Crise de saúde mental pós-covid foi menor que o esperado

24 de maio de 2023 4 mins. de leitura
Especialistas se reuniram, a convite do Estadão, para falar sobre câncer, formas de prevenção e avanço em tratamentos contra a doença

A pandemia de covid-19 trouxe preocupações além do vírus. O isolamento social e a crise econômica foram catalisadores de uma série de outros problemas, como o aumento de casos de depressão, ansiedade e outras condições psicológicas. Porém, embora os números iniciais tenham sugerido uma crise de saúde mental pós-covid, estudos recentes mostram que o impacto foi muito menor do que o esperado.

Aumento no número de casos de ansiedade e depressão após a pandemia foi menor do que o esperado
Aumento no número de casos de ansiedade e depressão após a pandemia foi menor do que o esperado. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

O que diz o estudo?

O trabalho publicado na revista científica The BMJ condensou dados de 137 estudos realizados em países desenvolvidos da Europa e da Ásia. A partir disso, pesquisadores chegaram a algumas conclusões. Uma delas é de que houve leve piora nos quadros de depressão de forma geral.

Em alguns grupos específicos, como mulheres, idosos, universitários e pessoas LGBTQIA+, o aumento de casos foi mais sensível. Alguns dos estudos sugeriram que as mulheres sofreram mais com a saúde mental no período de isolamento devido ao tipo de trabalho realizado e ao seu papel nas composições familiares.

Apesar disso, cientistas consideraram que houve resiliência muito grande por parte da população no período da pandemia. De forma geral, o aumento de casos de doenças psicológicas, ansiedade e depressão foi pequeno.

Estudos não englobaram países pobres

Apesar dos resultados animadores, o grupo analisado pode ter tido influência nos resultados. Isso porque apenas países desenvolvidos foram analisados nesse processo, o que provavelmente teve impacto na qualidade de vida, na comunicação e na interação durante a pandemia.

Sistemas de saúde estruturados e preparados para lidar com transtornos psicológicos também ajudam a evitar o agravamento e o aumento de casos desse tipo de doença. Países desenvolvidos costumam ter maior acesso nesse quesito quando comparados com países em desenvolvimento.

Alguns grupos de risco, como crianças e adolescentes, também não foram objeto específico do estudo, por isso não é possível afirmar que não houve impacto em determinadas populações, apenas que não há sinal de crescimento generalizado.

De acordo com uma das autoras do trabalho, Gemma Knowles: “Isso pode significar que não houve aumento geral, mas isso não deve ser interpretado como uma sugestão de que a pandemia não teve grandes efeitos negativos entre alguns grupos. Há evidências de outros estudos que mostraram variações consideráveis, como a saúde mental de algumas pessoas melhorando e de outras piorando”.

Pandemia foi pior para crianças

Estudos realizados no Reino Unido mostraram que houve aumento de 77% no contato de crianças com tratamento para doenças psicológicas. De 2018 até 2022, o crescimento foi ainda mais impressionante, chegando a triplicar.

O aumento no número de quadros de doenças psicológicas em crianças foi bastante significativo nos últimos anos
Aumento no número de doenças psicológicas em crianças foi bastante significativo nos últimos anos. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

A falta de interação com outras crianças e a ausência de atividades escolares durante o período de isolamento social são as principais hipóteses para esse crescimento. Além disso, existe aumento significativo na atenção dada por pais e responsáveis para a saúde mental de crianças, o que pode ter influenciado em um número maior de diagnósticos.

Por fim, o trabalho concluiu que a pandemia foi pior para pessoas que já enfrentavam doenças como depressão e ansiedade. Portanto, apesar do aumento no número de casos não ser tão significativo, houve piora no quadro de pacientes já instáveis.

Fonte: BMJ, BBC

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