Adaptar a produção de empresas do Brasil é estratégia eficaz no combate à dependência de exportação de equipamentos
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Empresas de diferentes setores da indústria brasileira têm adaptado fábricas para auxiliar na produção de materiais que garantam a infraestrutura necessária aos hospitais, como álcool em gel, máscaras e respiradores. Essa adaptação é chamada de reconversão industrial ou reconversão produtiva.
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De acordo com dados do governo federal, devido ao aumento de casos de infecção por coronavírus no País, houve crescimento na demanda por insumos e equipamentos médico-hospitalares tanto para os pacientes infectados como para as equipes que os atendem.
Com as fábricas paralisadas, a indústria automotiva se uniu a faculdades de tecnologia como o Instituto Mauá de Tecnologia e a Universidade de São Paulo (USP) para consertar respiradores e desenvolver protótipos de aparelhos utilizando peças de automóveis.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou em 13 de maio uma nota técnica indicando que a reconversão industrial em tempos de covid-19 é papel do governo para salvar vidas. Como argumento, explicou que a China, primeiro país a detectar o novo coronavírus, mesmo sendo um dos maiores fabricantes de respiradores do mundo, aumentou a produção em pelo menos dez vezes para atender às demandas interna e externa pelo equipamento, já que também exporta o produto.
A alteração nas fábricas se torna um dos instrumentos a ser acionado em crises dessa proporção. O comunicado ainda mencionou que a adaptação de plantas fabris para produzir itens específicos, quando bem implementada, pode reduzir gargalos em segmentos mais sensíveis, como é o caso da indústria automobilística, contribuindo para a manutenção de empregos e a redução da queda abrupta da economia, mantendo a demanda efetiva.
A reconversão produtiva é considerada urgente no combate ao coronavírus, segundo demonstram os debates de associações e sindicatos. Para isso, o Sindicato dos Metalúrgicos se encarregou de enviar ao governo e à Assembleia Legislativa uma proposta para mudar temporariamente o perfil da produção e o produto final em parques industriais que estejam paralisados durante a pandemia.
No caso da indústria metalúrgica, é possível utilizar autopeças para a fabricação de insumos e equipamentos hospitalares, e empresas podem contribuir com materiais e maquinários. Tudo isso representa oportunidade de gerar produção e recursos e ao mesmo tempo auxiliar no esforço de equipar o sistema de saúde para atender à população que tanto necessita. Inclusive existe vantagem econômica não só em manter a produtividade como também em não precisar importar, o que gera redução de custos.
O diretor-executivo dos Metalúrgicos do ABC Wellington Messias Damasceno, em entrevista ao portal Mundo Sindical, ressaltou que o sindicato trabalhou fortemente em propostas de adaptação de planta fabril para suprir a escassez de insumos hospitalares, atravessar o momento e retomar a produção.
Além disso, a alta do dólar e a disputa global por componentes entre os grandes países industriais do mundo, com dificuldades de importação de insumos para a indústria, abrem a oportunidade de o Brasil discutir a reconversão industrial e reduzir a dependência de produtos e componentes importados.
Damasceno explicou que isso aumenta a segurança e a soberania nacional, sobretudo em áreas estratégicas, possibilitando que o País atenda às suas necessidades e possa ser um polo exportador, gerando empregos e renda aos brasileiros.
Um exemplo da área médica é a necessidade de importação de máscaras, que seria um item excelente para produção local e está em falta no mercado brasileiro por depender, em grande parte, da importação.
O diretor-executivo também apontou os dados da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido) como argumento: “Existe uma queda constante do valor adicionado industrial do Brasil desde 2013, quando o País ultrapassou US$ 220 bilhões. Em 2019, foram US$ 170 bilhões, o que demonstra o desmonte da indústria nacional e une ambos os temas como solucionadores”.
A solução não se mostra algo paliativo e somente para o momento de pandemia, mas que traria crescimento efetivo ao setor industrial. O Estado deve conduzir a conversão das indústrias à produção de equipamentos necessários para a prevenção e o tratamento do novo coronavírus, uma medida que gera impactos positivos para a saúde e para a economia do País.
E essas alterações industriais demonstram ser solução para a preservação de empregos. A engenharia brasileira tem a expertise necessária para a concretização desse processo, a exemplo dos protótipos recentemente divulgados pela USP e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para a produção de ventiladores pulmonares de baixo custo.
Resta ao Estado cumprir o necessário organizando os fatores produtivos, acelerando os testes e as certificações dos itens urgentes para absorver os riscos inerentes.
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Fontes: DIESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), Conjur (Consultor Jurídico), Mundo Sindical, Revista Movimento, IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e Rede Brasil Atual.