Covid-19: 3ª dose da vacina pode ampliar desigualdade social - Summit Saúde

Covid-19: 3ª dose da vacina pode ampliar desigualdade social

4 de setembro de 2021 4 mins. de leitura

Aplicação da dose de reforço do imunizante apenas em alguns países pode facilitar o surgimento de novas cepas do Sars-CoV-2

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Cerca de 11 bilhões de doses são necessárias para vacinar totalmente 70% da população mundial contra a covid-19. Até 31de agosto, mais de 5 bilhões de doses, ou aproximadamente metade do total necessário, haviam sido administradas, de acordo com o site Our World in Data

Contudo, mais de 80% das vacinas foram aplicadas em pessoas de países de renda alta e média alta. Por outro lado, apenas 0,3% das pessoas em países de baixa renda receberam pelo menos uma dose. 

Segundo a Oxfam, organização que busca soluções para a desigualdade, 90% da população dos países pobres ficará sem a vacina contra a covid-19 em 2021. Esse cenário é causado porque as nações ricas compraram uma quantidade de doses suficiente para imunizar suas populações inteiras três vezes, consequentemente, aumentando a desigualdade social entre as nações.

Recomendação da terceira dose

Rússia e Israel já aplicam uma dose de reforço da vacina contra covid-19. (Fonte: angellodeco/Shutterstock/Reprodução)
Rússia e Israel já aplicam uma dose de reforço da vacina contra covid-19. (Fonte: angellodeco/Shutterstock/Reprodução)

A dose adicional tem sido recomendada para pessoas imunodeprimidas, a exemplo de pacientes oncológicos ou recém-transplantados. Nestes casos, uma terceira dose não funciona como reforço, mas sim como um auxílio para o sistema imunológico que pode não ter respondido de maneira suficiente às duas aplicações habituais.

No Brasil, o Ministério da Saúde planeja oferecer mais uma dose para idosos acima de 70 anos e imunossuprimidos a partir da segunda quinzena de setembro. O governo de São Paulo anunciou um plano semelhante e deve convocar cerca de 7 milhões de pessoas acima de 60 anos e imunossuprimidos para tomar a terceira dose da vacina. 

A preocupação com a chegada de novas cepas, em especial com a variante Delta, no entanto, leva autoridades a anunciar um reforço para a população em geral. Rússia e Israel foram os primeiros a começar a fornecer a terceira dose de vacinas. Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha também planejam aplicar a dose extra.

Apesar disso, não há consenso científico sobre a efetividade da aplicação adicional. Pelo contrário, a Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia que isso poderá tornar ainda mais difícil o avanço da vacinação nas nações mais pobres.

A entidade pediu uma suspensão do reforço, até o final de setembro, para garantir que os países mais pobres consigam garantir que pelo menos 10% das pessoas em todos os países sejam vacinadas antes que doses extras sejam distribuídas.

Situação dos países mais pobres

Vacinas estão concentradas nos países mais ricos. (Fonte: Our World in Data/Reprodução)
Vacinas estão concentradas nos países mais ricos. (Fonte: Our World in Data/Reprodução)

Os países pobres devem ficar sem vacinação ampla em sua população até 2024, de acordo com estimativa realizada pela publicação do The Economist Intelligence Unit (EIU). A situação mais preocupante está concentrada na África, onde estão 46 estados dos 92 países de baixa e média renda elegíveis para receber doses de forma antecipada pela aliança global Covax Facility.

Os governos africanos tiveram pouco sucesso com os contratos prévios para a compra de vacinas contra a covid-19 junto às farmacêuticas internacionais. O continente depende de um acordo de intenções realizado entre a União Africana e a aliança global, que prevê o envio de 270 milhões de doses das vacinas Pfizer-BioNTech, Oxford-AstraZeneca e da Johnson & Johnson, com entregas até 2022.

Surgimento de novas cepas

Lentidão de vacinação em países pobres favorece o surgimento de novas cepas do Sars-CoV-2. (Fonte: Mukurukuru Media/ShutterstockReprodução)
Lentidão de vacinação em países pobres favorece o surgimento de novas cepas do Sars-CoV-2. (Fonte: Mukurukuru Media/ShutterstockReprodução)

Se a intenção dos países ricos em aplicar uma dose extra é reforçar a imunidade de sua população, a falta de vacinas na maior parte do planeta, além de aumentar a desigualdade, pode provocar o efeito contrário. 

Com a maior disseminação da doença, ampliam-se as chances da aparição de novas variantes genéticas do coronavírus. Sendo assim, o risco de uma baixa eficácia do imunizante aumenta. Para evitar este círculo vicioso, a OMS e especialistas indicam que é necessário acelerar a vacinação globalmente de forma mais equitativa.

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Fonte: Nature, Oxfam, Organização Mundial de Saúde (OMS), The Economist Intelligence Unit, Our World in Data.

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