Análise de cera de ouvido pode revelar estresse

6 de dezembro de 2020 4 mins. de leitura
Estudo realizado em Londres aponta que secreção oleosa do ouvido pode indicar aumento de cortisol, hormônio liberado pelo corpo em situações de estresse

Pesquisadores do Instituto de Neurociência Cognitiva do University College London, no Reino Unido, desenvolveram um método para medir níveis crônicos de cortisol através das secreções no canal auditivo.

Produzido pelas glândulas suprarrenais, que ficam localizadas acima dos rins, o cortisol é um hormônio com função de ajudar o organismo a reduzir inflamações, manter os níveis de açúcar no sangue e controlar o estresse.

Dispositivo desenvolvido para coleta de secreções
Dispositivo desenvolvido para coleta de secreções. (Fonte: University College London/Divulgação)

O estudo, realizado com 37 pessoas, incluindo homens e mulheres, abre caminho para avanços na forma de diagnosticar condições psiquiátricas, como a depressão. Para colher as amostras de cera, a equipe de pesquisadores precisou desenvolver um dispositivo semelhante a um cotonete, porém maior e com uma espécie de “freio” para impedir uma penetração profunda e evitar danos no canal auditivo.

O psiquiatra Andres Herane-Vives, responsável pela pesquisa, acredita que futuramente sua técnica pode ser usada para monitorar outras substâncias no organismo, como a glicose. 

Em release divulgado à imprensa, declarou que: “Após este estudo piloto bem-sucedido, se nosso dispositivo resistir a um exame mais minucioso em ensaios maiores, esperamos transformar o diagnóstico e o tratamento de milhões de pessoas com depressão ou condições relacionadas ao cortisol, como doença de Addison, síndrome de Cushing e, potencialmente, inúmeras outras condições”.

Andres Herane-Vives utilizando dispositivo para coleta de cera
Andres Herane-Vives utilizando dispositivo para coleta de cera. (Fonte: University College London/Divulgação)

Conhecido como o hormônio da “luta ou fuga”, o cortisol é liberado pelo corpo quando o cérebro envia sinais de alerta em resposta a uma situação de estresse. O cortisol pode influenciar o sono, o sistema digestório a até mesmo o sistema imunológico. Dessa forma, quanto maior o nível de estresse, mais cortisol será liberado pelo corpo levando a um desequilíbrio hormonal.

Porém, a função do cortisol em transtornos, como ansiedade e depressão, ainda não é completamente compreendido na Ciência. Por isso Herane-Vives busca entender, através dessa pesquisa, o que pode indicar níveis elevados ou baixos de cortisol.

A pesquisa ainda está em fase inicial, mas os pesquisadores acreditam que os resultados ajudarão a estabelecer uma “medida biológica objetiva” para as condições psiquiátricas. 

Com isso, pessoas que apresentam sintomas de transtornos de saúde mental teriam seus níveis de cortisol testados para auxiliar um diagnóstico mais preciso, uma vez que atualmente diagnósticos de transtornos e doenças relacionadas à saúde mental são amplamente subjetivos.

Exemplos de benefícios de um diagnóstico mais preciso vão desde a avaliação da necessidade do uso de antidepressivos e, consequentemente, em caso de confirmação dela, a dosagem ideal. 

O objetivo de Herane-Vives com a pesquisa é saber se os níveis crônicos de cortisol em um paciente podem ser medidos através de observação em tecidos do corpo em que se acumulam. Antes de testar a cera de ouvido, o projeto analisou folículos capilares, técnica que foi descartada, pois para esse tipo de análise é necessário utilização de 3 cm de cabelo, medida que nem todos têm ou está disposto a perder.

“Mas os níveis de cortisol na cera do ouvido parecem ser mais estáveis”, segundo o pesquisador. Herane-Vives faz uma analogia com as abelhas, pois elas armazenam açúcar (o mel) em seus favos de cera, onde é preservado em temperatura ambiente.

Assim, os hormônios e outras substâncias são armazenados ao longo do tempo na cera do ouvido, que “produz mais cortisol do que amostras de cabelo”, segundo os pesquisadores.

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Fonte: BBC, BBC – Brasil, University College London.

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