substância com ação mais potente contra o câncer de ovário é resultado de parceria entre Brasil, Reino Unido e Itália
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Em 2020, a ciência deu um grande passo para combater o câncer de ovário, através da criação de um novo medicamento à base de paládio — metal raro com alto valor de mercado, que costuma ser utilizado para a fabricação de joias, mas se mostrou assertivo para remover células tumorais.
O trabalho é resultado da pesquisa de doutorado da professora Carolina Gonçalves Oliveira, do Instituto de Química da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Um dos objetivos era buscar alternativas para um dos métodos mais utilizados para a quimioterapia em casos de câncer de ovário: o uso da cisplatina.
A cisplatina é um fármaco eficiente no combate aos tumores de ovário, mas também oferece alguns riscos aos pacientes. O tratamento pode afetar os rins, o sistema nervoso e a audição dos enfermos, visto que não é uma molécula com alto índice de seletividade, o que faz com que ela também comprometa tecidos saudáveis ao tentar combater as células cancerígenas.
O coordenador do estudo — Victor Marcelo Deflon, do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP) — disse em entrevista para a Agência Brasil que o sucesso do paládio em tratamentos se dá por ser um composto que age diretamente na enzima topoisomerase, muito comum em tumores e que aparece na replicação do DNA.
Dessa forma, o paládio é capaz de identificar e combater a replicação rápida das células cancerígenas — ao contrário da cisplatina, que ataca o DNA ao causar mudanças estruturais e impedir que a célula tumoral o copie.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), em média 6.150 casos de câncer de ovário são diagnosticados por ano no Brasil. Com aproximadamente 6 casos em cada 100 mil mulheres, esse tipo de tumor se coloca na oitava colocação dos mais incidentes no País. De acordo com o Sistema de Informação sobre Mortalidade, em 2017 o câncer de ovário foi responsável pela morte de 3.789 mulheres — a maior taxa de óbito para tumores no sistema reprodutor feminino.
O Inca informa que a incidência de tumores no ovário aumenta conforme o avanço da idade. Além disso, infertilidade, histórico familiar e obesidade estão associados a uma maior probabilidade de desenvolver a doença.
O câncer de ovário é um dos mais difíceis de serem diagnosticados. Isso porque não apresenta sintomas nos estágios iniciais e, ainda, não existe um exame específico que seja totalmente conclusivo sobre a possibilidade de um tumor na região.
Sendo assim, o constante acompanhamento ginecológico e conhecimento sobre anomalias no próprio corpo se tornam armas fundamentais no combate a esse tipo de câncer. Ter o conhecimento do histórico familiar também é uma ferramenta para se prevenir no futuro. Ao sinal da primeira anomalia, o médico deve sugerir exames complementares laboratoriais, clínicos e radiológicos para confirmar a presença do tumor no sistema reprodutivo.
O tratamento do câncer de ovário se divide em duas possibilidades: local e sistêmico. Em casos de pequenos tumores localizados em regiões que não afetem o restante do corpo, o tratamento local é efetivo na remoção do câncer através de cirurgia ou radioterapia. Já a opção sistêmica se refere ao uso de medicamentos para combater as células cancerígenas. Administrado por via oral ou diretamente na corrente sanguínea, o tratamento sistêmico agora conta com o composto de paládio para ações mais efetivas.
Fontes: Agência Brasil, Oncoguia, Inca, Drauzio Varella.