Quando beber durante a pandemia deve ser um sinal de alerta?

20 de fevereiro de 2021 4 mins. de leitura
Organização Pan-Americana da Saúde revela consumo excessivo de álcool no Brasil devido à pandemia

Uma pesquisa realizada pela Organização Pan-Americana da Saúde para avaliar o consumo de bebidas alcoólicas antes e depois da pandemia da covid-19 revelou que uma parcela de cerca de 10% a 11% dos 12.328 entrevistados aumentou a ingestão de tais substâncias em decorrência das medidas de isolamento social impostas em 2020. 

A situação sempre foi motivo de preocupação para a saúde pública e, no dia 20 de fevereiro, é celebrado no Brasil o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo.

Em entrevista à Fiocruz, a especialista Zila Sanchez, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo, disse que há públicos que acabaram angustiados pelo surgimento do novo coronavírus e utilizaram o álcool como forma de automedicação, além de terem se beneficiado da facilidade de compra online. 

Isso, afirma, ampliou o chamado padrão binge de consumo – uso pesado episódico definido como a ingestão de cinco ou mais doses de bebida alcoólica em até duas horas.

“É o pior encontrado e designa o ‘beber de risco’, tendo sido reportado por cerca de 35%, 36% dos participantes durante os três meses de pandemia contemplados pelo estudo. Ou seja, a cada três pessoas, uma bebeu demais em duas horas”, descreve Sanchez.

Padrão de consumo excessivo de álcool preocupa especialistas. (Fonte: Shutterstock)
Padrão de consumo excessivo de álcool preocupa especialistas. (Fonte: Shutterstock)

Saúde pública

O Brasil se destaca em relação às regiões analisadas quando se leva em consideração a porcentagem daqueles que consumiram bebida alcoólica exageradamente durante a pandemia, com média de 42%, contra 30% a 35% em outros países. 

Zila Sanchez defende que a situação é um problema de saúde pública e traz consequências: comportamento sexual de risco, violência, intoxicação e coma. 

“Quando [o consumo excessivo] acontece constantemente, aumenta muito a chance de manifestação de diversas doenças crônicas não transmissíveis, incluindo câncer”, complementa.

“A gente não tem que se ater só ao risco de quem bebe. Muitas vezes, essa pessoa ameaça outras, seja porque pegou o carro e se envolveu em um acidente ou porque pratica violência doméstica e até mesmo abuso sexual sob o efeito de álcool”, exemplifica.

Um outro aspecto que demanda atenção, aponta, é que, a substância por si só reduz a imunidade, comprometendo a reação do organismo ao Sars-CoV-2. “Além de tudo, quando você está intoxicado, você se protege muito menos e se esquece de lavar as mãos, de colocar máscara facial, de praticar distanciamento físico”, pontua.

Perigos não se restringem àqueles que bebem demais. (Fonte: Shutterstock)
Perigos não se restringem àqueles que bebem demais. (Fonte: Shutterstock)

Pesos e medidas

Por outro lado, informa a pesquisa, 20% reduziram a presença de bebidas no cotidiano, o que pode ser explicado pelo fato de que muitos daqueles que as consumiam majoritariamente em bares, baladas e restaurantes não veem mais sentido em dar continuidade ao comportamento devido às limitações físicas impostas por legislações que restringiram a circulação de pessoas nesses estabelecimentos durante a pandemia.

Sendo assim, como saber quando é necessário reavaliar o comportamento com o álcool e, eventualmente, procurar auxílio? Sanchez explica que é considerada uma dose uma lata de cerveja, um cálice de vinho de 130 mililitros ou um shot de vodka de 40 mililitros, por exemplo.

“Ao se perceber que o álcool está tomando uma dimensão muito intensa em sua vida, é preciso buscar ajuda”, aconselha a pesquisadora, que ressalta ser muito difícil parar sozinho. O Sistema Único de Saúde, finaliza, oferece o apoio necessário.

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Fonte: Fiocruz.

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