Substâncias psicodélicas podem ajudar a tratar traumas?

6 de abril de 2020 4 mins. de leitura
Alucinógenos estão sendo testados, e Brasil já tem tratamento assistido
Apesar de substâncias psicodélicas serem ilegais, pesquisadores da Beckley Foundation, do Reino Unido, e do Instituto de Pesquisas Biomédicas de Los Angeles, no Harbor-UCLA Medical Center, além do neurocientista brasileiro Eduardo Schenberg, têm conduzido testes de “viagens assistidas” com o intuito de encontrar novas opções de tratamento para a saúde mental com a utilização de dietilamida do ácido lisérgico (LSD), metilenodioximetanfetamina (MDMA ou ecstasy), substâncias de cogumelos alucinógenos, entre outras. Apesar de alguns testes terem sido conduzidos há alguns anos, os resultados estão sendo divulgados agora pela Fundação Beckley em sites governamentais, como o Clinical Trials, mantido pelo departamento de saúde dos Estados Unidos, o site da Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (Maps) e páginas profissionais como a de Schenberg.
(Fonte: Freepik)

Substâncias psicodélicas versus doenças mentais

O uso de alucinógenos pode, na prática, representar uma alternativa viável a antidepressivos e ansiolíticos.

LSD

Uma parceria da Fundação Beckley com o Imperial College de Londres reabriu um caminho que tinha sido fechado na década de 1960 com a proibição do LSD e de outras substâncias psicoativas. Os testes realizados pelas instituições com o apoio de especialistas de vários lugares do mundo aponta a possibilidade de o LSD ser usado para fins terapêuticos. A pesquisa é coordenada por Robin Carhart-Harris, psicólogo e neurocientista, e é considerada uma das mais importantes no ramo da psicologia nos últimos anos.

Psilocibina

O psiquiatra britânico David Nutt começou a trabalhar no Imperial College e a estudar a psilocibina, substância presente em alguns tipos de cogumelo. Os resultados de seus estudos apontaram a substância como um potencial terapêutico para tratamento da depressão. A autorização para a pesquisa com a psilocibina foi mais fácil, pois, segundo os especialistas, a substância não tem a mesma imagem negativa que o LSD. O estudo foi conduzido com 20 pessoas que tinham que atender a alguns pré-requisitos. Os resultados mostraram que a maioria do grupo teve experiências positivas, segundo uma das pesquisadoras, como melhora psicológica geral duas semanas após a condução do teste. Ainda assim, houve episódios de paranoia, pensamento confuso, ansiedade e outros sintomas comuns de perturbação da saúde mental ou reação ao uso de substâncias psicodélicas. Essas pessoas, que representaram uma pequena porcentagem do grupo, receberam recomendação para interromper os testes.
(Fonte: Freepik)
MDMA A MDMA é o principal ingrediente do ecstasy. Ao ser usada em testes clínicos, mostrou proporcionar um alívio significativo para episódios de estresse pós-traumático. A substância já foi, inclusive, liberada pela Food and Drug Administration (FDA) para “terapia de avanço” no tratamento do estresse pós-traumático. A Maps, instituição sem fins lucrativos, tem um acordo com a FDA e, segundo seu fundador e diretor-executivo, Rick Doblin, está pronta para, pela primeira vez na história, ter o possível uso prescrito de drogas psicodélicas para psicoterapia assistida. No Brasil, Schenberg tem conduzido um tratamento assistido com MDMA em quatro pacientes. O neurocientista é mestre em Psicofarmacologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), doutor em Neurociências pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorando pelo Imperial College de Londres. De acordo com o brasileiro, em artigo divulgado em seu site, cresce o número de pessoas com transtornos mentais, enquanto a medicação psiquiátrica está em declínio. O especialista afirma que a Psicoterapia Assistida com Psicodélicos (PAP) é uma inovação radical que merece atenção das comunidades médicas, psicológicas e psiquiátricas, principalmente pelos resultados, que têm se mostrado seguros e eficazes.

Recomendações

Os tratamentos, apesar de serem considerados seguros, devem ser restritos aos grupos de pesquisa e orientados por profissionais qualificados, capazes de analisar o quadro pessoal de cada paciente. Por isso, a utilização de substâncias psicodélicas ainda merece atenção redobrada, sendo recomendado evitar o consumo pela população em geral, a fim de evitar suas consequências, que podem ser negativas à saúde. Fontes: Forbes, Beckley Foundation, CNN Health, Eduardo Schenberg, Clinical Trial.
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