Estudo sugere que consumo de frutose altera células no trato digestivo fazendo-o absorver mais nutrientes do que o necessário
Publicidade
Conheça o maior e mais importante evento do setor de saúde do Brasil.
De acordo com um ensaio pré-clínico feito pela Weill Cornell Medicine e pelo NewYork-Presbyterian Hospital, ambos dos Estados Unidos, a ingestão excessiva de frutose pode alterar as células presentes no trato digestivo, aumentando a ingestão de nutrientes e ultrapassando a recomendação diária. A pesquisa foi publicada em agosto na revista científica Nature.
Ao que tudo indica, tais mudanças podem ter uma ligação direta com o aumento das taxas de obesidade, bem como de alguns tipos de câncer comuns entre a população mundial.
As vilosidades intestinais, que são as dobras na camada interior do intestino, expandem a área de superfície do intestino para ajudar o corpo a absorver os nutrientes. Esse processo ocorre até mesmo com gorduras dietéticas, que estão presentes nos alimentos do dia a dia e passam pelo trato digestivo.
O estudo apontou que camundongos com dietas ricas em frutose tinham vilosidades de 25% a 40% maiores do que outros roedores cuja alimentação não incluía frutose. Além disso, a alteração estaria associada ao aumento da absorção de nutrientes, ganho de peso e acúmulo de gordura nos animais.
“A frutose é estruturalmente diferente de outros açúcares como a glicose e, por isso, é metabolizada de maneira diferente”, explicou Marcus DaSilva Goncalves, um dos autores do estudo e professor de Endocrinologia na Weill Cornell Medicine.
Para ele, o estudo descobriu que o metabólito primário da frutose — ou produto do metabolismo da molécula — promove o alongamento das vilosidades e apoia o crescimento do tumor intestinal.
Os cientistas não planejavam investigar as vilosidades quando começaram seus experimentos. Em um documento anterior feito pela mesma equipe e publicado em 2019, a frutose dietética já aparecia como uma eventual aliada para o aumento de tamanho do tumor de câncer colorretal em camundongos.
Os primeiros dados indicaram que ao bloquear o metabolismo da frutose era possível impedir o agravamento da doença, pois ela promove hiperplasia — o crescimento acelerado do intestino delgado. Devido a isso, os pesquisadores passaram a examinar os tecidos dos camundongos tratados com frutose.
Após isso, eles constataram que um metabólito específico, chamado frutose-1-fosfato, estava se acumulando mais do que os outros. Após a aplicação de enzimas bloqueadoras desse metabólito, a frutose já não surtia mais efeito no tamanho das vilosidades.
Na visão de Samuel Taylor, líder do estudo, as observações notadas nos camundongos fazem sentido em um ponto de vista evolutivo. “Em mamíferos, especialmente aqueles que hibernam em climas temperados, você tem muita frutose disponível nos meses de outono, quando a fruta está madura”, ele destacou.
Os pesquisadores ainda acrescentaram que os humanos não evoluíram para se alimentar do que comem atualmente. “A frutose em si não é prejudicial. O problema é o consumo excessivo”, alertou Goncalves.
Agora a equipe de pesquisa pretende confirmar se o que foi visto na relação com os camundongos pode ser traduzido para a realidade humana. Caso os dados estejam corretos, esse seria um grande aliado na luta contra a obesidade.
Fonte: Science Daily.