Como o tratamento psicodélico pode ajudar a psiquiatria?

12 de dezembro de 2021 4 mins. de leitura
Pesquisas sugerem que MDMA e chá de ayahuasca podem ser utilizados na psiquiatria

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Drogas psicodélicas foram declaradas perigosas, limitando durante muito tempo as pesquisas que buscam possíveis terapias com essas substâncias. Agora, com a falta de avanços na psiquiatria, esse conjunto de ferramentas vem ganhando o entusiasmo do mundo acadêmico e científico.

Alguns especialistas consideram que um tratamento psicodélico pode transformar o ambiente psiquiátrico como o microscópio fez na biologia. Evidências apontam que essas drogas são capazes de tratar semelhanças subjacentes de uma série de doenças mentais; potencialmente, podem ser eficazes também para prevenir sua ocorrência.

3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA)

Substâncias psicodélicas, quando usadas de forma descontrolada, podem causar distúrbios psiquiátricos. (Fonte: Who is Danny/Shutterstock/Reprodução)
Substâncias psicodélicas, quando usadas de forma descontrolada, podem causar distúrbios psiquiátricos. (Fonte: Who is Danny/Shutterstock/Reprodução)

A 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA), conhecida popularmente como ecstasy e utilizada como droga recreativa, induz a liberação de serotonina que se liga aos transportadores pré-sinápticos. Dessa forma, os usuários experimentam ausência da memória do medo, remodelando essa lembrança.

O abuso da droga sintética causa vício, inquietação, irritabilidade, insônia, problemas estomacais e convulsões. Em longo prazo, o uso excessivo de MDMA está associado a doenças dermatológicas, subnutrição, alucinações e psicose, por isso o principal objetivo da pesquisa foi encontrar uma dosagem segura e eficaz.

Terapia para transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)

Um estudo publicado na revista Nature sugere que a MDMA pode ser eficaz no tratamento de pacientes com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) grave, inclusive aqueles com comorbidades comuns, como dissociação, depressão, transtornos por uso de álcool e substâncias e trauma na infância.

O estudo contou com 91 participantes dos Estados Unidos, de Israel e do Canadá que receberam três doses de MDMA ou placebo em um ambiente clínico controlado e na presença de uma equipe de terapia treinada. A substância foi capaz de atenuar significativamente os sintomas de TEPT no grupo que recebeu o fármaco em comparação aos participantes que receberam o placebo.

Ayahuasca

Os efeitos psicológicos agudos da ayahuasca duram cerca de 4 horas e incluem intensas mudanças perceptivas, cognitivas, emocionais e afetivas. (Fonte: Eskymaks/Shutterstock/Reprodução)
Os efeitos psicológicos agudos da ayahuasca duram cerca de 4 horas e incluem intensas mudanças perceptivas, cognitivas, emocionais e afetivas. (Fonte: Eskymaks/Shutterstock/Reprodução)

A ayahuasca é uma bebida tradicionalmente usada para fins curativos e espirituais por populações indígenas da Bacia Amazônica e contém o psicodélico dimetiltriptamina (DMT). A partir dos anos 1930, passou a ser utilizada em contextos religiosos de pequenos centros urbanos brasileiros, alcançando grandes cidades na década de 1980 e se expandindo desde então para outras partes do mundo.

Embora náuseas, vômitos e diarreia sejam frequentemente relatados, evidências crescentes apontam para um perfil de segurança positivo da ayahuasca, pois não causa dependência e não está associada a deterioração psicopatológica, de personalidade ou cognitiva, promovendo apenas efeitos simpatomiméticos moderados.

Efeitos antidepressivos

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Cambridge testou os efeitos antidepressivos da ayahuasca em um ensaio clínico duplo-cego, randomizado e controlado com placebo em 29 pacientes com depressão resistente ao tratamento psiquiátrico tradicional.

Os participantes receberam uma dose única de 1 mililitro por quilo de placebo ou ayahuasca ajustada para conter 0,36 miligrama por quilo de dimetiltriptamina em sessões que duravam aproximadamente oito horas em ambiente tranquilo e confortável, semelhante a uma sala de estar, com cama, poltrona reclinável, temperatura controlada, luz natural e reduzida.

O desfecho primário foi a mudança na gravidade da depressão após sete dias da dosagem. O desfecho secundário foi a mudança nas pontuações na escala de depressão de Montgomery-Asberg desde o primeiro dia até uma semana depois da dosagem.

Resultados limitados

Embora promissores, os estudos têm limitações, como o número baixo de participantes. Outro desafio da pesquisa com psicodélicos é manter o teste duplo-cego, pois os efeitos dos psicodélicos são únicos e até mesmo o placebo pode ter efeito psicológico grande. Dessa forma, são necessários novos estudos para dar a certeza de que o tratamento psicodélico pode ser utilizado na psiquiatria.

Fonte: Nature, The Guardian, Universidade de Cambrigde.

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