Qual é o impacto da família no desenvolvimento infantil?

17 de março de 2020 5 mins. de leitura
De acordo com estudos, 70% da arquitetura cerebral são desenvolvidos nos primeiros 6 anos de vida

A primeira infância, período que corresponde aos 6 anos iniciais de vida, é fundamental para os desenvolvimentos físico, emocional, cognitivo e cultural do ser humano. Nesse período, é essencial a construção de vínculos pela criança para a formação e o fortalecimento dos circuitos neurais. Os vínculos familiares são essenciais nesse processo, uma vez que os principais cuidadores das crianças são pais, irmãos, avós, tios e primos, podendo incluir vizinhos e amigos da família.

Aproximadamente 70% da arquitetura cerebral são desenvolvidos e organizados durante a primeira infância. Quanto mais novo é o ser humano, mais intenso é o processo de desenvolvimento cerebral. Estudos da neurociência indicam que nos primeiros mil dias de vida são formadas cerca de 700 novas conexões neurais no cérebro a cada segundo.

Nas primeiras semanas de gestação, a estrutura cerebral se desenvolve a partir de um intenso processo de multiplicação de células chamadas neuroblastos, que depois se transformaram em neurônios. Logo após, a população neuronal começa um processo de migração para as seis camadas do córtex cerebral e para outras regiões importantes do cérebro. Quando chegam aos locais definitivos, os neurônios começam a se conectar e formar os circuitos cerebrais. Esse processo é chamado de sinaptização e continua por vários anos da vida do indivíduo.

Em seguida, o cérebro começa o processo de mielinização, com o revestimento das fibras sinápticas pela mielina, que tem a função de facilitar o estímulo nervoso. Esse sistema é iniciado no nascimento e se estende por várias décadas.

Contribuição familiar no desenvolvimento cerebral

(Fonte: Shutterstock)

O cérebro infantil precisa de uma estimulação adequada para se apropriar da informação e formar novas conexões para o desenvolvimento de seu tecido. Na maioria das vezes, esse estímulo é realizado pelos pais, e o aprendizado é melhor quando vem acompanhado de um vínculo afetivo.

A afetividade é criada quando os adultos são fontes de segurança e acolhimento para as crianças. Por essa razão, é imprescindível que a família tenha sensibilidade de reconhecer a criança como um ser ativo em suas interações e saiba balancear a imposição de limites adequados com o reconhecimento das realizações do pequeno. Assim, na primeira infância, podem ser desenvolvidas a capacidade de empatia por meio do afeto, a segurança e o vínculo.

A ligação é ainda mais forte quando se trata da interação entre mãe e criança. O vínculo entre os dois começa ainda na gestação e se estende para as primeiras conquistas do bebê tanto no desenvolvimento motor quanto psíquico. A capacidade da mãe de lidar com as próprias emoções e as do filho, desde o início, é influenciada pelas experiências vividas durante a gravidez e tem consequências nos desenvolvimentos psíquico e socioemocional ao longo da vida.

Caso a família não esteja disponível para atender às necessidades da criança, o cérebro infantil pode criar vínculos frágeis, com potencial para desencadear problemas emocionais, comportamentais ou cognitivos futuros. Maus-tratos e outros problemas na infância, como episódios de estresse, separações, doença e violência, podem provocar um aumento de distúrbios posteriores, físicos e psíquicos, como dificuldades escolares e ajustamento social e emocional, mesmo quando adultos.

Outros fatores também podem ter resultados negativos no desenvolvimento do cérebro na primeira infância. Estudo de 2014 da Academia Americana de Pediatria, referência para profissionais do mundo todo, apontam que o aumento de horas que as crianças ainda pequenas ficam em frente às telinhas tem um impacto negativo. Obesidade, queda do desempenho escolar e distúrbios do sono são associados a esse uso abusivo. Pesquisa complementar da mesma associação aponta que até mesmo uma TV continuamente ligada em uma sala onde a criança está desenvolvendo outra atividade tem impacto em várias funções cognitivas, como organização da memória, planejamento e socialização.

Os bebês são ainda mais prejudicados, pois, ainda que estejam fascinados com os sons e as cores da televisão, seu cérebro não é capaz de dar sentido às imagens, uma vez que seu repertório interno é construído em correlações com o mundo exterior.

A importância de brincar em família

(Fonte: Shutterstock)

Brincar em família tem um papel fundamental na evolução cerebral da criança. A pesquisa da Academia Americana de Pediatria aponta que ações como falar olhando nos olhos dos bebês, conversar e brincar com eles constantemente tem um impacto no grau de desenvolvimento cognitivo, que já pode ser notado aos 18 meses de idade.

A brincadeira na primeira infância também contribui para desenvolver a criatividade, a comunicação, o humor e a sociabilidade. Ensinar cantando ou explicando por imagens, por exemplo, pode favorecer o surgimento de indivíduos mais resilientes e equilibrados e com mais chances de aprendizado.

Fontes: Núcleo Ciência pela Infância, Agência Brasil, Comissão de Valorização da Infância e da Cultura da Paz do Senado Federal.

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