Uso de células-tronco é promissor contra esclerose múltipla

22 de março de 2023 4 mins. de leitura
Mais de 2 milhões de pessoas sofrem com esclerose múltipla no mundo

Devido à ausência de estratégias eficientes para tratar a esclerose múltipla progressiva, pesquisadores italianos realizaram um ensaio clínico de fase 1, prospectivo e terapêutico exploratório, no Hospital San Raffaele (em Milão, na Itália), a fim de avaliar a viabilidade, a segurança e a tolerância do uso de células-tronco como estratégia de tratamento combinado de imunomodulação e neuroproteção em pacientes da doença.

Detalhes do estudo

O estudo contou com 12 participantes, com idades entre 18 anos e 55 anos, diagnosticados com a doença entre 2 anos e 20 anos atrás, todos com esclerose múltipla progressiva (variante que piora com o tempo). Eles foram submetidos a um procedimento para injeção de células-tronco neurais retiradas do cérebro de um feto abortado.

As células foram inseridas no fluido espinhal dos participantes, uma vez que elas têm potencial para se transformar em células do sistema nervoso. Isso é válido para casos de esclerose múltipla porque nessa condição o sistema imunológico ataca justamente as células nervosas e as terminações que “protegem” o cérebro e a medula espinhal.

Como consequência dos danos causados ao sistema nervoso, pode ocorrer perda de visão, fadiga e até paralisia. Nesse sentido, a gravidade dos sintomas foi um dos fatores que motivaram os pesquisadores do San Raffaele Scientific Institute, de forma que foi satisfatório notar que as células-tronco neurais se mostraram promissoras como forma de tratamento da doença.

Isso porque, nos dois anos seguintes ao procedimento, nenhum participante apresentou reação adversa. Além disso, três meses após o transplante, aqueles que receberam uma dose maior de células-tronco apresentaram níveis mais altos de moléculas protetoras de neurônios.

Também dois anos após as células terem sido injetadas, foi constatado que o grupo que recebeu a dose mais alta apresentou massa cinzenta no cérebro maior do que os que receberam doses menores. Esses resultados indicam que as células-tronco permitem uma possível regeneração dos danos causados ao sistema nervoso e abrem espaço para que novos e maiores ensaios clínicos sejam realizados.

Mais estudos podem ser conduzidos para complementar a análise clínica. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Entendendo a doença

A esclerose múltipla é uma doença inflamatória crônica autoimune na qual o sistema imunológico compromete o sistema nervoso a partir de danos causados às células, bem como às fibras nervosas subjacentes ao cérebro, aos nervos ópticos e da medula espinhal.

Os sintomas vão e voltam, independentemente do tratamento realizado, de forma que a pessoa pode passar mais de um ano sem manifestações e depois voltar a apresentar sinais da doença. Entre os principais sintomas estão visão turva, alterações no controle da urina, fraqueza, formigamento das pernas, perda visual prolongada, desequilíbrio e tremores.

Qual célula é afetada na esclerose múltipla?

Como a esclerose múltipla é uma doença autoimune, que atinge principalmente o cérebro, os nervos ópticos e a medula espinhal, diferentes células do corpo são afetadas, mas ela é essencialmente desencadeada pelo ataque do sistema imunológico ao sistema nervoso e à camada protetora dos neurônios (mielina).

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Qual estrutura do neurônio é danificada na esclerose múltipla?

A esclerose múltipla afeta e danifica diretamente a mielina (ou bainha de mielina), uma camada de proteção neural que nada mais é do que uma substância rica em gordura. Ela envolve os axônios, que são prolongamentos especializados na condução de impulsos nervosos, os quais transmitem informações do neurônio para células de outras regiões do corpo.

Quando isso ocorre, os nervos não são capazes de enviar e receber as mensagens como deveriam, de forma que a doença pode enfraquecer os músculos, prejudicar a coordenação motora e causar paralisias. Em alguns casos, as fibras nervosas também são afetadas.

Como a esclerose múltipla danifica terminações nervosas, pacientes podem apresentar sintomas motores e sensoriais. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Fonte: Nature, Pfizer

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