Dexametasona se mostra eficaz na redução de mortes por covid-19

16 de junho de 2020 5 mins. de leitura
No caso de pacientes graves tratados com o corticoide, houve redução de um terço nas mortes

Um estudo clínico feito por cientistas britânicos da Universidade de Oxford, na Inglaterra, concluiu que o tratamento com esteroides em baixas doses de dexametasona foi eficaz na redução de mortes pela covid-19 entre pacientes que necessitavam de tratamento com oxigênio.

Segundo os pesquisadores, os resultados apresentados no site da universidade demonstraram que, entre os pacientes submetidos ao teste que receberam o corticoide, houve uma redução de um terço das mortes.

O ensaio realizado faz parte da iniciativa RECOVERY (Randomised Evaluation of Covid-19 Therapy), considerado o maior teste do mundo, que teve início em março de 2020 com o objetivo de avaliar uma grande variedade de tratamentos potenciais para a covid-19. Cerca de 11,5 mil pacientes se inscreveram em mais de 175 hospitais do NHS, serviço nacional de saúde do Reino Unido.

Produzida pela primeira vez em 1957 e aprovada para uso clínico em 1961, a dexametasona é um corticosteroide de baixo custo que atua como anti-inflamatório e imunossupressor, ou seja, é capaz de inibir a ação do sistema imunológico. Seu funcionamento varia conforme a dose aplicada. É utilizada no tratamento de doenças como reumatismo, dermatites, alergias graves, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), entre outras.

Para os pesquisadores, se a droga tivesse sido utilizada em pacientes do Reino Unido desde o início da pandemia, mais de 5 mil vidas teriam sido poupadas.

A metodologia do teste

Dos 6.425 participantes do ensaio clínico, 2.104 foram escolhidos aleatoriamente para receber, por via oral ou intravenosa, dexametasona 6 mg uma vez ao dia durante dez dias. Aos 4.321 pacientes restantes, que constituíram o grupo de controle, foram disponibilizados apenas os cuidados habituais.

No caso dos pacientes que receberam unicamente os cuidados regulares durante 28 dias, a mortalidade foi mais elevada entre os que necessitaram de ventilação (41%), intermediária entre os que demandaram apenas oxigênio (25%) e reduzida (13%) entre os que não necessitaram de nenhum tipo de intervenção respiratória.

(Fonte: Shutterstock)

Entre os pacientes que receberam a dexametasona, houve redução das mortes em um terço no caso daqueles que utilizavam ventiladores pulmonares, e em um quinto no dos que recebiam apenas oxigênio. Entre os pacientes que não necessitavam de nenhum suporte respiratório, os benefícios não foram considerados significativos.

Esses resultados indicam que uma morte seria evitada no tratamento de oito pacientes ventilados ou cerca de 25 entre aqueles submetidos unicamente ao oxigênio. Por ser considerado um impacto importante para a saúde pública, os autores do estudo estão trabalhando para publicá-lo em detalhes o mais rápido possível.

A palavra dos cientistas

Um dos principais pesquisadores do teste clínico, Peter Horby, professor de doenças infecciosas emergentes do Departamento de Medicina de Nuffield, na Universidade de Oxford, saudou efusivamente o resultado.

Na opinião de Peter, “o benefício da sobrevivência é claro e amplo nestes pacientes que estavam doentes o suficiente para precisar de tratamento com oxigênio. Então, a dexametasona pode agora se tornar padrão no cuidado desses pacientes”. E conclui: “A dexametasona é barata nas prateleiras e pode ser usada imediatamente para salvar vidas ao redor do mundo”.

(Fonte: Shutterstock)

Outro participante da mesma instituição, Martin Landray, professor de medicina e epidemiologia do Departamento de Saúde da População, destacou a importância de tratamentos destinados a melhorar a sobrevida, principalmente de pacientes mais graves.

Pelo fato de a covid-19 ser uma doença global, Landray destaca: “é fantástico que o primeiro tratamento comprovado para reduzir a mortalidade seja um já instantaneamente disponível e acessível no mundo inteiro”.

Reino Unido oficializa o uso da dexametasona

Em um discurso no Parlamento Inglês, o ministro da saúde britânico, Matt Hancock, afirmou que o Reino Unido já iniciou a administração da dexametasona em pacientes com covid-19 no NHS. Reafirma, no entanto, que “não é de forma alguma uma cura, mas sim as melhores notícias que tivemos”.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) saudou o governo britânico e a Universidade de Oxford e considera que a utilização do esteroide dexametsona é um avanço científico na luta contra a pandemia de covid-19.

Os pesquisadores ingleses já compartilharam as ideias preliminares sobre os resultados do estudo com a OMS, que irá analisar esses dados nos próximos dias. A própria agência internacional irá coordenar uma meta-análise para clarificar os detalhes do ensaio clínico a fim de atualizar suas orientações globais de saúde.

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Fontes: University of Oxford e BBC News

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