O que esperar da saúde após o pico da pandemia?

26 de outubro de 2020 5 mins. de leitura
Segundo painel do Summit Saúde 2020 abordou as expectativas dos brasileiros para o sistema de saúde depois da fase mais crítica do coronavírus

A pandemia por covid-19 pressionou o sistema de saúde, tanto público quanto privado, muito além do número de infecções por coronavírus e dos óbitos pela doença. A crise impôs um ritmo acelerado de mudança de protocolos e de aumento de leitos de UTI e respiradores, ao mesmo tempo que suspendeu e prejudicou o tratamento de outras patologias. 

Para compreender melhor os impactos da crise sanitária, o segundo painel do Summit Saúde 2020 recebeu Gonzalo Vecina, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP; Sérgio Cimerman, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia; e Eloisa Bonfá, diretora clínica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

O debate foi mediado por Fabiana Cambricoli, jornalista do Estadão, que apresentou uma enquete realizada no site do veículo entre 13 e 20 de outubro, sobre a expectativa para a saúde após o período mais crítico da pandemia. Os resultados da pesquisa foram comentados pelos convidados durante o evento.

Sistema Único de Saúde

(Fonte: Summit Saúde Brasil 2020/Reprodução)
(Fonte: Summit Saúde Brasil 2020/Reprodução)

A maioria das pessoas consultadas pelo Estadão esperam que o Sistema Único de Saúde (SUS) possa melhorar ou ampliar a cobertura de doenças de medicamentos após a crise sanitária. Apenas 7% dos consultados acreditam que o SUS deve apresentar uma piora.

“De repente, os brasileiros descobriram que ter assistência à saúde é fundamental para a civilização”, afirma Gonzalo Vecina.

O médico sanitarista aponta que, apesar de ser subfinanciado, o SUS respondeu bem à pressão exercida pela pandemia e ele espera que o sistema saia mais fortalecido da crise.

A suspensão de tratamentos e cirurgias eletivas deve gerar uma grande demanda gerada pelo acúmulo desses procedimentos. Mesmo com o retorno dos outros procedimentos e a separação de alas para pacientes infectados por covid-19 e não infectados, Eloisa Bonfá acredita que as instituições devem enfrentar diversos desafios.

“O atendimento à covid-19 foi muito mais caro do que é habitualmente”, comenta a diretora do Hospital das Clínicas da FMUSP. Por isso, “nós vamos ter uma dificuldade de recursos financeiros para o processo”, afirma.

Atendimento no SUS e no sistema suplementar

Segundo pesquisa do Estadão, não existe diferença significativa no atendimento realizado pelo SUS e pelos planos de saúde. Enquanto 72% dos entrevistados consideraram como bom o tratamento recebido no sistema suplementar, 60% avaliaram da mesma forma o atendimento realizado pelo SUS.

O índice de ruim e péssimo ficou em torno de 17% no sistema público, enquanto o privado recebeu essa avaliação de 12% dos participantes do levantamento.

Sérgio Cimerman comenta que pacientes com plano de saúde preferiram procurar o SUS para tratamento da covid-19, por conta da expertise de hospitais do sistema público, como o Emílio Ribas. Até a chegada da vacina, o hospital deve ficar dedicado a infecções do coronavírus. Isso prejudicou o tratamento para pacientes com HIV e hepatite, apesar do uso da telemedicina e da distribuição de remédios.

Financiamento do sistema público

(Fonte: Summit Saúde Brasil 2020/Reprodução)
(Fonte: Summit Saúde Brasil 2020/Reprodução)

Os investimentos realizados durante a pandemia devem continuar após a crise sanitária para garantir a sustentabilidade financeira das entidades. Eloisa Bonfá comenta a manutenção das atividades no Hospital das Clínicas.

“Para sobreviver neste período, quem está sustentando o hospital de uma forma mais concreta são os projetos covid-19, que devem ser reduzidos aos poucos”, afirma a diretora.

Vecino lembra que os recursos transferidos para o SUS ainda não insuficientes. Antes da crise, o leito de UTI era remunerado em R$ 800 por dia pelo Ministério da Saúde. Durante a pandemia, o valor subiu para R$ 1,6 mil.

No entanto, o custo diário de manutenção do leito de UTI por uma organização social na cidade de São Paulo está em torno de R$ 2,7 mil, de acordo com levantamento realizado pelo professor.

Falta de recursos

Na contramão da necessidade, o orçamento para 2021 do Ministério de Saúde foi reduzido em R$ 35 bilhões.

“Existe subfinanciamento, existe falta de leitos de UTI, e nós temos de garantir que esses legados não voltem atrás”, defende o professor da USP.

Diante da falta de recursos para compras de equipamentos e treinamento de RH, a solução para o SUS pode estar na parceria público-privada, acredita Sérgio Cimerman.

“Enquanto a gente não tiver uma um atendimento duplo de ponta, a gente não vai conseguir fazer os nossos grandes hospitais do SUS decolarem”, defende o representante da Sociedade Brasileira de Infectologia.

O Summit Saúde 2020 continua até o dia 30, sempre no período da manhã. Amanhã, no primeiro painel o evento abordará os Desafios da Saúde Suplementar, com Vera Valente, diretora executiva da FenaSaúde; e José Cechin, superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).

O segundo painel do dia será mediado por Rita Lisauskas, blogueira do Estadão e colunista da Rádio Eldorado. O encontro tratará da Incorporação de Tecnologias a Favor dos Pacientes, com a participação de Rafael Kaliks, oncologista clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor do Instituto Oncoguia; e Daniel Wang, professor de Direito da Fundação Getulio Vargas.

As inscrições para o evento online continuam abertas e são gratuitas.

Fontes: Summit Saúde 2020.

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