Apesar de já terem sido identificadas 200 mutações genéticas, uma variação pode ser responsável por causar covid-19 na maioria do mundo
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Cientistas do mundo todo fizeram o sequenciamento genético do coronavírus, permitindo detectar cerca de 200 mutações genéticas, bem como a forma de disseminação do vírus pelo mundo. Agora, pesquisadores do Laboratório Los Alamos, no Estados Unidos, conseguiram identificar uma variação capaz de aumentar o potencial infeccioso do Sars-CoV-2.
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Um artigo, ainda não revisado pelos pares, foi publicado em julho na revista científica Cell e afirma que a propagação da mutação pesquisada supera a cepa original do coronavírus. O estudo procurou rastrear as mudanças na proteína spike do novo coronavírus para elucidar os mecanismos de disseminação da doença e dar suporte ao desenvolvimento de medicamentos e vacinas.
Em publicação anterior em abril de 2020, o mesmo grupo de pesquisa já tinha encontrado indícios que sugeriram uma associação de uma variante com cargas virais mais altas no trato respiratório superior.
O rastreamento da evolução do novo coronavírus globalmente é possível porque cientistas em todo o mundo estão disponibilizando rapidamente seus dados através do banco de dados de sequência viral conhecido como GISAID. Dezenas de milhares de sequências estão disponíveis nesse projeto, e isso permitiu à equipe de pesquisa identificar o surgimento da variante D614G.
Quando comparado a outros vírus, o Sars-CoV-2 tem uma baixa taxa de mutação geral. Muito menor, por exemplo, que as varições do vírus de influenza e HIV-Aids. A variante D614G aparece como parte de um conjunto de quatro mutações vinculadas. Parece que elas surgiram uma vez e, depois, foram transmitidas pelo mundo como um conjunto consistente de mutações.
A variante do Sars-CoV-2 chamou a atenção dos pesquisadores no início de abril. “Observamos um padrão surpreendentemente repetitivo”, declarou Bette Korber, principal autora do estudo, em release divulgado pelo Laboratório Los Alamos. “Em todo o mundo, mesmo quando as epidemias locais tinham muitos casos da forma original circulando, logo após a introdução da variante D614G em uma região, ela se tornou a forma predominante”, completa.
A mutação é responsável por uma alteração pequena, mas eficaz, na proteína spike, utilizada pelo coronavírus para entrar nas células humanas. A proteína provoca a fusão da membrana celular com a capa protetora do coronavírus, permitindo a entrada do material genético do Sars-CoV-2 no interior da célula.
Dessa maneira, a partir da mutação o coronavírus teria maior facilidade para infectar as células. Isso explicaria a predominância encontrada na maior disseminação da variante D614G, quando comparada com a cepa original do vírus.
Por esse motivo, a spike, localizada na “coroa” do vírus, é o principal alvo do desenvolvimento de pesquisas para a produção de anticorpos capazes de neutralizar o coronavírus. A demora da resposta imunológica do organismo à proteína está associada ao desenvolvimento de sintomas mais graves da enfermidade.
Os pesquisadores desenvolveram um método de identificação de variantes mais prevalentes em diferentes localizações geográficas, em níveis nacional, regional e municipal. Os cientistas focaram suas pesquisas quando a presença de uma variante foi observada de forma repetitiva em áreas geográficas distintas.
A alteração no gene D614G quase sempre está acompanhada de três outras mutações que, combinadas, se tornaram a forma dominante do Sars-CoV-2. Até março, a variante D614G era rara em todo mundo e representava apenas 10% das sequências genéticas mapeadas. Ao longo de março, o conjunto de mutações passou a representar 67% dos genomas de coronavírus mapeados. Entre 1º de abril e 18 de maio, a variante foi encontrada em 78% do material genético do Sars-CoV-2.
Essa transição aconteceu de forma diferente nas regiões do mundo. A mutação começou a se propagar pela Europa e migrou para a América, começando por Estados Unidos e Oceania. Por fim, a variante alcançou a Ásia, que até o momento é apontado como continente de origem da disseminação mundial do vírus.
Ao mesmo tempo que os cientistas afirmam que a descoberta de variações genéticas do coronavírus pode mostrar caminhos para o desenvolvimento de vacinas e remédios, reforçam a importância de medidas preventivas contra a disseminação da doença em todo o mundo.
“Essas descobertas sugerem que a forma mais nova do vírus pode ser transmitida mais rapidamente do que a forma original. Independentemente de essa conclusão ser ou não confirmada, ela destaca o valor do que já eram boas ideias: usar máscaras e manter o distanciamento social”, afirma Korber.
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Fontes: Cell e Laboratório Los Alamos.