Qual é a relação da varíola dos macacos com a varíola humana?

2 de janeiro de 2023 4 mins. de leitura
Novas pesquisas sugerem que as doenças podem ter complicações neurológicas semelhantes

A varíola dos macacos tomou os noticiários em 2022 logo após a diminuição do número de casos de covid-19. O surgimento dessa doença foi “a bola da vez” no mundo da epidemiologia, já que ela apresenta muitas semelhanças com a varíola humana comum, mas também algumas diferenças.

Um dos pontos que mais preocuparam os cientistas é a possibilidade de haver sequelas cerebrais na nova versão da enfermidade. Uma recente publicação do The Journal of the American Medical Association (Jama) analisou as complicações neurológicas dos dois tipos de varíola e identificou sintomas semelhantes de encefalite, delírio e encefalopatia, além de distúrbios de ansiedade e depressão.

O que há em comum entre elas?

Conhecidas na nomenclatura em inglês monkeypox (varíola dos macacos) e smallpox (varíola humana), essas doenças podem ser consideradas “primas”. Ambas pertencem ao gênero Orthopoxvirus e compartilham 90% da identidade genética.

Outro fator comum é o tempo de incubação, ou seja, o intervalo entre o contato com o vírus e o início dos sintomas, que varia entre 4 dias e 21 dias. Esses sinais também costumam ser similares nas fases iniciais: febre e dores de cabeça, na garganta e no corpo.

Em etapas mais avançadas, ambas as doenças geram lesões severas na pele, conhecidas como erupções cutâneas. Os machucados se iniciam como pequenas manchas vermelhas que, com a intensidade da infecção viral, tornam-se maiores e mais expostas.

Diferenças

Feridas na pele podem aparecer com o avanço da varíola dos macacos. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

A principal diferença entre elas, como os nomes sugerem, é a origem de cada vírus. A monkeypox surgiu em roedores e primatas não humanos e se estendeu para outros animais. Como a infecção em seres humanos ainda é recente, é muito difícil saber o real impacto da doença em nossa espécie.

Já a smallpox tem como único hospedeiro natural os seres humanos, por isso foi possível erradicá-la com a vacinação. A origem é desconhecida, mas os primeiros casos foram registrados há mais de mil anos, durante a Idade Média. Naquele período, a varíola foi uma das doenças mais letais da história, tendo feito mais de 300 milhões de vítimas e matando cerca de 30% dos infectados.

Transmissão

A transmissão da varíola dos macacos ocorre pelo contato, que pode ser de pele, secreções ou objetos pessoais. Já na versão humana, o risco maior é de contágio por meio de gotículas respiratórias, liberadas em espirros, beijos ou simples conversas. Por isso, é de extrema importância que o paciente infectado permaneça em isolamento durante todo o período de segurança.

A principal forma de se proteger contra a monkeypox é evitar ter relações sexuais desprotegidas e contato direto com infecções de pele expostas. No caso da smallpox, a transmissão deixou de ser um problema, já que não existem casos registrados da doença desde 1977.

O sucesso da vacinação contra a varíola

A vacinação contra a varíola erradicou a doença no fim dos anos 1970. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

A história da erradicação da varíola humana é um exemplo de sucesso da vacinação moderna. Como dito, essa doença foi extremamente letal durante a Idade Média, sendo quase uma sentença de morte para várias populações que estiveram expostas ao vírus.

Isso mudou no século 18, quando o médico britânico Edward Jenner foi capaz de produzir uma vacina. Ele percebeu que pessoas que tinham contato com a varíola da vaca (cowpox) não se infectavam com a varíola humana, então a partir disso usou o vírus para gerar respostas imunológicas em pessoas.

Apesar da diminuição da letalidade, muitos países ainda não haviam obtido sucesso em erradicar a varíola até os anos 1960, incluindo o Brasil. Nas décadas seguintes, houve um esforço mundial para realizar uma gigantesca campanha de imunização.

Como o vírus tem os seres humanos como único hospedeiro natural e não é capaz de sobreviver mais de dois dias sem estar em um corpo, a varíola foi declarada erradicada em 1977 após a ausência de ocorrências por um extenso período. Desde então, não houve registro de mais nenhum caso.

Fonte: Instituto Butantan, JAMA Network, MSD Manual, Fiocruz

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