Como eram os tratamentos psiquiátricos antigamente?

23 de março de 2020 5 mins. de leitura
Cada vez mais humanizados, os tratamentos psiquiátricos passaram por um árduo processo de evolução

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O Brasil é o país mais ansioso do mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). São 18,6 milhões de casos de transtorno de ansiedade, representando 9,3% dos brasileiros. E o cenário em outros países também é preocupante. De acordo com estatísticas da National Alliance on Mental Illness, um em cada cinco estadunidenses sofre de algum distúrbio psíquico (depressão, psicose, transtorno bipolar, ansiedade, entre outros) todos os anos — o equivalente a cerca de 18% da população dos Estados Unidos.

Como a medicina costuma lidar com esses pacientes e o que mais pode ser feito para melhorar o quadro atual? Relembrando as principais revoluções na interpretação da mente e seus contextos sociais, podemos analisar a evolução histórica dos tratamentos psiquiátricos e pensar no futuro.

Houve períodos em que a “loucura” era associada aos deuses e demônios. Porém, hoje desfrutamos dos triunfos da psiquiatria, que luta em busca de tratamentos humanizados e específicos para a saúde mental.

Perspectiva histórica

(Fonte: WikiCommons/Reprodução)

Antes da psicologia

Entre os gregos, a visão do louco como o portador de voz metafísica, conexão ou transmissão direta dos deuses começou a ser contestada por volta do século 4 a.C. Hipócrates propôs uma teoria que ligava transtornos mentais a questões fisiológicas. Acreditava-se que o funcionamento de órgãos como o fígado influenciava diretamente no estado mental das pessoas.

A crença na relação entre corpo e mente permaneceu em voga por muito tempo, até que, na Idade Média, a moral cristã passou a dominar o Ocidente e, com isso, promover uma mudança radical do conceito de loucura. Qualquer comportamento fora do normal era compreendido como resultado de pecado ou possessão demoníaca; e a solução era a morte ou o exílio.

O fenômeno do encarceramento em massa dos diagnosticados como loucos teve início no século XVII, quando os renascentistas substituíram tanto a visão fisiológica quanto às explicações religiosas por um racionalismo extremista e igualmente perigoso. Os “loucos” eram vistos como incapazes de pensar — equivalentes aos animais — e portanto deveriam viver à parte.

Novas perspectivas

Com Philippe Pinel, em 1793 surgiu a visão médica da mente: uma faculdade humana que pode estar saudável ou não e ser tratada para restabelecer sua funcionalidade.

Diversos métodos terapêuticos experimentais apareceram no século seguinte, como a psicanálise de Freud. De modo geral, as condições de vida dos doentes melhoraram e o conhecimento da recém-nascida ciência psicológica, cresceu. Contudo, o internamento permanente dos pacientes continuou sendo praticado; mesmo com tratamentos, o estigma do termo “doente” seguia afastando essas pessoas de suas famílias e indicava algo tão perigoso quanto “louco”. Os tratamentos utilizados nos manicômios do século XIX incluíam o coma induzido e a lobotomia, por exemplo.

Foi somente na primeira metade do século XXque essa situação começou a mudar, com o advento da psicofarmacologia. Os medicamentos específicos para doenças mentais revolucionaram os tratamentos, sendo um fator determinante na diminuição de manicômios no mundo todo. Nasceu a possibilidade de o paciente receber um tratamento psiquiátrico por tempo limitado, em vez de permanecer em uma instituição a vida toda.

Como consequência, vem crescendo nos últimos anos a preocupação com a dominação econômica da indústria farmacêutica mundialmente. Segundo Renato del Sant, psiquiatra e professor da Universidade de São Paulo (USP), a cultura farmacológica influenciou a psiquiatria a reduzir o ser humano a funções bioquímicas, ignorando o contexto social.

Cenário brasileiro

(Fonte: Museu de Imagens do Inconsciente/Reprodução)

Nise da Silveira

Médica brasileira que apostou no tratamento psiquiátrico aliado à terapia ocupacional, humanização dos pacientes e sua reintegração na sociedade. A arteterapia gerou uma grande quantidade de obras de seus pacientes psiquiátricos, culminando na criação do Museu de Imagens do Inconsciente. Nise influenciou o desenvolvimento do modelo atual de atendimento psiquiátrico do Sistema Único de Saúde (SUS).

Centros de Atenção Psicossocial (CAPs)

Hoje em dia, os hospitais psiquiátricos brasileiros estão sendo aos poucos substituídos pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), onde são oferecidos tratamentos psiquiátricos gratuitos. O atendimento é fornecido diariamente por uma equipe interdisciplinar, e não há internação compulsória. Na mesma linha do restante dos serviços do SUS, os CAPs são provas do avanço na construção de uma saúde pública cada vez mais humanizada no Brasil.

Século XXI: depressão e ansiedade

A OMS alerta para o aumento de casos de depressão no mundo: preocupantes 18% em um período de 10 anos. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que menos metade das pessoas afetadas pela doença no mundo tem acesso a tratamento. Os obstáculos incluem falta de recursos e de profissionais capacitados, além do estigma social. Outro problema apontado pela ONU é a imprecisão dos diagnósticos.

É consenso que assistência psicossocial e medicação são aliadas na inclusão social de quem vive com transtorno mental, mas que também é necessário avaliar o contexto que possibilita índices tão alarmantes.

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Fontes: OMS, Concordia University Saint Paul.

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