Micróbios no intestino influenciam a saúde mental

17 de março de 2020 4 mins. de leitura
Evidências demonstram um vínculo entre as bactérias intestinais e o equilíbrio químico do cérebro

De acordo com uma pesquisa realizada pelo MyNewGut, um projeto coordenado pelo Conselho Superior de Investigações Científicas da Espanha, os micróbios do intestino têm uma relação direta com a saúde mental: uma dieta rica em fibra pode estar associada à redução dos sintomas de depressão; já uma alimentação rica em gordura teria um impacto negativo tanto no microbioma intestinal quanto no cérebro.

Para realizar o estudo, o grupo recebeu um financiamento de 13 milhões de euros e reuniu 30 instituições associadas a 15 países da Europa, América do Norte e Oceania. O principal objetivo do consórcio foi pesquisar a influência do microbioma intestinal na saúde mental para combater doenças e comportamentos relacionados à dieta. Participaram do estudo especialistas de ciências ômicas, pesquisa cerebral, modelagem computacional, imunologia, microbiologia, fisiologia e nutrição, entre outras áreas.

(Fonte: Shutterstock)

A flora intestinal tem uma comunicação direta com o cérebro e permite controlar a digestão. Sabe-se que os microrganismos do intestino influenciam a forma como metabolizamos os precursores de neurotransmissores importantes para a atividade cerebral, como serotonina e dopamina, por isso o grupo concluiu que pessoas no espectro autista, com ansiedade e depressão têm baixa variedade e quantidade de bactérias no intestino.

Como a composição do microbioma intestinal tem uma relação direta com a alimentação, as pesquisas se concentraram mais especificamente no papel das proteínas, gorduras e fibras. Testes em camundongos indicaram que as dietas ricas em gordura saturada, além da obesidade, estão relacionadas com sintomas comuns em casos de depressão.

Os especialistas também realizaram vários testes de intervenção em humanos. Estudos feitos de forma independente pelo Instituto Flamenco para Biotecnologia (VIB), na Bélgica, e pela Universidade de Groningen, na Holanda, analisaram fezes de 4 mil pessoas e chegaram a resultados parecidos.

A conclusão foi de que cada ser humano têm uma composição única de micróbios no intestino; a semelhança entre o microbioma intestinal de dois indivíduos é de, no máximo, 10%. Ainda assim, foram identificados os mesmos 14 grupos de microrganismos em 95% dos indivíduos pesquisados, além de 664 grupos de micróbios, mostrando a complexidade da flora intestinal humana.

(Fonte: Shutterstock)

Com esses dados, os cientistas do MyNewGut concluíram que uma dieta com alta ingestão de proteínas ou rica em gorduras é capaz de reduzir o número e a variedade de micróbios no intestino.

Abundância de calorias e carboidratos, comida industrializada, leite integral e medicamentos como ansiolíticos, antibióticos e antidepressivos também estão relacionados com a baixa diversidade microbiana. Já alimentos como vinho, iogurte, café e ricos em fibra ajudam a aumentar o número e a variedade das bactérias, tornando o intestino um ambiente mais saudável. As gorduras ricas em ácidos graxos poliinsaturados ômega 3 ou ômega 6 parecem não afetar negativamente a microbiota.

Os pesquisadores alertam que nenhuma bactéria em si é responsável por alterações mentais, mas sim a proporção geral das diferentes famílias de microrganismos.

Descoberta de novos micróbios

O MyNewGut descobriu que novas espécies de micróbios em pessoas saudáveis podem ser eficazes contra obesidade, distúrbios metabólicos e do cérebro, como depressão. Esses microrganismos atuam nas vias endócrinas e imunológicas que afetam as saúdes mental e física. Os especialistas também identificaram bactérias que têm um impacto positivo no estresse, na qualidade do sono e liberação de cortisol, descobertas que podem proporcionar novos tratamentos probióticos por meio da dieta, ao mesmo tempo que um tratamento mais tradicional ou até substituindo-o.

O projeto também realizou transplantes de microbiota fecal (FMT, em inglês) para restaurar distúrbios associados a disbiose, com resultados positivos na restauração da flora intestinal e da capacidade do intestino para absorver nutrientes adequadamente.

Fontes: MyNewGut, Eufic, Science Magazine, BBC.

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