Conheça os estudos mais avançados que podem criar uma imunização para o vírus do HIV
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A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) assusta a população desde o começo dos anos 1980, quando foi descoberta nos Estados Unidos. Na época, não existiam tratamentos eficazes para o controle e a cura da doença, que era tida como uma sentença de morte.
Em 1984, Margaret Heckler, então secretária de saúde dos EUA, disse acreditar que uma vacina para prevenir a disseminação do vírus HIV estaria pronta em 2 anos. Infelizmente, passadas mais de 3 décadas e meia, a humanidade ainda sonha com a chegada desse dia.
Até hoje, a cura não foi alcançada, mas os tratamentos evoluíram a ponto de os soropositivos terem uma vida completamente normal e tão longa quanto teriam caso não tivessem contraído o HIV. Ainda assim, a busca por uma imunização está no centro das pesquisas de diferentes cientistas.
As maiores dificuldades estão no fato de que o HIV é um vírus bastante inteligente: ele se esconde no sistema imunológico, dificultando sua erradicação, e é altamente adaptável, com muitas variantes. Por isso, criar uma vacina que seja eficiente para todos os casos tem sido uma luta árdua.
Mas a esperança está renovada: acredita-se que a vacina pode ficar pronta até o fim de 2021. Atualmente, três pesquisas estão bastante avançadas na busca de uma possível cura para a epidemia de HIV: HVTN 702, Imbokodo e Mosaico.
A Rede de Pesquisas de Vacina Anti-HIV (HVTN, na sigla em inglês) conecta médicos, cientistas e ativistas na busca de uma imunização contra a AIDS. O estudo 702 entrou no estágio de ensaio clínico em outubro de 2016 para analisar a eficácia de duas vacinas que deverão ser administradas em momentos distintos: a ALVAC-HIV (vCP2438) e a Subtipo Bivalente C gp120/MF59.
A primeira opção é uma mistura do vírus da varíola dos canários com parte do HIV, mas que não é capaz de causar a infecção em si. Sua função é alertar o sistema imunológico sobre qual é o inimigo a ser combatido. Já a segunda medicação é feita com pedaços do envelope proteico que envolve o vírus causador da AIDS misturado com o adjuvante M59, que é capaz de turbinar o sistema imunológico para combater a infecção.
Os testes vão ocorrer na África do Sul, que tem 7,7 milhões de soropositivos. A princípio, 5,4 mil pessoas não infectadas farão parte do estudo, divididas em grupos que receberão a vacina ou um placebo. Depois, elas serão monitoradas por 36 meses para ver se a transmissão foi evitada. Estima-se que em 2021 já se tenha uma resposta para isso.
A vantagem desse estudo é que ele adaptou um teste feito em 2009, na Tailândia, e que teve eficácia de 30% — baixa, mas estimulante.
O estudo HVTN 705, também chamado de Imbokodo, prevê a administração de duas injeções. A primeira, programada com um adenovírus combinado com partes do HIV, tem a função de alertar o sistema imunológico sobre qual problema precisa ser enfrentado. A segunda vacina pretende estimular as células de defesa, misturando pedaços do envelope proteico do vírus causador da AIDS com outro tipo de adjuvante, à base de fosfato de alumínio.
A fase de testes foi liberada em outubro de 2017 e foram selecionadas 2,6 mil mulheres saudáveis de 5 países (Malawi, África do Sul, Zâmbia, Zimbábue e Moçambique) para fazer parte do estudo de eficácia. Com idade entre 18 anos e 35 anos e vida sexual ativa, elas estão expostas ao risco no continente que mais sofre com a epidemia da síndrome. Espera-se o resultado do experimento até 2022.
Esse estudo prevê a administração de 4 vacinas ao longo de 1 ano. As 2 primeiras contam com 4 tipos de adenovírus de sorotipo 26 para fornecer antígenos contra o HIV. As aplicações seguintes incluem 2 proteínas solúveis (gp140 trimérica e Clade C) misturadas com o adjuvante de fosfato de alumínio. Uma abordagem bem semelhante ao teste anterior, mas dividida em mais etapas.
Esse teste é patrocinado por um grande laboratório farmacêutico e será testado em diversos países: Argentina, Brasil, Itália, México, Peru, Espanha, Estados Unidos e Polônia.
A liberação para testagem humana ocorreu na metade deste ano, e a expectativa é contar com 3,8 mil homens e pessoas trans entre 18 anos e 60 anos. A eficácia dos testes deve ser divulgada até 2023.
Fontes: Organização Mundial da Saúde, The Lancet, Johnson & Johnson, Forbes, Aidsmap.