Pesquisa foi realizada por meio de questionário com participação de mais de 2 mil jovens brasileiros; 47% também afirmaram nunca ter recebido aulas ou palestras sobre o tema nas escolas Por Victória Ribeiro – editada por Mariana Collini em 18/07/2024 No cenário atual, o acesso digno e seguro a itens de higiene menstrual permanece um […]
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Pesquisa foi realizada por meio de questionário com participação de mais de 2 mil jovens brasileiros; 47% também afirmaram nunca ter recebido aulas ou palestras sobre o tema nas escolas
Por Victória Ribeiro – editada por Mariana Collini em 18/07/2024
No cenário atual, o acesso digno e seguro a itens de higiene menstrual permanece um desafio para muitas pessoas que menstruam. Resultados recentes de uma enquete promovida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em parceria com a Viração Educomunicação, revelam que 19% dos participantes já enfrentaram dificuldades financeiras para adquirir absorventes, enquanto 37% já tiveram obstáculos para acessar esses produtos em escolas e locais públicos.
A pesquisa contou com a opinião de 2,2 mil jovens brasileiros que menstruam, considerando meninas cisgênero (79%), meninos trans (18%) e pessoas não-binárias (3%). Para isso, as entidades utilizaram o U-Report, plataforma do UNICEF com participação de adolescentes e jovens em mais de 90 países, implementada em parceria com a Viração Educomunicação no Brasil. O projeto realiza enquetes via internet, por meio do WhatsApp, Telegram e Facebook.
Os dados da enquete também revelam que a menstruação pode ser uma barreira para a participação plena na educação e na vida social. Cerca de 60% dos participantes já faltaram à escola ou ao trabalho por causa da menstruação, enquanto 86% deixaram de praticar atividade física nessa fase do mês. Além disso, o tabu em torno da menstruação persiste, com 77% dos respondentes relatando constrangimento em escolas ou lugares por causa da menstruação, e quase metade nunca tendo recebido informações sobre o assunto, seja por meio de aulas, palestras ou rodas de conversa.
É válido ressaltar que a enquete não possui um rigor metodológico de pesquisa, mas são consultas rápidas realizadas por meio de redes sociais, principalmente com participantes de 13 a 24 anos cadastrados na plataforma. Por essa razão, os resultados não podem ser generalizados para toda a população brasileira, embora ofereçam uma visão significativa da realidade em relação à dignidade menstrual no país. É preciso considerar também que, por se tratar de uma pesquisa online, há o risco de enviesamento, com uma concentração de participantes que têm acesso à internet e, portanto, associados a uma determinada realidade socioeconômica — um fator que sugere que os dados podem ser ainda mais alarmantes.
“A falta de informação contribui para o estigma e gera situações de constrangimento. Precisamos desmistificar a menstruação e criar um ambiente acolhedor para pessoas que menstruam. Os dados da enquete reforçam a necessidade de fortalecer as práticas de educação menstrual, sobretudo nas escolas”, declarou a analista de comunicação da Viração Educomunicação, Ramona Azevedo.
Dignidade x pobreza menstrual
Segundo estudo anteriormente realizado pelo UNICEF, 28% das pessoas que menstruam no Brasil são afetadas pela pobreza menstrual, o que equivale a cerca de 11 milhões. Além disso, 30% dessas também conhecem alguém que sofre do problema. A maioria (40%) têm entre 14-24 anos, o que mostra que esse é um problema que atinge, sobretudo, pessoas mais jovens.
Como saber se está tudo certo com a menstruação?
O mês da Dignidade Menstrual, estabelecido pela ONU em 2014, foi criado como uma estratégia de conscientização e combate à pobreza menstrual. A ideia é a mesma de outras datas relacionadas a questões que violam direitos humanos e, muitas vezes, precisam ter marcos estabelecidos no calendário mundial para que recebam as atenções e debates necessários.
O termo determina a condição de direito das pessoas que menstruam e sugere que elas devem ter acesso a produtos e condições de higiene. Quando elas não têm acesso às duas garantias mencionadas, surge o que chamamos de pobreza menstrual. Importante entender que essa condição vai além do não acesso a absorventes de maneira gratuita. A pessoa precisa também ter condições de higiene, como tomar um banho, por exemplo.
“A pobreza menstrual é caracterizada pela falta de infraestrutura, recursos e até conhecimento por parte de pessoas que menstruam para cuidados envolvendo a própria menstruação. Ela afeta pessoas que vivem em condições de pobreza e situação de vulnerabilidade, por isso, é fundamental ações e políticas de saúde para reverter o quadro de pobreza menstrual do Brasil e garantir direitos a cada pessoa que menstrua no País”, diz Rayanne França, oficial de Desenvolvimento e Participação de Adolescentes do UNICEF no Brasil.
Foto: FotoHelin/Adobe Stock