Covid-19: como a doença causa perda do olfato? - Summit Saúde

Covid-19: como a doença causa perda do olfato?

1 de setembro de 2020 4 mins. de leitura

Estudo indica que a anosmia causada pelo novo coronavírus não é permanente, pois não danifica os neurônios olfativos presentes no trato respiratório

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Um dos sintomas mais comuns da infecção pelo novo coronavírus é a perda do olfato. Alguns defendem que esse sintoma é ainda mais determinante do que febre ou tosse para identificar os primeiros sinais da covid-19. Cientistas da Universidade de Harvard estudaram como esse processo acontece e descobriram as células olfativas mais vulneráveis ao vírus.

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Por ser um sintoma neurológico, a expectativa era de que os neurônios sensoriais responsáveis por detectarem e transmitirem os cheiros ao cérebro seriam os principais afetados pela doença. Entretanto, os cientistas descobriram que essas células não expressam o gene que codifica a proteína ACE2, que o Sars-CoV-2 utiliza como porta para a infecção celular.

“Nossas descobertas indicam que o novo coronavírus altera o sentido do olfato nos pacientes não infectando diretamente os neurônios, mas afetando a função de células de suporte”, disse Sandeep Robert Datta, professor de Neurobiologia do Instituto Blavatnik e principal autor do estudo, em entrevista ao ScienceDaily.

Perda do olfato é um dos principais sintomas da covid-19. (Fonte: Shutterstock)

Sintoma temporário

O estudo da Universidade de Harvard indica que a anosmia, nome técnico para a perda do olfato, pode não ser permanente. O fato de o novo coronavírus não afetar os neurônios sensoriais pode significar que o paciente pode voltar a sentir os cheiros, mesmo que isso possa levar algum tempo para acontecer.

“Eu acho uma ótima notícia, porque quando a infecção desaparece, os neurônios olfativos não precisam ser substituídos ou reconstruídos do zero”, complementou Datta. Ainda assim, ele explica que são necessários mais estudos, principalmente com pacientes em recuperação do sentido após a cura da doença, para compreender o mecanismo completo.

A recuperação da anosmia após a covid-19 costuma acontecer em poucas semanas, contrastando com o sintoma causado por outros tipos de infecções virais – estas costumam afetar diretamente os neurônios, necessitando de mais tempo.

Novo coronavírus não afeta os neurônios olfativos. (Fonte: Shutterstock)

Estudo dos genes

A análise se concentrou em células nasais e no trato respiratório que possuíam o gene ACE2, o qual codifica a proteína que serve como porta de entrada para o novo coronavírus, bem como o gene TMPRSS2, que codifica uma enzima importante para ocorrer a infecção. Os dois aparecem no epitélio olfativo, que é um tecido localizado no teto da cavidade nasal e o responsável pela detecção dos cheiros. Esse tecido também abriga os neurônios olfativos e outras células de suporte para a compreensão do sentido.

Os cientistas também detectaram que células-tronco do epitélio olfativo expressavam a proteína ACE2 quando induzidas artificialmente, significando uma possível vulnerabilidade maior à infecção pela covid-19. Entretanto, estudos mais aprofundados com esse tipo de célula precisam ser feitos para compreender o quanto isso pode ser um dos responsáveis pela anosmia.

Também foram analisados neurônios no bulbo olfativo, uma estrutura no cérebro que recebe os sinais dos neurônios sensoriais. Eles também não apresentam o ACE2, mas células dos vasos sanguíneos ao redor, responsáveis pela pressão arterial, possuem-no.

Implicações da pesquisa

“A anosmia parece um fenômeno curioso, mas pode ser devastadora para a parcela da população em que ela é persistente”, analisou Datta. O especialista explica que a falta permanente do olfato pode desencadear consequências psicológicas e se tornar um problema de saúde pública, caso surjam muitos casos por conta da covid-19.

O estudo também pode ajudar a compreender como o Sars-CoV-2 pode influenciar nas questões neurológicas e se o nariz age como um depósito do novo coronavírus. Tais compreensões só serão possíveis com novas pesquisas focadas na área.

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Fonte: ScienceDaily.

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