Entidade teme que a medida gere mudanças nos planos de saúde, que permitem o exame de rastreio a partir dos 40 anos Por Gabriel Damasceno – editada por Mariana Collini em 11/03/2025 Representantes do Conselho Federal de Medicina (CFM) se reuniram na sexta-feira, 7, com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para solicitar a […]
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Entidade teme que a medida gere mudanças nos planos de saúde, que permitem o exame de rastreio a partir dos 40 anos
Por Gabriel Damasceno – editada por Mariana Collini em 11/03/2025
Representantes do Conselho Federal de Medicina (CFM) se reuniram na sexta-feira, 7, com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para solicitar a revogação de uma medida prevista no novo Programa de Certificação de Boas Práticas em Atenção Oncológica.
O projeto sugere que os planos de saúde certificados façam contato com mulheres de 50 a 69 anos para incentivar a realização de mamografias a cada dois anos – hoje, a maioria das operadoras oferece o exame anualmente a partir dos 40 anos.
Em nota, a ANS reforça que a participação dos planos de saúde no programa é voluntária e que todas as mulheres têm direito à mamografia, sem limite de idade, quando houver indicação médica. A agência também afirma que os planos não podem negar o exame nessas condições.
Entidades médicas, associações de pacientes e o CFM, porém, temem que a recomendação da ANS cause mudanças na disponibilidade do exame no futuro.
“Se o rastreamento entre 50 e 69 anos for tratado como ‘padrão ouro’, as operadoras podem passar a questionar a necessidade de exames antes dos 50 ou após os 70. Isso não pode ser um critério de qualidade”, diz Cibele Alves de Carvalho, conselheira do CFM pelo Estado de Minas Gerais.
Cibele lembra que 40% dos diagnósticos de câncer de mama acontecem em mulheres abaixo dos 50 anos. O rastreamento por mamografia é a principal estratégia mundial para a detecção precoce da doença e, consequentemente, para um melhor prognóstico.
“Infelizmente, o câncer de mama costuma ser diagnosticado em estágios mais avançados. Quando detectado precocemente, há maior chance de sobrevivência e menor sofrimento para a paciente, porque é possível evitar tratamentos como quimioterapia ou radioterapia. A detecção precoce também reduz o risco de mutilação, além de gerar uma economia para o sistema de saúde”, pontua.
A recomendação da ANS foi feita a partir de dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), que desde 2004 recomenda o rastreamento bienal para mulheres entre 50 e 69 anos no Sistema Único de Saúde (SUS).
“Essas recomendações são constantemente atualizadas com novos dados de pesquisa, a fim de garantir a eficácia e a segurança da população”, diz em nota Roberto de Almeida Gil, diretor-geral do Inca.
De acordo com Gil, em 2015, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) chegou a avaliar a possibilidade de ampliar o rastreamento, mas optou por não seguir com a mudança porque as evidências científicas à época não demonstravam claros benefícios com a alteração das faixas etárias.
“Em março de 2024, o Inca revisou novamente a questão, com base em novos dados, incluindo 16 metanálises e oito ensaios clínicos randomizados. Embora alguns estudos tenham apontado uma possível redução de risco em determinados casos, a maioria das evidências não mostrou benefícios consistentes no rastreamento para mulheres abaixo de 50 anos ou acima de 69 anos”, afirma o diretor.
Gil afirma que a mamografia é menos eficiente para detectar o câncer de mama em mulheres mais jovens. Nessa faixa etária, ela identifica entre 53% e 77% dos casos a cada dois anos, enquanto em mulheres de 50 a 69 anos a taxa de acerto chega a 88%. “Esse fator contribui para a conclusão de que a ampliação do rastreamento para faixas etárias fora do intervalo recomendado não resultaria em benefícios concretos e sustentáveis ao longo do tempo”, frisa.
O diretor-geral acredita que o questionamento por parte das sociedades médicas é legítimo e menciona que podem ser requisitadas novas avaliações. “Caso necessário, podem solicitar uma nova avaliação junto à Conitec, responsável pela legitimação das recomendações de incorporação de tecnologias no Sistema Único de Saúde”.
Foto: Sebastião Moreira/Estadão