Muitos pacientes têm recorrido a intervenções religiosas e espirituais em busca do alívio de sintomas ou da cura de doenças
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Ao chegar ao consultório médico para relatar algum tipo de sintoma, a maioria dos pacientes não apenas busca um diagnóstico concreto mas também um tratamento. Na falta de uma explicação científica, busca-se na fé, na religião ou em alguma instância espiritual um conceito suprafísico capaz de aliviar a ansiedade e fornecer uma esperança de cura.
Através dos tempos, a medicina e a religião estiveram imbricadas, às vezes com mais intensidade, outras com menos; porém somente na virada do século XX para o XXI a literatura científica começou a apresentar estudos consistentes sobre a importância dos aspectos religiosos e espirituais na saúde física e mental dos pacientes.
Sabe-se que a religiosidade e a espiritualidade podem auxiliar na prevenção de cardiopatias e até mesmo neoplasias. Nos casos em que as enfermidades já se encontram instaladas, há relatos de alívio dos sintomas e aumento da sobrevida. Uma das explicações para o fenômeno é que, ao encontrar um propósito para a vida humana, a religião auxilia os pacientes no enfrentamento das doenças e na aceitação do estado de impermanência.
Dessa forma, a religiosidade e a espiritualidade têm se afirmado na literatura científica como elementos de apoio para indivíduos que vivenciam situações estressantes, o que leva várias lideranças da área de saúde a sugerirem a avaliação da espiritualidade como um item complementar aos cuidados médicos.
Estudos efetuados nos Estados Unidos da América mostram um país com elevados índices populacionais de religiosidade e espiritualidade. Já na Europa há certa discrepância, existindo países com elevada prática religiosa (Irlanda, Romênia e Polônia), com práticas religiosas reduzidas (República Checa, Estônia e França) e nações muito religiosas com poucas práticas, como é o caso de Portugal, e até como a Suécia, onde o nível de religiosidade é baixo em relação às práticas.
No Brasil, uma pesquisa conduzida na Universidade Federal de Juiz de Fora por Alexander Moreira-Almeida, Ilana Pinsky, Marcos Zaleski e Ronaldo Laranjeira, publicada na Revista de Psiquiatria Clínica em 2010, revela que 83% da população consideram a religião um aspecto muito importante na própria vida e apenas 5% decidiram não ter qualquer tipo de vínculo religioso.
Enfrentando dilemas éticos e dificuldades metodológicas nos instrumentos de avaliação, pesquisas têm investigado relações de marcadores biológicos (cortisol, sistema nervoso autônomo, imunológico, cardiovascular) com base em aspectos religiosos e espirituais. São vários exemplos que comprovam essa relação:
Embora, em termos metodológicos, a bibliografia que estuda a relação entre religião, espiritualidade e saúde ainda esteja “engatinhando”, pesquisas têm se tornado mais frequentes e abrangentes. E os resultados até o momento indicam um futuro promissor quando se fala na intervenção da fé na qualidade de vida dos pacientes.
Fontes: Jornal da USP, Divisão de Pesquisa do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, Purdue University, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Departamento de Psiquiatria — Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).