Profissionais ressaltam que desinformação e dificuldade de acesso a tratamentos são características que prejudicam a saúde dos olhos de pacientes
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Patrocinado pela Novartis, o Diálogos Estadão Think apresentou o fórum “As doenças da visão também precisam ser vistas”, no qual Natalia Cuminale, diretora de conteúdo e CEO da Futuro da Saúde, informou que mais de 2 bilhões de pessoas têm algum problema de visão ou cegueira atualmente — o que representa um terço da população mundial.
Ainda segundo ela, no Brasil, as principais causas de cegueira são catarata, glaucoma, cegueira infantil, retinopatia diabética e degeneração macular relacionada à idade – sendo que as duas últimas são praticamente desconhecidas da população.
“A falta de conhecimento traz uma consequência grave: até 80% dos casos de cegueira são evitáveis ou tratáveis”, afirma Natalia, que complementa: “De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 700 mil brasileiros poderiam estar enxergando se tivessem recebido o tratamento adequado precocemente.” Para reverter essa situação, é preciso contornar entraves no acesso ao diagnóstico antecipado (e viabilizar tais ações minimiza consequências sociais e econômicas das doenças dos olhos).
Eliana Cunha, coordenadora de educação inclusiva da Fundação Dorina Nowill, que auxilia na reabilitação de pessoas que perderam a visão, explica que, dentro do grupo da cegueira, existem indivíduos que não percebem a luz e aqueles que, além da iluminação, identificam cores, assim como tem quem veja vultos. “Há características diferenciadas”, aponta a profissional.
“Se falarmos da baixa visão, que representa a maioria dentro da população com deficiência visual, a pessoa facilmente passa como alguém que tem visão normal e acaba sofrendo uma série de impactos em decorrência desse fator.”
“São pessoas que tem 30% ou menos de visão no melhor olho após correções cirúrgicas, tratamentos, uso dos óculos. São aquelas que olham para outros ao longe, a uma distância na qual todo mundo veria a fisionomia, e não os reconhece”, exemplifica Eliana. “É um grupo grande.”
Como, então, atuar para prevenir doenças oculares? Eliana ressalta que no Brasil não existe uma cultura de ida frequente ao oftalmologista e aponta que, dos 0 aos 7 anos, a retina se desenvolve. “Então, é fundamental que crianças tenham acompanhamento. No mundo ideal elas já teriam acesso a isso no primeiro ano de vida”, indica.
“Na maternidade, já é feito o teste do olhinho, mas dificilmente existe um processo contínuo após esse evento. Famílias, professores e pediatras devem ficar em alerta”, destaca, citando comportamentos anormais – como quedas constantes e manifestações físicas nos olhos. “Todas as intervenções médicas são fundamentais a partir disso.”
Portanto, para que eventuais situações se revertam ou sejam contidas, exames básicos são essenciais, assim como procurá-los quando se tem acesso. Programas de habilitação e reabilitação também fazem parte do cenário de inclusão.
Os efeitos da falta de prática dos procedimentos indicados têm um preço: cerca de R$ 6 bilhões em recursos previdenciários são gastos pelo governo de maneira direta, além dos custos indiretos, impossíveis de serem mensurados, de acordo com Maurício Maia, presidente da Sociedade Brasileira de Retina e Vitreo.
Maurício ressalta que o acesso a tratamentos é um grande problema e, citando avanços tecnológicos em outras áreas, considera inconcebível que, em um mundo tão moderno, tenhamos milhões de brasileiros com dificuldades do tipo.
“Organizações não governamentais e a sociedade civilizada é que farão com que a população em estado mais crítico encontre ampliação de atendimento no Sistema Único de Saúde.”
Incluir as doenças de retina na Política Nacional de Atenção em Oftalmologia é uma das necessidades atuais, indica Sydney Clarck, vice-presidente de consultoria e tecnologia da IQVIA do Brasil, pois daria mais visibilidade aos processos necessários ao bem-estar do paciente. Personalização de tratamentos, com a preconização de intervalos menores, é outra sugestão.
Sydney ressalta que são problemas a diminuição da aderência aos procedimentos devido aos custos despendidos por pacientes que moram longe das instalações, assim como o desperdício de recursos, interfere no andamento, o que deve ser combatido. Além disso, Clarck comenta que é preciso balancear a distribuição de profissionais capacitados e equipamentos entre as regiões do país e atualizar protocolos.
Por fim, Maurício Maia indica que, no campo da conscientização, ações de propagação de informação e aumento da sensibilização, mobilização e engajamento de todos os agentes envolvidos podem mudar o cenário. “O paciente precisa ter o direito de ser tratado.”
“Precisamos facilitar a jornada ao oftalmologista. Juntos, unidos, conseguiremos mudar essa história triste”, finaliza.
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Fontes: BVS, Science Daily, Universidade de Tel Aviv, Shutterstock.