Aplicação da dose de reforço do imunizante apenas em alguns países pode facilitar o surgimento de novas cepas do Sars-CoV-2
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Cerca de 11 bilhões de doses são necessárias para vacinar totalmente 70% da população mundial contra a covid-19. Até 31de agosto, mais de 5 bilhões de doses, ou aproximadamente metade do total necessário, haviam sido administradas, de acordo com o site Our World in Data.
Contudo, mais de 80% das vacinas foram aplicadas em pessoas de países de renda alta e média alta. Por outro lado, apenas 0,3% das pessoas em países de baixa renda receberam pelo menos uma dose.
Segundo a Oxfam, organização que busca soluções para a desigualdade, 90% da população dos países pobres ficará sem a vacina contra a covid-19 em 2021. Esse cenário é causado porque as nações ricas compraram uma quantidade de doses suficiente para imunizar suas populações inteiras três vezes, consequentemente, aumentando a desigualdade social entre as nações.
A dose adicional tem sido recomendada para pessoas imunodeprimidas, a exemplo de pacientes oncológicos ou recém-transplantados. Nestes casos, uma terceira dose não funciona como reforço, mas sim como um auxílio para o sistema imunológico que pode não ter respondido de maneira suficiente às duas aplicações habituais.
No Brasil, o Ministério da Saúde planeja oferecer mais uma dose para idosos acima de 70 anos e imunossuprimidos a partir da segunda quinzena de setembro. O governo de São Paulo anunciou um plano semelhante e deve convocar cerca de 7 milhões de pessoas acima de 60 anos e imunossuprimidos para tomar a terceira dose da vacina.
A preocupação com a chegada de novas cepas, em especial com a variante Delta, no entanto, leva autoridades a anunciar um reforço para a população em geral. Rússia e Israel foram os primeiros a começar a fornecer a terceira dose de vacinas. Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha também planejam aplicar a dose extra.
Apesar disso, não há consenso científico sobre a efetividade da aplicação adicional. Pelo contrário, a Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia que isso poderá tornar ainda mais difícil o avanço da vacinação nas nações mais pobres.
A entidade pediu uma suspensão do reforço, até o final de setembro, para garantir que os países mais pobres consigam garantir que pelo menos 10% das pessoas em todos os países sejam vacinadas antes que doses extras sejam distribuídas.
Os países pobres devem ficar sem vacinação ampla em sua população até 2024, de acordo com estimativa realizada pela publicação do The Economist Intelligence Unit (EIU). A situação mais preocupante está concentrada na África, onde estão 46 estados dos 92 países de baixa e média renda elegíveis para receber doses de forma antecipada pela aliança global Covax Facility.
Os governos africanos tiveram pouco sucesso com os contratos prévios para a compra de vacinas contra a covid-19 junto às farmacêuticas internacionais. O continente depende de um acordo de intenções realizado entre a União Africana e a aliança global, que prevê o envio de 270 milhões de doses das vacinas Pfizer-BioNTech, Oxford-AstraZeneca e da Johnson & Johnson, com entregas até 2022.
Se a intenção dos países ricos em aplicar uma dose extra é reforçar a imunidade de sua população, a falta de vacinas na maior parte do planeta, além de aumentar a desigualdade, pode provocar o efeito contrário.
Com a maior disseminação da doença, ampliam-se as chances da aparição de novas variantes genéticas do coronavírus. Sendo assim, o risco de uma baixa eficácia do imunizante aumenta. Para evitar este círculo vicioso, a OMS e especialistas indicam que é necessário acelerar a vacinação globalmente de forma mais equitativa.
Fonte: Nature, Oxfam, Organização Mundial de Saúde (OMS), The Economist Intelligence Unit, Our World in Data.