Trabalhadores da saúde sofrem com estresse e ansiedade devido ao excesso de trabalho durante a pandemia
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“Todos sofrem, mas quem mais sofre são os soldados da guerra, que são os funcionários do setor de saúde. Então, é importante cuidar deles direito. Sem eles, estamos perdidos”, afirma Pedro Fukuti, médico do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
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Fukuti coordena um núcleo criado no HC para cuidar da saúde mental dos médicos, enfermeiros, auxiliares e outros profissionais que estão na linha de frente do combate à pandemia. Em entrevista ao Estadão, o médico afirmou que 60% dos atendimentos no núcleo envolvem sintomas de ansiedade.
De fato, aqueles que atuam diretamente no enfrentamento à covid-19 estão tendo sua saúde mental especialmente afetada. De acordo com um levantamento divulgado no final de abril pela Associação Paulista de Medicina (APM), 86,6% dos médicos afirmam que seus colegas estão apreensivos, deprimidos, pessimistas, insatisfeitos e revoltados. O futuro também não apresenta um alento para a categoria: 74,5% dos respondentes da pesquisa acreditam que faltarão médicos para o combate à pandemia, no Brasil.
Além disso, entre as principais preocupações que geram essa apreensão nos trabalhadores da saúde está o medo de ser contaminado e, por consequência, transmitir o novo coronavírus para alguém da família. Segundo a pesquisa da APM, 18,5% dos médicos, inclusive, estão evitando contato com os familiares. Uma medida de prevenção que pode aumentar o estresse emocional, por outro lado.
Soma-se a esses fatores a carga de trabalho do setor que, naturalmente, se tornou ainda maior durante a pandemia, fazendo com que os profissionais tenham menos tempo para descanso e relaxamento. A covid-19 gerou um contexto sem precedentes na história recente, que tem exigido muito dos trabalhadores da saúde. As incertezas frente a essa situação aumentam a ansiedade neles, segundo os especialistas, afinal é difícil fazer projeções ou enxergar uma melhora, no curto prazo.
Entre as principais alterações que essa ansiedade causa nos profissionais de saúde estão a apatia e a angústia. Outros podem se sentir mais irritadiços que o normal, com aumento nos conflitos interpessoais. Em casos mais graves, os sintomas podem se tornar físicos, com manifestações como tonturas, taquicardia, dificuldades para dormir e alterações no sistema digestivo. Caso não seja tratado devidamente, esse quadro pode evoluir para uma Síndrome de Burnout ou mesmo para uma depressão clínica.
Por isso, diversos serviços de saúde têm oferecido assistência à sua equipe, como é o caso do Hospital de Clínicas, mencionado anteriormente. Como explica Fukuti, coordenador do programa do HC, “a intenção é evitar que médicos, enfermeiros e outros profissionais sejam afastados. A preocupação está em evitar o afastamento por qualquer transtorno mental e com isso evitar a sobrecarga de quem está trabalhando”.
No Hospital Israelita Albert Einstein, por exemplo, um dos principais métodos é fazer rodas de conversas em cada departamento, para que os profissionais dividam suas emoções com os colegas. “É bom saber que não estamos sozinhos. No meu setor, temos reuniões duas vezes por semana para conversar, falar o que está sendo difícil, entender melhor como estamos sendo vistos”, afirmou o Dr. Moacyr da Silva Júnior, em entrevista para o Estadão.
Além das conversas em grupo, os hospitais também disponibiliza psicólogos e psiquiatras para fazer atendimentos individuais com aqueles que precisarem. Contudo, é importante que os profissionais de saúde reconheçam essa necessidade e procurem ajuda. Uma vez que já trabalham em um ambiente extremamente exigente, eles podem ter dificuldade em reconhecer os sintomas ou tentar lidar com eles por conta própria.
Entre as medidas que trabalhadores da saúde podem adotar para cuidar de sua saúde mental — além de procurar ajuda, é claro — está a manutenção de uma rotina saudável, com boa alimentação e prática de exercícios físicos. Os descanso entre os turnos (ou mesmo dentro do hospital, caso necessário) também são essenciais. Para isso, é importante que o profissional não exija tanto de si mesmo e reconheça suas limitações. Além disso, eles devem evitar hábitos pouco saudáveis para descontar a ansiedade, como o álcool ou o cigarro.
Por fim, os guias de saúde mental também apontam a necessidade de momentos de distração dos problemas do trabalho, bem como de evitar o excesso de informações sobre a pandemia. Exercícios de respiração e a prática de meditação são outros hábitos que podem ajudar.
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Fontes: Estadão, Organização das Nações Unidas, Secretária de Saúde do DF, Faculdade de Medicina da UFMG e Associação Paulista de Medicina.