Estudos recentes apontam que até 10% dos homens que acabaram de ser pais podem sentir algum tipo de depressão
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Cuidar de um bebê recém-nascido envolve muito trabalho, noites sem sono e dúvidas sobre as coisas certas a se fazer. Toda essa carga emocional pode levar à Depressão Pós-Parto (DPP), uma doença que é muito comum entre as mulheres, mas que também pode acometer os homens.
O conceito de depressão pós-parto masculina é bastante recente e ainda pouco discutido, com várias razões para isso. Contudo, pesquisas já apontam que o transtorno realmente existe e precisa ser tratado. Um dos estudos mais recentes e conclusivos sobre o assunto foi apresentado pelo psicólogo Dan Sigley, da Universidade de San Diego (EUA), no Congresso da Associação Americana de Psicologia (APA), em 2018.
Segundo o especialista, nessa pesquisa, até 10% dos homens apresentaram algum tipo de depressão, e 18% deles tiveram manifestações de transtorno de ansiedade após o nascimento dos bebês.
Por um bom tempo, acreditava-se que as mulheres apresentavam oscilações de humor após o nascimento dos bebês por causa de desequilíbrios hormonais.
Contudo, pesquisas demonstraram que essa não é a única razão para a variação de ânimo, visto que mães adotivas também sentem tristeza e melancolia ao encarar a nova rotina com os filhos. Nesse sentido, os pais (adotivos ou não) igualmente apresentam esses sintomas da depressão pós-parto. Isso trouxe suspeitas de que as origens desses sentimentos também pudessem ser emocionais.
De fato, os especialistas afirmam que os sintomas depressivos nos homens, nesse caso, têm origem em questões como a privação de sono, o afastamento do trabalho e da vida social, as dificuldades em entender o novo papel como pai, além de dúvidas sobre a criação do bebê. Como os homens tendem a voltar para o trabalho mais cedo e participar menos dos cuidados com a criança, muitos deles desenvolvem o sentimento de culpa.
É interessante observar que mais do que os sintomas emocionais no pós-parto, os pais também podem sentir alterações físicas ao longo da gravidez das parceiras. Pesquisas já demonstraram que eles também sentem náuseas, dores abdominais, inchaços e alterações no apetite.
Mais do que isso, cientistas observaram até mesmo alterações hormonais, como queda de testosterona, após o nascimento do bebê. Em vista disso, fica ainda mais claro que a gravidez e o período de puerpério não afetam apenas as mulheres.
Os efeitos da depressão pós-parto nos pais podem ser também impactantes. Em 2017, uma matéria da BBC trouxe depoimentos de pais que sofreram com a doença e relataram ataques de pânico, pesadelos, dificuldades no relacionamento e inclusive pensamentos suicidas no período após o nascimento de seus filhos. Segundo um estudo da Universidade de Auckland, a DPP pode ter efeito também sobre as crianças: “Dado que a depressão paterna pode ter efeito direto ou indireto nas crianças, é importante reconhecer e tratar os sintomas cedo.”
Mas, além dos sintomas da depressão pós-parto paterna, outra questão importante sobre o assunto é a dificuldade masculina em falar sobre problemas de ordem emocional. Segundo os especialistas, eles também são reticentes em procurar auxílio de profissionais da Saúde mental, como psicólogos e psiquiatras.
Com isso, é gerado um contexto de silenciamento do problema. Entre outras questões, isso faz com que os profissionais sejam pouco preparados para reconhecer e lidar com a questão, além de deixar os homens ainda menos à vontade para falar sobre o assunto. Muitos pais relatam que suas parceiras receberam atendimento para a DPP enquanto eles não sabiam como procurar apoio.
Para reverter esse ciclo, os primeiros passos são admitir que a Depressão Pós-Parto masculina também existe e que é essencial falar sobre ela. Também é necessário que os novos pais se abram com amigos e familiares para conversar sobre as dificuldades na rotina com o bebê. Os médicos salientam que aqueles que já tem histórico de questões ligadas à saúde mental são os que mais devem prestar atenção aos sintomas da DPP masculina.
Fontes: Ministério da Saúde, BBC.