Anticoncepcional masculino por magnetismo: como funciona?

20 de agosto de 2021 4 mins. de leitura
Nanopartículas estimuladas magneticamente permitem aquecer a região pélvica dos homens, inibindo a produção de espermatozoides

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Câncer de colo de útero, câncer de mama, aumento da pressão arterial e trombose: esses são alguns dos possíveis efeitos colaterais dos contraceptivos orais femininos. Por isso, além de métodos não hormonais, como o DIU (dispositivo intrauterino) de cobre, tem-se discutido a viabilidade de criar anticoncepcionais masculinos.

Há argumentos que questionam a eficiência dessa ideia, mas uma equipe de pesquisadores da Universidade de Nantong, na China, acaba de dar mais um passo na direção da criação de dispositivos voltados a homens cisgêneros.

Com ajuda da nanotecnologia, do magnetismo e da condução de calor, os cientistas criaram uma nova solução para evitar a formação de espermatozoides em camundongos.

Conheça o funcionamento da nova tecnologia

O sucesso nos testes em camundongos machos abre a possibilidade de estender a pesquisa a voluntários humanos. (Fonte: Bilanol/Shutterstock)
O sucesso nos testes em camundongos machos abre a possibilidade de estender a pesquisa a voluntários humanos. (Fonte: Bilanol/Shutterstock)

A razão pela qual os mamíferos machos costumam ter um saco escrotal externo é que a temperatura corporal inibe a produção de espermatozoides. Mas e se fosse possível esquentar essa parte do corpo? Esse foi o ponto de partida dos pesquisadores chineses.

Após testes sem sucesso com nanopartículas de ouro, que poderiam ser tóxicas e causavam dor testicular, os cientistas descobriram que a magnetita (óxido de ferro) era eficaz. Ela foi aplicada por via endovenosa, menos invasiva do que a vasectomia, e estimulada magneticamente para se concentrar na região pélvica.

Ainda na fase de testes com camundongos, foram aplicadas duas formas de nanopartículas: uma revestida com polietilenoglicol, que aquecia bem, mas era difícil de manipular com o magnetismo; e outra com ácido cítrico, com comportamento inverso. Além disso, não havia nitidez sobre o tamanho da partícula.

O melhor arranjo encontrado foi uma partícula de 100 nanômetros de diâmetro (tamanho próximo do que tem cada coronavírus). Dessa forma, os camundongos machos que receberam algumas doses ao longo de 48 horas tiveram o testículo aquecido a 40°C e deixaram de produzir espermatozoides por sete dias.

Outro elemento que animou os pesquisadores foi o fato de que, após 60 dias, os ratos voltaram a ter sua capacidade de fecundação no mesmo parâmetro do que o anterior. Por isso, acredita-se que o método possa ser reversível também em outros mamíferos, inclusive seres humanos.

Entenda por que ainda não há contraceptivos masculinos

As mulheres ainda são responsabilizadas pelos cuidados contraceptivos e têm o corpo mais exposto à intervenção científica. (Fonte: JPC-PROD/Shutterstock)
As mulheres ainda são responsabilizadas pelos cuidados contraceptivos e têm o corpo mais exposto à intervenção científica. (Fonte: JPC-PROD/Shutterstock)

Apesar de a notícia ser animadora, um questionamento é frequentemente feito em relação a esse assunto: por que ainda não há anticoncepcionais orais ou intravenosos de uso masculino, mesmo a pílula feminina já tendo sido descoberta há mais de 50 anos?

A resposta para isso passa por uma série de fenômenos, mas é preciso ponderar que ainda há uma divisão sexual sobre os cuidados com o corpo, os filhos e com a própria natalidade.

Segundo um estudo feito por pesquisadoras da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e da Universidade de São Paulo (USP), quase 80% das mulheres ouvidas usavam anticoncepcionais que não dependiam exclusivamente delas, como pílula, injetáveis, DIU ou diafragma. E um número semelhante disse que os companheiros participavam do cuidado contraceptivo, mesmo que isso significasse comprá-los ou usar camisinha em períodos curtos.

Isso demonstra que a vida reprodutiva ainda é identificada como uma demanda a ser observada pelas mulheres, conclusão semelhante a de um estudo de 2019 da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). 

Segundo os pesquisadores da universidade fluminense, diversos argumentos eram usados para justificar a apatia masculina sobre o assunto, a exemplo da quantidade de espermatozoides em relação à ovulação de uma única célula reprodutiva.

O que os estudos da Universidade de Nantong apontam é que esse e outros argumentos biológicos não são decisivos. Portanto, parece que a razão para as décadas de atraso têm fundamentos culturais, sobretudo.     

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Fonte: Forbes, Revista NanoLett, Scielo.

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