Desnutrição: o que é e como reverter?

8 de maio de 2023 5 mins. de leitura
A doença de natureza clínico-social está diretamente ligada a condições socioeconômicas, por isso exige abordagem multifatorial

A desnutrição é um problema grave de saúde pública no mundo todo, especialmente entre crianças. Segundo um estudo publicado na revista The Lancet, em 2013, problemas relacionados à desnutrição são responsáveis por quase metade de todas as mortes de crianças no mundo — o que representa, aproximadamente, 3,1 milhões de óbitos por ano.

Para aquelas que conseguem chegar à fase adulta, as consequências da desnutrição são permanentes. Pesquisadores afirmam que a privação da alimentação adequada desde o início da vida pode causar sérios impactos no desenvolvimento físico e cognitivo de uma pessoa, especialmente porque a infância é a fase em que o corpo humano mais precisa de nutrientes.

No Brasil, o cenário não é diferente. Apesar de o índice de desnutrição entre crianças menores de 5 anos ter caído 65,5% entre 2007 e 2018, a crise econômica causada pela pandemia de covid-19 aumentou drasticamente os níveis de insegurança alimentar no País, o que fez que as taxas de desnutrição voltassem a crescer.

Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 2021, o Brasil teve o pior índice de crianças de até 1 ano internadas por desnutrição dos últimos 14 anos: foram cerca de oito bebês hospitalizados por dia por falta de comida, chegando a 2.939 internações durante o ano.

Populações mais vulneráveis

A desnutrição é considerada uma doença de natureza clínico-social, pois envolve aspectos econômicos, sociais e culturais que podem dificultar o acesso à alimentação balanceada. Por isso, algumas populações acabam sendo mais suscetíveis a ela, principalmente nas Regiões Norte e Nordeste, na área rural do Brasil e nos bolsões de pobreza das periferias das grandes cidades.

Para indígenas, o cenário é ainda mais preocupante. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), aproximadamente 30% das crianças indígenas brasileiras são afetadas por desnutrição crônica. Entre o povo Yanomami, as taxas são ainda maiores: mais de 80%.

Desde o início de janeiro de 2023, o Brasil tem acompanhado o resgate de indígenas Yanomami, especialmente crianças, com casos severos de desnutrição e malária. A situação sanitária e alimentar dos mais de 28 mil indígenas que vivem na reserva Yanomami é crítica há anos, mas tem piorado nos últimos meses, principalmente por conta do avanço do garimpo ilegal.

Crianças são mais suscetíveis à desnutrição, já que dependem de adultos para obter alimentos. (Fonte: GettyImages/Reprodução)

Então, com a volta do aumento de casos de desnutrição no País, especialmente entre as populações mais vulneráveis, quais ações devem ser tomadas para identificar e tratar a doença? Veja a seguir mais informações.

Desnutrição proteico-energética (DPE)

A desnutrição, conhecida pelo nome técnico desnutrição proteico-energética (DPE), é uma doença caracterizada como deficiência de calorias ou de um ou mais nutrientes essenciais. Dessa forma, pode-se dizer que ela é um desequilíbrio entre as necessidades de energia do organismo e o que está realmente sendo consumido pelo indivíduo.

Existem diversos fatores que podem levar à desnutrição, como falta de acesso a alimentos ou incapacidade de prepará-los, presença de alguma condição de saúde que dificulte a ingestão ou a absorção de nutrientes ou quando a necessidade calórica da pessoa é mais alta que a média.

Geralmente, pacientes desnutridos apresentam sintomas característicos, como magreza extrema, ossos salientes, pele seca e sem elasticidade, olhos e bochechas fundos e cabelo ressecado, que cai com facilidade. Para diagnosticar essa condição, é necessária uma avaliação clínica realizada por um profissional de Saúde.

A desnutrição pode ser leve, moderada ou grave, dependendo da relação matemática entre o peso e a altura esperados para a idade da pessoa. Quando se trata das causas da doença, a DPE é classificada entre:

  • primária — causada pela ingestão inadequada de nutrientes e calorias, seja de forma quantitativa, seja qualitativa; normalmente, ocorre em regiões de maior vulnerabilidade social, onde razões econômicas dificultam o acesso à alimentação;
  • secundária — também causada pela ingestão insuficiente de nutrientes e calorias, mas por outro motivo: aumento das necessidades energéticas do corpo, por influência de questões de saúde ou pelo uso de medicamentos que interferem na absorção de nutrientes; por exemplo, presença de verminoses e intolerâncias alimentares.

Como tratar?

Segundo especialistas, para reverter um quadro de desnutrição, a reintrodução alimentar deve ser feita aos poucos, pois dar comida de mais de uma só vez a um paciente desnutrido pode ser perigoso. Por isso, o protocolo varia em cada caso.

Sempre que possível, é indicado que o paciente se alimente por via oral, mas, em quadros mais graves, a administração de alimentos pode ser feita por meio de um tubo inserido no trato digestivo (alimentação por sonda) ou por um cateter na veia (alimentação intravenosa).

De qualquer forma, é importante que pacientes recebam atendimento especializado e sejam acompanhados durante todo o processo, para que outras doenças relacionadas às condições de vida, como a malária, também possam ser tratadas.

E, é claro, é essencial que essas pessoas sejam assistidas para que tenham acesso a uma alimentação balanceada e nutritiva no dia a dia, para que o quadro de desnutrição não se repita.

Fonte: Sanarmed, Manual MSD

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