todos tentam responder é: quando essa situação acabará? De que precisamos para que o fim da pandemia seja declarado e todos possam voltar à rotina?
Essa pergunta não tem uma resposta fácil, mas sabe-se que o conceito de “imunidade de rebanho” ou “imunidade de grupo” está entre os fatores mais essenciais, como explica a epidemiologista Fabiana Sinisgalli Romanello Campos, do Hospital São Francisco, em Mogi Guaçu (SP): “calcular a taxa de imunidade de rebanho é importante para determinar o estágio em que a epidemia se encontra em cada local”.
Caso a imunidade de rebanho esteja alta, significa que o pico da epidemia já passou naquele local e boa parte da população está imune ao vírus. Essa condição, então, ajudaria a evitar novas ondas de infecção, bem como um temido colapso nos sistemas de saúde. Dessa maneira, como explica Campos, é possível também relaxar as medidas de isolamento social ou restringi-las a locais específicos.
Estima-se que, para atingir a imunidade de rebanho, de 60% a 80% de uma população precisam estar imunes a um vírus.
Como ainda não existem vacinas para o novo coronavírus, só há uma maneira de ficar imune a ele: sendo infectado e se curando. Sendo assim, até o momento, os dados mais confiáveis para calcular a imunidade de rebanho são os números de pessoas diagnosticadas com covid-19 pelos governos e devidamente recuperadas.
Um painel divulgado pela Universidade Johns Hopkins, que compila diversos dados da covid-19, apontava cerca de 611 mil pessoas recuperadas em todo o mundo até 20 de abril. Isso corresponde a cerca de 0,008% da população mundial, estimada em 7,7 bilhões de pessoas.
No Brasil, esse número é menor: dos 210 milhões de brasileiros, apenas 14 mil estariam imunizados, de acordo com os dados divulgados pela Johns Hopkins; ou seja, 0,005%. Evidentemente, trata-se de uma taxa muito menor que os 60% a 80% considerados necessários para a imunidade de grupo.
O país com o maior número de pessoas diagnosticadas e recuperadas, por enquanto, é a Alemanha, com cerca de 88 mil casos — equivalente a 0,10% da população local. A China, que registrou os primeiros casos da covid-19, vem em segundo lugar: perto de 77 mil pessoas recuperadas, uma parcela ínfima em 1,4 bilhão de indivíduos. A Espanha também contabiliza em torno de 77 mil casos de cura do novo coronavírus, mas ainda assim seriam apenas 0,16% dos 46,5 milhões de espanhóis.
Contudo, há uma questão ainda mais importante quando o assunto é imunidade de grupo: o número de testes realizados.
Como uma boa parte das pessoas infectadas pelo novo coronavírus é assintomática ou desenvolve apenas manifestações leves da covid-19, muitas vezes elas não são testadas e não entram para as estatísticas. Assim, elas estariam imunes ao novo coronavírus, mas sem serem contabilizadas como tal para fins de imunidade de grupo.
Além disso, “até o momento, não existe como assegurar imunidade permanente”, afirma a Dra. Fabiana Campos. Como se trata de um vírus novo em humanos, que também tem grande capacidade de mutação, não é possível garantir que uma pessoa que pegou o novo coronavírus esteja imune a ele. Na Coreia do Sul, inclusive, já foram contabilizados diversos casos de reinfecção pelo novo coronavírus.
A forma mais confiável de tomar decisões, portanto, seria com a testagem em massa da população. “Realizando testes na população é possível determinar quem está com a doença e quem está imune. Isso pode ser realizado de formas estratégicas, iniciando em locais considerados epicentros da doença”, explica Campos.
Em meio a tantas questões, ainda não é possível afirmar seguramente quanto tempo seria necessário para atingir a imunidade de rebanho no Brasil, mas a especialista estima um período entre seis meses e dez meses.
Fonte: World Population Review, Universidade Johns Hopkins, Hospital São Francisco.