Até 60% de pacientes que usam inibidores seletivos de recaptação de serotonina relatam o problema
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A sensação de entorpecimento, caracterizada pela redução de energia para realizar atividades prazerosas, é uma queixa comum entre pessoas que usam certos tipos de antidepressivo. O problema foi alvo de uma pesquisa conduzida por cientistas das Universidades de Cambridge (Reino Unido) e de Copenhague (Dinamarca).
Segundo o artigo publicado na revista Neuropsychopharmacology, em 23 de janeiro, o “embotamento emocional”, estado de apatia que faz o indivíduo se desligar de sentimentos negativos e positivos, é efeito colateral de alguns medicamentos para tratar depressão. Especialistas estimam que entre 40% e 60% dos usuários experimentam a sensação.
O entorpecimento tem relação com a forma como os inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS) afetam o aprendizado por reforço, relacionado às capacidades de tomada de decisão. Trata-se de um conjunto de comportamentos baseados em recompensas para atingir metas.
Para compreender os impactos do uso prolongado dos ISRS, os pesquisadores realizaram um estudo com 66 voluntários. Destes, 32 receberam o antidepressivo escitalopram, que atua sob a serotonina, um neurotransmissor também conhecido como “hormônio da felicidade”, enquanto os 34 restantes foram tratados com placebo.
Todos os participantes tomaram o medicamento ou o placebo durante 21 dias, pelo menos, e precisaram responder a um questionário para avaliar sintomas depressivos, ansiedade, impulsividade e traços de personalidade, além de testar as capacidades de aprendizado, tomada de decisão e execução de tarefas diárias.
Embora não tenha havido diferenças em relação à memória e à atenção, os resultados mostraram que os voluntários tratados com 20 miligramas do antidepressivo apresentaram menor sensibilidade ao aprendizado por reforço. Isso acontecia independentemente de feedback positivo ou negativo e afetava a rapidez das respostas.
Os participantes que usaram o antidepressivo tiveram “menor processamento neural de estímulos gratificantes e aversivos”, conforme os especialistas. Os questionários respondidos por eles ainda mostraram outros efeitos colaterais, além do embotamento emocional, como dificuldade para atingir o orgasmo durante uma relação sexual.
Sobre a disfunção sexual, os pesquisadores acreditam que ela aconteça devido à menor sensação de prazer experimentada por pacientes depressivos de forma geral. Estudos anteriores apontaram a mesma relação, mas os autores da investigação mais recente declararam ser necessário realizar um estudo mais específico a respeito do tema.
Apesar de alguns tipos de ISRS reduzirem a dor emocional causada pela depressão ao mesmo tempo que retiram parte do prazer, eles continuam sendo uma solução importante. “Não há dúvidas de que os antidepressivos são benéficos”, afirmou a professora Barbara Sahakian, da universidade britânica, autora principal do artigo.
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Para a especialista, as descobertas feitas pela equipe esclarecem, para pacientes, os efeitos aos quais são expostos quando utilizam tal classe de remédios. Dessa forma, algumas pessoas podem optar por outras formas de tratamento que não as entorpeçam tanto, se o quadro clínico permitir.
Fonte: Forbes, Neuropsychopharmacology, The Guardian