Monopólio de países ricos sobre as vacinas é injusto e pode levar ao surgimento de variantes como a ômicron
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Enquanto países pelo mundo começam a identificar os primeiros casos da variante B.1.1.529 do coronavírus, a Ômicron, a Organização Mundial da Saúde (OMS) faz apelos para que o mundo repense a estratégia de vacinação.
A co-diretora da Aliança Africana para a Distribuição de Vacinas, Ayoade Olatunbosun-Alakija, ganhou destaque na mídia internacional ao criticar como se deu a vacinação no mundo. Alakija criticou países ricos que falharam em cumprir as promessas de doações de vacina, comprando e monopolizando um estoque maior do que necessitavam e que, ao saber da nova variante, mais uma vez isolaram o continente africano.
Muitos países, inclusive o Brasil, emitiram um comunicado de fechamento das fronteiras para a África do Sul e outras nações africanas poucos dias após a descoberta da Ômicron. Mais tarde, quando países da América do Norte e da Europa registraram os casos, nenhum país estendeu o fechamento de fronteira para estes.
Nova variante apresenta muitas mutações na proteína Spike. No coronavírus, é essa proteína que se liga às células humanas, começando a sua reprodução e, portanto, a infecção. Se, em alguma dessas variações, for formada uma variante que se adapte melhor ao hospedeiro, é provável que esta se reproduza muito rapidamente.
Além disso, há a preocupação sobre a eficácia das vacinas contra a Ômicron, uma vez que vários dos imunizantes agem exatamente sobre a Spike. Ainda não há dados conclusivos, mas por ora os cientistas acreditam que a imunização cria proteção contra o desenvolvimento de sintomas mais graves, mesmo contra a Ômicron.
Ao se reproduzirem, os vírus cometem erros genéticos que causam mutações, quando estas são benéficas ao vírus, a nova variante se reproduz mais e vai se tornando predominante.
Lugares com pouca cobertura vacinal são propícios ao surgimento dessas variantes porque a transmissão e a circulação ampla do vírus possibilita mais reproduções e, portanto, mais variações. Enquanto a África do Sul tem 23% da população completamente vacinada, o continente africano tem apenas 7%.
Apesar da variante Ômicron ter sido descoberta na África do Sul, pode ser que ela não tenha surgido lá. Nesse sentido, o país é um dos poucos da região com tecnologia avançada para identificar variantes.
Os baixos índices de vacinação na África demonstram um problema estratégico na vacinação mundial. Logo que os laboratórios divulgaram a produção de vacinas, muitos países ricos fecharam acordos para segurar grandes partes do estoque. Alguns países, como os Estados Unidos, o Reino Unido e o Canadá, compraram estoques maiores do que o necessário para a imunização completa da sua população.
O problema é que, ao se imunizar uma parte do mundo e não outra, não se garante a segurança, uma vez que as novas mutações podem ser resistentes à vacina e, portanto, o vírus pode voltar a circular. Além disso, é claro, existe o problema ético de usar a vantagem financeira, muitas vezes criada pela exploração do continente africano para se proteger e não estender essas condições a todo o mundo. Em locais vacinados, a transmissão do vírus é menor e, portanto, a probabilidade do surgimento de variantes também.
Alakija pontuou uma série de dificuldades que a África tem para a vacinação. A maioria dos países não tem verba para a aquisição dos imunizantes e depende de acordos internacionais de doação. Além disso, falta infraestrutura para que a logística da vacinação consiga ser efetiva e chegar aos lugares mais distantes e pobres dentro do prazo de validade das vacinas. Isso porque boa parte das doações recebidas consiste em imunizantes com o prazo de validade próximo do vencimento.
Também falta financiamento para campanhas de marketing sobre a segurança da vacinação; com essa falha de comunicação, boa parte da população se recusa a tomar o imunizante.
Todos esses problemas fazem alguns países, como a Etiópia e a Nigéria, terem vacinado apenas 2% da população, enquanto o Chade ainda não tenha sequer ultrapassado a marca de 0,2%.
Com a política internacional de vacinação que prejudica a África e os países fechando a fronteira para o continente, mas não para outros países que tenham apresentado casos da Ômicron, fica a pergunta: até quando a África sofrerá com um tratamento desigual?
Fonte: Forbes, World Health Organization, SEMG.