98% dos voluntários das duas primeiras etapas produziram resposta imune
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Dois protótipos de vacinas que atenderam às especificações de estudos de segurança podem representar uma nova esperança na luta contra o HIV, vírus da imunodeficiência humana. Desenvolvidas pela farmacêutica Janssen, de acordo com artigo publicado no The Lancet, em 1º de outubro, as substâncias estão prontas para a terceira e última etapa dos ensaios clínicos, um fato inédito em mais de dez anos.
Agora, após a revisão de pares e confirmação dos resultados, visando dar continuidade às pesquisas, a companhia começou a recrutar 3,8 mil pessoas no mundo todo para essa fase de procedimentos. “Um grande desafio no desenvolvimento de vacinas contra o HIV é a diversidade genética global substancial do HIV-1, que limita a cobertura das respostas imunes humoral e celular às cepas de HIV-1 selecionadas”, segundo a publicação.
Sendo assim, foi preciso se dedicar à descoberta de algo que superasse a cobertura imunológica limitada, e uma das estratégias exploradas foi o conceito de vacina de mosaico aplicado nas novidades. Das duas soluções da Janssen, uma é codificada com três proteínas, e a outra com quatro.
Como no início, demonstrou-se que os conjuntos bivalentes e trivalentes de inserções em mosaico ampliam a resposta imune em modelos de primatas não humanos, o fato levou à primeira e segunda fases de testes dos imunizadores em questão em humanos de 11 centros nos Estados Unidos e um em Ruanda (de 12 de julho de 2016 até 27 de agosto de 2018).
Depois de encerradas essas etapas, segundo o estudo, verificou-se que a partir dos dados coletados de 379 voluntários, adultos saudáveis com idades entre 18 e 50 anos, os “regimes de vacina trivalente e tetravalente foram geralmente seguros e bem tolerados, com perfis de reatogenicidade aceitáveis, consistindo em baixas taxas de eventos adversos graves para ambos”.
Isso apoia o avanço da vacina tetravalente em um maior desenvolvimento clínico. De acordo com o artigo: “Ambas as vacinas produziram respostas imunes humorais e celulares anti-HIV-1 em mais de 98% dos receptores”.
Entre os países participantes da próxima etapa está o Brasil. Assim, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) está buscando voluntários que possam entrar em contato com o Programa de Educação Comunitária da USP pelo Instagram ou pelo e-mail agendamento.estudo@gmail.com. Os públicos-alvo são homens gays ou bissexuais cisgêneros e homens ou mulheres transexuais entre 18 e 60 anos.
Microrganismo que se espalha por meio de fluídos corporais e afeta células específicas do sistema imunológico, conhecidas como células CD4, ou células T, o HIV esteve presente na vida de cerca de 38 milhões de pessoas no mundo todo até o fim de 2019, de acordo com dados do Unaids. Desde o início do que é considerada uma das maiores epidemias da História, infectou aproximadamente 75,7 milhões de indivíduos, levando à morte 32,7 milhões (690 mil somente no ano passado).
Ainda que tenha havido redução de 40% de novas contaminações desde o pico em 1998 (período em que atingiu 2,8 milhões), por se tratar de uma doença ainda sem cura efetiva segura disponível à população, cuidados médicos apropriados e terapia antirretroviral (ART) podem prolongar expressivamente as vidas das vítimas dessa doença e diminuir as chances de transmissão, evitando a evolução da doença para a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). Entretanto, a pandemia da covid-19 e outros fatores devem prejudicar os avanços assistenciais atingidos pela área.
Segundo nova análise da Unaids, a produção de medicamentos e sua distribuição foram impactadas por lockdowns e fechamentos de fronteiras, levando a um potencial aumento de custos e problemas de abastecimento. Além disso, modelagens estatísticas recentes estimam que uma interrupção completa de seis meses no tratamento do HIV (disponível a 25,4 milhões de doentes) pode levar a mais de 500 mil mortes adicionais por doenças relacionadas à Aids.
Uma das estratégias recomendadas pelo Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde para frear o contágio por HIV é a prevenção combinada. Esta faz uso simultâneo de diferentes abordagens de prevenção aplicadas em múltiplos níveis para responder a necessidades específicas de determinados públicos e de formas específicas de transmissão do vírus.
Distribuição de preservativos (masculinos e femininos) e gel lubrificante estão entre as orientações, assim como a disponibilização do Tratamento como Prevenção (TasP), da Profilaxia Pós-Exposição (PEP) e da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). Campanhas voltadas ao incentivo do uso de proteção, a testagens, a aconselhamentos e ações de redução de danos para as pessoas que usam álcool e outras drogas são outros exemplos.
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Fonte: Unaids, Estadão, Agência Brasil, The Lancet, Ministério da Saúde.