Relacionado a interações sociais ou de desempenho, quadro pode ser marcado por sintomas físicos e levar a crises de pânico Por Leon Ferrari – editada por Mariana Collini em 22/05/2025 Todos nos sentimos preocupados, em maior ou menor grau, com o que os outros pensam ou pensarão sobre nós. Isso fica mais evidente em situações […]
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Relacionado a interações sociais ou de desempenho, quadro pode ser marcado por sintomas físicos e levar a crises de pânico
Por Leon Ferrari – editada por Mariana Collini em 22/05/2025
Todos nos sentimos preocupados, em maior ou menor grau, com o que os outros pensam ou pensarão sobre nós. Isso fica mais evidente em situações específicas, como o almoço para conhecer a sogra, o primeiro dia de aula em uma escola nova e a apresentação de algum trabalho para uma plateia cheia.
Para a grande maioria de nós, esses momentos de tensão são breves, pontuais e não chegam a ser incapacitantes, bem diferente do que ocorre com aqueles diagnosticados com o transtorno de ansiedade social.
Antigamente chamado de fobia social — terminologia que persiste popularmente —, o quadro é descrito como “medo ou ansiedade persistentes diante de uma ou mais situações sociais em que a pessoa possa ser observada/avaliada por outros”, caracteriza-se como um sofrimento constante e pode levar a severas complicações, como ataques de pânicos e evitação — ou seja, evitar de atividades que exijam engajamento social.
Psiquiatras fazem questão de reforçar que o transtorno de ansiedade social não é sinônimo de timidez — ao contrário do que algumas pessoas possam pensar.
“A timidez é um funcionamento da personalidade do indivíduo. É algo contínuo ao longo de um tempo, enquanto a ansiedade social é um transtorno que envolve, muitas vezes, algum momento da vida mais específico”, diferencia o psiquiatra Gabriel Okuda, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
“Apenas uma pequena parcela das pessoas que se identificam como tímidas preenche os critérios diagnósticos para o transtorno de ansiedade social”, completa o psiquiatra Jair de Jesus Mari, professor titular do departamento de psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Entre eles, os sintomas persistem por 6 meses ou mais.
Confira cinco pontos essenciais para entender melhor o transtorno:
1. Apreensão em relação ao outro
De acordo com Mari, essa ansiedade pode envolver tanto situações de desempenho — como apresentar um trabalho na escola — quanto interações sociais — comer em público, por exemplo. Em geral, ela é desproporcional à ameaça real representada por essas situações, considerando o contexto sociocultural.
“O foco da apreensão está na possibilidade de agir de maneira constrangedora ou de apresentar sintomas de ansiedade que possam ser julgados negativamente pelos outros”, explica.
No livro Social anxiety: hidden fears and shame in teens and adults (Ansiedade social: medos ocultos e vergonha em adolescentes e adultos, em tradução livre) publicado nos EUA no ano passado, os psicólogos Thomas Brown e Ryan Kennedy escrevem que trata-se de uma ansiedade relacionada ao “outro”. Em geral, afirmam, esses “outros” são desconhecidos, isto é, alguém que está na mesma loja ou restaurante, por exemplo.
Mas, às vezes, as suposições envolvem pessoas conhecidas. “‘O que minha mãe ou pai, esposa ou marido, filho ou filha, amigo próximo ou mentor pensariam se algum dia descobrissem sobre esses pensamentos ou desejos que às vezes tive ou sobre essas ações nas quais me envolvi?’”, exemplificam na publicação.
2. Evitação
Um dos aspectos centrais do transtorno é algo que os especialistas chamam de evitação. Na prática, devido ao medo e à ansiedade, o paciente começa a evitar situações sociais.
Em crianças e adolescentes, um exemplo clássico é querer faltar à aula. “A criança, na hora de ir para o colégio, começa a chorar, espernear, vai querer ficar agarrada na mãe, não vai querer descer do carro”, descreve Okuda.
Embora a maior prevalência seja entre crianças e adolescentes, adultos também podem enfrentar o transtorno de ansiedade social. Para eles, de acordo com Okuda, os quadros costumam surgir durante alguma mudança importante de vida, como uma promoção no trabalho.
Segundo os especialistas, muitos pacientes podem ter dificuldade de buscar ajudar e, no caso de crianças e adolescentes, podem até ter uma dificuldade de expressar e nomear o que estão sentindo, o que salienta a importância de pessoas mais próximas ficarem atentas a mudanças de comportamento.
“O indivíduo começa a ficar um pouco mais recluso. Alguém que conseguia lidar com o ambiente social de uma forma muito mais fácil, chamava amigos em casa, ia ao happy hour da empresa e encontrava a família com mais tranquilidade, começa a evitar as situações sociais”, fala Okuda, sobre sinais de alerta.
“A busca precoce por ajuda profissional é fundamental, pois quanto mais tempo se leva para iniciar o tratamento, pior tende a ser o prognóstico”, frisa Mari.
3. Sintomas físicos
O transtorno também pode ter manifestações físicas. Mari lista algumas delas:
rubor facial;
suor excessivo (sudorese) — especialmente no rosto, palmas das mãos ou axilas;
tremores;
boca seca;
dificuldade para falar;
palpitações;
falta de ar;
náuseas;
dor abdominal;
tensão muscular;
tontura.
Esses sintomas podem tornar a angústia ainda maior. “Porque o paciente pensa: ‘Poxa, vão perceber que estou ansioso, com medo’. E isso gera um feedback positivo para piora dos sintomas”, comenta Okuda.
Em alguns casos, o paciente pode ter crises/ataques de pânico. “Com sintomas adicionais como formigamento ou dormência, sensações de irrealidade ou de distanciamento de si mesmo, medo de perder o controle ou ‘enlouquecer’, e temor intenso de estar tendo um ataque cardíaco fatal e morrer”, explica Mari.
4. Comorbidades
Okuda lembra que podem haver comorbidades — isto é, condições de saúde que ocorrem ao mesmo tempo. No caso da fobia social, segundo ele, os transtornos depressivo e por uso de substância são os mais comuns.
“Quando falamos de quadros mais graves de ansiedade social, e o indivíduo não quer sair de casa ou do quarto, isso favorece, por exemplo, o desenvolvimento de um quadro depressivo”, explica.
Tem quem recorra ao álcool para ficar mais relaxado antes de encontrar os amigos ou participar de algum evento social. “Aí começa a beber mais, usar outras drogas”, acrescenta.
5. Tratamento
De acordo com os especialistas, em geral, esses pacientes têm indicação de sessões de terapia cognitivo-comportamental e uso de medicações da classe dos antidepressivos (embora o nome remeta à depressão, sabe-se que funcionam no tratamento de outros transtornos mentais).
Em alguns casos, podem ser usados calmantes — da classe dos benzodiazepínicos — ou remédios que diminuam a frequência cardíaca — a exemplo do propranolol.
Aqui, pode ser necessário utilizar a chamada terapia da exposição. Ela viralizou recentemente nas redes sociais, ganhando até o nome de “terapia da rejeição”, mas de uma forma completamente desvirtuada de sua proposta original.
Ela envolve exercícios no qual o paciente é, pouco a pouco, exposto a uma situação que ele teme. A ideia é diminuir sua resposta excessiva de medo. A terapia pode começar, por exemplo, com o uso de imagens e realidade virtual, para, só depois, promover um contato real com o objeto que causa ansiedade e medo.
Foto: chalani/Adobe Stock/Gerado com IA