Vacina universal contra a gripe: como vai funcionar?

16 de janeiro de 2023 4 mins. de leitura
Ainda em fase experimental, a vacina ofereceu proteção contra todos os subtipos conhecidos do vírus influenza A e B

Uma nova vacina universal contra a gripe pode estar disponível nos próximos dois anos. O imunizante, ainda em fase experimental, é resultado de uma pesquisa desenvolvida na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e ofereceu proteção contra todos os 20 subtipos conhecidos do vírus influenza A e linhagens de vírus influenza B, o que pode ser um importante fator na prevenção de futuras pandemias.

Publicado recentemente na revista científica Science, o estudo utilizou a tecnologia de RNA mensageiro (RNAm), que vem há mais de duas décadas sendo analisada e avançou durante a pandemia da covid-19, quando foi colocada em prática e aplicada em larga escala na produção de algumas das vacinas contra o coronavírus aprovadas pelos órgãos reguladores de saúde.

Segundo os pesquisadores, os testes foram feitos em camundongos e furões, que passaram a ter altos níveis de anticorpos de reação cruzada e específicos de subtipo, protegendo-os da ampla variedade de cepas do vírus influenza. “Nossos estudos indicam que as vacinas de RNA mensageiro podem fornecer proteção contra vírus antigenicamente variáveis, induzindo simultaneamente anticorpos contra múltiplos antígenos”, afirmaram os especialistas no artigo divulgado.

Ensaios em humanos são planejados

Ensaios clínicos já estão em planejamento para que sejam verificadas a eficácia e a segurança do imunizante multivalente também em humanos. Três etapas de testes obrigatórios teriam que ser realizadas.

Atualmente, os imunizantes antigripais disponíveis no Brasil são trivalentes e quadrivalentes, ou seja, oferecem defesa para três e quatro cepas dos vírus A e B, respectivamente. A formulação é definida ano a ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que, devido às mutações do vírus, toma como base as cepas circulantes no ano anterior no Hemisfério Sul.

Vacinas antigripais disponíveis no Brasil oferecem defesa para três ou quatro cepas dos vírus. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
Vacinas antigripais disponíveis no Brasil oferecem defesa para 3 e 4 cepas do vírus influenza. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

A tecnologia, considerada segura em todo o mundo, é a do vírus inativado, que utiliza o próprio patógeno a ser combatido, morto ou formado por meio das próprias partículas, fazendo que o corpo o reconheça como um agente estranho e produza uma resposta imunológica preventiva à infecção.

Memória imunológica é o objetivo

As vacinas desenvolvidas por meio da tecnologia de RNA mensageiro são fabricadas de forma sintética e carregam uma parte do material genético do vírus, que entra nas células quando elas são injetadas. A partir das estruturas celulares, uma proteína do agente infeccioso é gerada e estimula o sistema imunológico a se defender. No caso do imunizante universal, as células criaram proteínas hemaglutininas, que ficam na camada externa da influenza.

Tecnologia utilizada é a de RNA mensageiro. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
Tecnologia utilizada é a de RNA mensageiro, cujas vacinas são fabricadas de forma sintética. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Os cientistas que desenvolveram o estudo informaram que o objetivo é ter uma vacina que proporcione um nível básico de memória imunológica para os diversos subtipos da influenza. O organismo estaria, portanto, preparado para os reconhecer, evitando casos graves e mortes em uma próxima pandemia de gripe, mesmo com possíveis mutações do vírus.

O influenza foi o causador de pandemias como a da gripe espanhola, no início do século passado, entre 1918 e 1919, que matou 50 milhões de pessoas em todos os continentes, conforme historiadores, e mais recentemente em 2009, na da chamada gripe suína, cujo vírus teria vindo de porco e aves, vitimando cerca de 300 mil pessoas em 187 países.

Fonte: Science, Instituto Butantan, PFarma, Ufes

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