Os riscos e as consequências da exposição a ftalatos na gravidez

7 de abril de 2020 4 mins. de leitura
Essa substância de uso cotidiano em excesso pode trazer características do espectro autista em meninos, conforme aponta estudo

Os ftalatos são compostos químicos utilizados no mundo todo em variadas funções, pois eles servem, entre outras coisas, para fazer com que desodorantes e também perfumes fiquem em suspensão no ar, deixando a fragrância em uma duração maior de tempo. Eles também servem para suavizar embalagens plásticas.

Dessa forma, por terem tantas maneiras de se utilizar, é possível encontrar os ftalatos em produtos comuns do dia a dia, como garrafas, brinquedos, medicamentos, desodorantes, perfumes, entre outros. Mas com tanta química cotidiana estamos expostos a algum mal na saúde?

Cuidados cotidianos

Um estudo realizado pela Universidade de Massachusetts aponta que a exposição dos ftalatos no útero durante uma gestação foi associada a traços de autismo em meninos com idades entre 3 e 4 anos de idade, não sendo descoberto em meninas.

A pesquisa destaca que esses traços autistas foram encontrados em meninos cujas mães haviam tomado uma dose recomendada de ácido fólico suplementar, uma vitamina para evitar má formação do feto, durante o primeiro trimestre da gravidez. Vale ressaltar que os ftalatos podem desregular o sistema endócrino, responsável pela formação dos hormônios, de um indivíduo.

(Fonte: Unsplash)

Segundo o professor Youssef Oulhote, professor assistente de bioestatística e epidemiologia na Escola Saúde Pública e Ciências da Saúde da Universidade de Massachusetts, esse é um dos maiores estudos que envolvem estatisticamente um conjunto de pessoas com um evento em comum em um mesmo período sobre ftalatos e neurodesenvolvimento.

“Uma das descobertas mais importantes é como a suplementação adequada de ácido fólico na gravidez pode compensar os potenciais efeitos nocivos dos ftalatos em relação às características autistas”, observa.

O estudo liderado pelo professor Oulhote publicado no mês de fevereiro pela revista Environmental Health Perspectives é o primeiro a encontrar um efeito protetor específico dos suplementos de ácido fólicos do composto químico. Segundo a pesquisa, é possível que essa suplementação também bloqueie os efeitos de produtos químicos que sejam tóxicos, como por exemplo pesticidas.

Embora seja de conhecimento público que o autismo venha associado à genética, os resultados dessa pesquisa mostram que a exposição durante o pré-natal a produtos químicos que podem ser tóxicos têm um papel de contribuição forte para o desenvolvimento de características do espectro autistas, com comprometimento social; o autismo afeta quatro vezes mais homens que mulheres, conforme pesquisa divulgada em 2014 pela American Journal of Human Genetics.

Pesquisa em desenvolvimento

Os envolvidos no estudo analisaram dados de um centro de pesquisas no Canadá, no qual cerca de 2mil mulheres durante o primeiro período da gravidez foram registradas entre 2008 e 2011. Por meio da coleta de urina das mulheres grávidas foi possível constatar a ingestão do suplemento de ácido fólico em excesso.

(Fonte: Unsplash)

Durante o acompanhamento das crianças, cerca de 600 delas com idades entre 3 e 4 anos foram submetidas a avaliações neuropsíquicas, incluindo também um questionário avaliativo utilizado clinicamente para constatação do espectro autista. Dessa forma, o aumento das concentrações de ftalato na urina das mulheres estudadas foram associados ao questionário, mas apenas entre crianças cujas mães não tomaram suplemento adequado de ácido fólico durante o início do período gestacional.

O estudo acerca da relação dos ftalatos e autismo em meninos continua em desenvolvimento e seus pesquisadores já publicaram cerca de 70 artigos em periódicos acadêmicos sobre o assunto. Vale lembrar que segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que existam 70 milhões de pessoas com autismo no mundo, o que representa cerca de 1% da população global. E por aqui, em torno de 2 milhões de brasileiros possuem algum grau do espectro autista.

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